Havia um tempo, naquela inocência adolescente de outros idos, que até me permitia acreditar que conviver com o fantasma da Dengue entre vizinhos e esquinas. Soava distante, longe de uma realidade de um Vale que se orgulhava que prevenir-se e, cegado por uma certa arrogância, afirmar que “isto não era de nossa realidade”, e não parecia mesmo.
A Dengue – que em termo português antigo já foi chamado de “o Dengue”, referenciando o mosquito – é aquela lembrança constante de um dos riscos mais latentes de um país tropical: mosquitos do habitat perpetuando seu ciclo de vida e aproveitando-se, naturalmente, dos deslizes que o ser humano causava no ambiente para faze-lo.
As fêmeas saem em busca da vitamina à ela e às larvas, e delas que vem a ameaça semelhante a um caça furtivo invisível ao radar. O humano em volta, saudável e forte, é a presa e, tal como mosquitos como o da outrora temível Malária, deixava na vitima a recordação das complicações de saúde imprevisíveis e que, até hoje, fazem cientistas se debruçar numa forma de frear o mosquitos e suas causas.
E de distante, hoje não há nada que separe a Dengue de quem é ou não de “um lugar nobre”. O desleixo com lixo e água parada é parte de uma preguiça e de uma inação social que, dia a dia, toma conta de comunidades a fio. Lembra a Covid, e quem relativiza pode esquecer este papo raso e coloca-la no mesmo patamar, sobretudo na revoltante falta de cuidado, de profilaxia, do repelente santo de cada dia.
Este escriba datilografa estas linhas ainda com calma e comedido tentando fazer a criatividade e os dedos funcionarem em sincronia após ser mais uma das 2 mil vitimas da Dengue na outrora sã Blumenau. Colhe-se o descaso social com listas e listas de doentes, o temor permanente que pode se estar em qualquer esquina o encontro com o Aedes Aegypti, pagando com a convalescença o desleixo do momento.
Um jornalista talvez deva sentir na pele algumas sensações, mas não querer outras. Esta destes últimos dias apareceu e é tão amarga quando incapacitante. A vida para por completo, variando em períodos de força e fraqueza, atingido sobretudo pelos sintomas mais violentos e variantes de ser para ser. É uma peleia, que pede seus cuidados para não escorregar para uma evolução que signifique mais uma cruz em um cemitério qualquer.
Por isso, não se pode sentar nos “louros” de caixas de soro e medicamentos contra a febre. Não se pensa só em você, mas também nos vizinhos em volta para coibir o voo do mosquito. Limpeza, vigilância, denuncia, ajuda, só mensagens bonitas contra a Dengue não bastam mais, mas ações desprendidas que nos tirem deste olho de furacão temerário em que entramos.
A Dengue está por perto, mesmo que nunca imaginamos um dia. Se cuide e previna-se. É duro lembrar por derradeiro, mas ela mata. Faça o seu.
Melhoras aí, brôu!