Em tempos que recordar datas cívicas soa, ou como alienação ou como rótulo de saudosos do regime militar (o que não deveria ser), algumas datas passam batidas nos jornais e em muitos calendários. Muito embora, os valores cívicos e de patriotismo são responsáveis pela construção do povo brasileiro, independente da forma como nossa história foi escrita.
Hoje, por exemplo, muitos desconhecem que o dia 13 de abril é celebrado como o dia do Hino Nacional Brasileiro. A canção-magna do país, que representa brasileiros no esporte, ilustra solenidades e, como deveria, pátios escolares, completa este ano os 95 anos de oficialização, desde as comemorações do centenário da Independência, em 1922.
Curiosamente, o Hino Nacional não foi composto de uma vez só. Nasceu em partes, cuja música juntou-se a letra 78 anos depois da concepção. A melodia, composta pelo maestro Francisco Manuel da Silva, foi executada pela primeira vez em 13 de abril de 1831, no Teatro São Pedro de Alcântara, no Rio de Janeiro.
Até ali, o dito hino era o Hino da Independência, composto pelo próprio imperador D. Pedro I. No entanto, aquele 1831 era um ano conturbado na história política do jovem país e, particularmente, na vida do primeiro monarca.
O império era contestado pela postura repressora e autoritária que exercia, equívocos cometidos também pelo dito Poder Moderador – quarto dos poderes que exercido diretamente por D. Pedro I – e desgastes junto ao exercito contribuíram para o cenário complicado.
Ainda mais, no campo externo, a monarquia absolutista tomava um golpe duro com a interrupção do reinado de Carlos X, na França, sendo substituído por um período conhecido como Monarquia de Julho, de tendencias liberais. Para aumentar ainda mais a pressão sob D. Pedro, seu pai – D. João VI – morre em Lisboa e cabe a Pedro, como herdeiro, retornar a Portugal para assumir o trono e garanti-lo para a filha, Maria, na rivalidade que tinha com o irmão mais novo, D. Miguel.
Para a felicidade de opositores da colônia, inclusive do próprio Francisco Manuel da Silva, D. Pedro abdica do trono em favor do filho, o futuro D. Pedro II, em 7 de abril de 1831. Apenas seis dias depois, é apresentada a canção que, anos mais tarde, seria formalizada como o Hino Nacional.
Mas seriam alguns anos mais tarde até isto acontecer. Até o início do século XX, o Hino era executado sem letra e era o preferido entre o público. Tentou-se colocar uma letra na melodia durante o período regencial, composta por Ovídio Saraiva, porém a composição nunca vingou e a letra caiu no esquecimento.
Nem mesmo na Proclamação da República, em 1889, a melodia caiu. A preferencia de Marechal Deodoro da Fonseca era pela melodia de Francisco Manuel da Silva, mesmo depois da composição de um hino específico em honra a república recém-criada.
Porém, em 1906, um membro do do Instituto Nacional de Música, Alberto Nepomuceno, sugeriu ao então presidente Afonso Pena que fosse feita uma reforma do Hino Nacional, alterando elementos da melodia e, finalmente, acrescentaria uma letra a canção. O presidente concordou e um concurso foi feito para a escolha da letra.
Esta honra coube ao professor e poeta Osório Duque-Estrada, em 1909, num estilo que lembrava muito os poemas do período parnasiano no Brasil, usando-se de sílabas métricas na composição das estrofes. A letra casou bem com o hino, mas ainda se passariam mais 13 anos até ele ser considerado oficial, como o foi nas comemorações do centenário da Independência, em 1922.
No entanto, acredite se quiser, a letra do hino em si só seria oficializada mesmo 49 anos depois, no governo militar do general Emílo Garrastazu Medici, através da lei nº 5700, de 1º de setembro de 1971, que dispõe sobre os Símbolos Nacionais, como o selo, as armas e a bandeira.
De lá para cá, nenhum dos dois elementos sofreu modificações, mas várias bandas e cantores já fizeram versões da música, a começar pela versão de 1974 d’Os Incríveis, recortada em compacto promocional junto com o Hino da Independência para o sabão em pó Rinso. É a primeira regravação do Hino Nacional em outro estilo musical registrada:
Por se tratar de uma poesia com elementos parnasianos e escrita a distantes anos, não é anormal que a letra tenha palavras que você pode estar se entortando para saber o significado. Por isso, segue abaixo, um pequeno dicionário de algumas expressões usadas no Hino Nacional que você possa não saber o significado.
(Professores do primário, não deixem as crianças lerem este post! Sugira a procura do significado destas e de outras expressões do Hino Nacional como atividade em sala de aula!)
Ipiranga: Referencia ao Riacho do Ipiranga em São Paulo, onde, segundo a história contada, foi declarada a Independência do Brasil por D. Pedro, em 7 de setembro de 1822.
Plácidas: Calmas, serenas, tranquilas.
Brado: Grito, clamor, berro.
Retumbante: Ressonante, que provoca eco, estrondoso.
Fúlgidos: Brilhantes, luminosos
Penhor: Equivalente a garantia, segurança. Nos recorda muito o penhor feito na Caixa Econômica, onde se troca por período joias por dinheiro. No sentido figurado da poesia, significa o ato ou palavra que assegura o cumprimento de um compromisso, obrigação, promessa.
Cruzeiro: A constelação do Cruzeiro do Sul.
Resplandece: Vem do verbo resplandecer, que significa brilhar intensamente, rutilar, sobressair.
Impávido: Destemido, corajoso, que não tem ou não aparenta medo.
Esplêndido: Maravilhoso, perfeito, deslumbrante, admirável.
Fulguras: Do verbo fulgurar, que significa emitir ou refletir luz, brilhar. No sentido figurado, diz respeito a distinguir-se dos demais, destacar-se com brilho.
Florão: Enfeite em forma de flor usado nas abóbadas de construções grandiosas. O Brasil seria o ponto mais importante e vistoso da América, naturalmente pelo seu tamanho continental
Novo Mundo: Referencia as Américas, como são conhecidas popularmente nos livros de história
Garrida: Enfeitada, que chama a atenção pela beleza.
Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida no teu seio mais amores : Uma referencia ao famoso poema Canção do Exílio, de Gonçalves Dias.
Lábaro: Estandarte militar usado pelos romanos. Referencia a bandeira nacional
Flâmula: Obviamente, uma bandeira
Clava: Pedaço de pau pesado, mais grosso numa ponta que na outra, usado como arma, porrete.
Sendo assim, quando puder, não se esqueça: Ponha-se em posição de sentido, olhe para a bandeira e cante o Hino Nacional quando assim solicitado em solenidades. E nunca esqueça dele, é a canção maior do país e uma melodia que reúne brasileiros em todos os momentos, até na passagem dos mais cabulosos como os de agora.
(Fontes: Brasil Escola / Kid Bentinho)
André,
O mai belo hino (letra) e música que conheço. Pena que a maioria da população não sabe canta-lo e não honra essa pátria como devia.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história.