Como todo o ser humano, tem lugares pelo Brasil e pelo mundo que cultivamos uma vontade sobrenatural para visitar e conhecer. Há quem sonhe fora do país, ou dentro, seja por atrações turísticas ou, simplesmente, por um merecido descanso. Eu não escondo que a história presente nos lugares é o que me vira os olhos, e um destes lugares está aqui dentro de Santa Catarina mesmo: A cidade de Itá.
Localizada no oeste catarinense, Itá é uma pequena e modesta cidade de habitantes de origem européia (italianos ou alemães), tal como grande parte dos municípios catarinenses daquela região e de tantas outras. Mas o que torna a ida à cidade empolgante é o que se esconde embaixo das turvas e esverdeadas águas do Rio Uruguai. É a cidade velha itaense, cujo passado foi sepultado em nome do progresso, deixado as torres da igreja como lembrança constante de um tempo remoto.
Fundada em 7 de janeiro de 1919, na fronteira de SC com o Rio Grande do Sul, Itá se tornou cidade apenas em 1956 e gozava de ser uma pequena cidade do oeste de aparência calma, tranquila e com famílias que tinham na agricultura o sustento do lar. Produtos coloniais, como cachaça, melado de cana, açúcar e frutas como a uva eram a roda motriz da economia. Mas muita coisa mudou a partir do momento que a Eletrosul tinha planos para aquela região donde ficava a cidade. Isto já na década de 80.
A ideia era aproveitar um desnível de 105 metros entre a foz de dois afluentes do Rio Uruguai para construir a Usina Hidrelétrica de Itá. Com a queda, podia se obter ganho de viração das turbinas, o que em miúdos, significa mais energia encaminhada pelos fios, sendo a capacidade instalada total no futuro de 1450 MW. A Eletrosul obteve a concessão de uso daquele trecho do rio em 1983, começando dali um período de 14 anos entre as obras de construção da usina (contando paradas não programadas e atrasos nos trabalhos) e a preparação da cidade para deixar a terrar dos pais que lá viveram.
Indenizações se sucederam, oriundas da prefeitura e da estatal energética, que concediam os valores as famílias para recomeçar a vida em um novo território localizado mais acima da área alagável. Com a construção da cidade nova avançada e a usina quase pronta para operar, deu-se em 1997 o início do desvio do Rio Uruguai e o alagamento já programado da cidade velha, já esvaziada e com clima de fantasma, sendo paulatinamente demolida…
…demolida com a exceção de uma única estrutura em especial: As torres da antiga igreja matriz da cidade (Igreja Matriz São Pedro Apóstolo). Sendo mais altas que o nível final do reservatório que sepulta a cidade velha, a população e entidades empresariais bateram de frente com os construtores da hidrelétrica, exigindo fortemente a manutenção das duas torres como um referencial do antigo município, bem como um referencial para os turistas que viriam a cidade, atraídos pela impressionante história que nascia com aquela obra.
Veja uma matéria do repórter Jailson Angeli, pela TV Concórdia, no Programa César Luiz, em 1997
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O pedido valeu a pena, a prefeitura manteve as estruturas, reformando as torres e construindo, tempos depois, uma pequena ilha para o aporte de visitantes. A obra foi certeira, já que é através das torres que a cidade ficou conhecida no país inteiro. Afinal, uma cidade velha jaz abaixo delas, e a história desta odisseia tornou-se um atrativo a parte para quem lá para.
Passados muitos anos depois, a modesta Itá segue guardando intactas as marcas da colonização e de receptividade do povo acolhedor, marca de quem vive no oeste catarinense. No entanto, quem lá passa não pode deixar incólume perguntar, estudar e, literalmente, mergulhar na história de um passado preservado em duas torres e sepultado pelas águas verdes do Uruguai que, pelo progresso, segue o rumo das turbinas da usina que gera a força que movimenta aquela região.
Sem dúvida alguma, Itá é um dos destinos que mais quero fazer em um futuro próximo. Não apenas pela beleza que a cerca no verde e no clima colonial, mas pelas suas duas torres, que guardam contos de um passado distante, hoje decorados de verde-água e instigadores de curiosidade de muita gente… como eu.
Aguarde, Itá! Um dia estarei por ai!