O alto

Eu nasci no baixo do lado sul…

Da simplicidade do canto esquecido.

E nunca deixei de sonhar, contido, de chegar onde chego e vou.

Nunca tive luxo, nunca pedi por ele, apenas que o conforto me rodeasse de alguma forma tranquila, assim como a companhia dos amigos feitos de verdade e todo dia.

Eu vim do baixo e procuro o que brilha, de fato, o olhar. Das realizações, das verdades, dos amigos, do amor e do sonho real. Aquele alto que nem sempre é construído sob o pilar da arrogância, do status e de contas bancárias vigorosas.

E, por vezes, olho para o dito “alto” e vejo o pior do ser. Por vezes, maquiado com sorrisos de exaltação, ostentação e felicidade, esquecendo os segredos e desvios humanos em algum canto da vida mundana.

Não existem amigos, mas interesses. Amizades morrem assassinadas. Viram inimigos, trocam farpas com fingida elegância demonstrando a total inaptidão de viver em uma verdadeira sociedade.

Dinheiro, brilhos e estrelismos são feitos para câmeras e egos. Nem todas as viagens mais longínquas significam madureza e conquista de vida, apenas páginas e páginas de fotografias fugazes que se apagam nas verdades além das ilusões.

Lá, habitam sujos, corruptos, vaidosos e falsos. Demonstram um amor baseado no material e na artificialidade, feito para saciar prazeres da carne independente de quão indecente pareça aos olhos sociais que lhe conhecem como o dito “cidadão ou cidadã de bem”.

São pobres… todos eles! A riqueza aqui de baixo é inatingível aos olhos e sentidos do que, do alto, seguem imersos na ilusão das luzes e curtidas.

E enquanto caminho calado, olho assustado, controlando o vômito e pedindo distância do mal que seduz, cerca e nos tira bons corações quando vem o cântico de sereia deste alto.

Eu nasci no baixo do lado sul, na simplicidade do canto esquecido. É lá onde eu, você e quem é de verdade – de coração e vida – vive comigo. E ao alto? O lamento, a pena doida é o riso de alivio.

Lembre-se das tuas origens. Nem todo alto é um mirante de sucesso, mas um passo rápido para a ruína da falsa vida.

E seguimos…

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