Pousou o avião…
Veio em um dia azul, um tanto árido e quente, de calor e corações ansiosos pelo dia que pousaria, ali, um avião.
Pousou o avião…
Por parecer daquelas dádivas que vem de algum lugar celestial, rompendo as nuvens densas que choravam meses atrás incessantemente, afundando pilchas e cuias de mate fresco, trocando o Fundo da Grota por uma constante marcha de tristeza, lama e morte.
Gritam silenciosamente microfones de rádio e TV, fotos e celulares vários procuram no céu aquele pássaro de material compósito planando próximo a um asfalto negro, seco e duro pronto para receber outro beijo emborrachado na chegada ao lar de agora.
Quantos lá dentro olhavam para fora, ávidamente, imaginando das coisas duras e pesadas que aquele povo la embaixo vivera. Chuva, água sobe, gritos, choques, lodo e morte cobrindo cidade e campo. E dias e dias em que a única coisa que passava era a correnteza, mas nunca o tempo e o fim daquilo tudo.
Pousou o avião…
Como pousa uma revoada nas invernadas calmas depois da guerra dos farrapos ou de um gre-nal duro nas quatro linhas. Com a mesma suavidade dos vestidos das prendas doces, jogando beijos e sacudindo lenços nas peleias de outrora, de mate na mão vendo as melenas voando conforme a direção do minuano.
Pousou o avião… e todos respiraram fundo.
É muito mais do que as facilidades daqueles corridos seres, de malas na mão e passos frenéticos. Há poesia em quem sabe enxergar poesia. E distante do barulho estridente de reversores freando o grande pássaro, algum acordeon começava a rasgar alguma nota, talvez pensando num som novo ou dando o caminho do Alegrete.
Pousou o avião…
E a vida não podia nos dar poesia melhor nestes dias qualquer
Bons dias, tchê!