Duro admitir, mas o amigo que lê não pode fugir a realidade. Mesmo que, hoje, vocifere e cuspa marimbondos sempre que toca no assunto, você foi moldado, consumiu conteúdo e referenciou a Rede Globo em algum momento da vida, antes ou depois.
Em justa coincidencia que cerca os 60 anos celebrados pela “vênus platinada” de outros idos, a casa dos Marinho chega num misto de alta tecnologia e caminhos incertos. A briga com os canais de streaming, as redes sociais cada vez mais ferozes e as dúvidas que recaem sobre as posturas defendidas a colocam numa sinuca de bico, o fim de uma espécie de monopólio que sustentou por anos sem ser incomodada.
É fato, a vida de todos (sem exceção) foi marcada por algo vindo da Globo. Uma novela emocionante, um momento do esporte, um plantão jornalístico, o que fosse. E inegável é, também, a força do veículo que não conhece limites para inventar e crescer. Para muitos virou o norte, a referencia, o ponto máximo de uma carreira como jornalista, profissional das artes, o que fosse que suscitasse a velha frase “te vi na Globo”.
Mas o que mais me dá motivo de rir é isto: de tanto influenciar, a Globo não sai da boca até mesmo dos que, hoje, a defenestram por ir contra a verdade conveniente. Todos sabemos dos prós e contras da emissora, mas negar e criticar posturas depois de passar anos a esperando com notícias e entretenimento quase que habitualmente chega a ser hilário, como se criticar fosse um sinal da hipocrisia natural dentro do caldeirão da polarização atual.
Você que lê, se grita hoje o já calejado “Globolixo” revoltado, não adianta negar que já gritou por um gol ou por uma vitória na F1 vista lá, ou talvez não perdia a novela por nada, nem mesmo no aniversário de um parente. Odiar e afastar é direito do estado democrático e livre arbítrio, mas negar a influência, mesmo a passada, é impossível.
Por isso, torça-se do outro lado e admita mesmo rangendo os dentes: goste ou não, você assistia a Globo (e, se duvidar, ainda a assiste mesmo sem admitir).
Tempos esses…