Ah, amigos! Falar do “pai” é fácil demais, diria… Novo Aeon, Sociedade Alternativa, o Paulo Coelho, os amores, as garrafas de whisky, as tantas gravadoras. Raul Seixas merece sim um lugar aqui na nossa contagem de sons favoritos, mas talvez demorei um pouco para achar motivo para colocar ele aqui.
Um motivo forte? Bom, aqui está! Certa feita, trocava um lero com Duda Rocha. Cantora da noite gaúcha, antenada na música – de ontem e de hoje – e uma rebelde em outras searas, ela levantou a peteca dessa coisa de “abrir a mente para o novo”, e fui além: pois o clássico de todo dia tem o seu ponto fora da curva. O que vai mais a fundo naquele disco épico que você vai seco na faixa favorita, sua e de muita gente.
Agora, poucos dias atrás, completaram-se 50 anos do nascimento do primeiro “filho do pai”. Escorraçado da CBS depois de sua ousadia musical com Edy Star, Sergio Sampaio e Miriam Batucada (“Sociedade da Grã-Orden Kavernista Apresenta: Sessão das Dez”), Raul ainda sonhava com um trabalho seu de grande monta e sucesso. E foi no campo da Philips-CBD que o baiano explodiu.
“Krig-Ha, Bandolo”, grito de ataque do Tarzan (“cuidado! Eu te mato!”) foi uma pancada musical que caiu como um meteoro no já respeitado cast musical da Philips naquele começo de anos 1970. Enfim, Raulzito colocou em campo todo seu conhecimento musical, sua finesse na produção e sua acidez nas letras, cantando mensagens que nenhum censor acéfalo entendia (que ótimo!).
Foi uma grande chegada, talvez uma chegada óbvia, esperada. Aquele baiano com cara de carioca tinha alguma coisa pra mostrar, muita mesmo. O que viria nos anos seguintes seria uma sucessão de comprovações de que o Sr. Santos Seixas entendia do riscado, tinha Rock na veia, com uma pitada sutil de brasilidade e um conhecimento da melodia que fazia parecer fácil produzir um disco, sobretudo dentro da sua filosofia, do seu jeito de pensar.
E olha, lembra daquele papo de “óbvio” que comentara com a Duda? Então, eu poderia colocar aqui qualquer faixa badalada do disco, que não são poucas: “Mosca na Sopa”, “Al Capone”, “Metamorfose Ambulante”, “As Minas do Rei Salomão”, “How Could I Know”, “Ouro de Tolo”… tá boa essa pancadaria? Então vou sair do óbvio e ir a uma preferencia minha muito peculiar, catar a terceira faixa do lado B, a igualmente fantástica “Rockixe”.
E a descobri de forma muito inusitada, nestas propagandas da Discovery para divulgar um de seus programas, aquela indagação: “tá, isso é uma musica do Raul?” Então… Uma batida deliciosa, Pop-Rock ornado com uma linha de metais que dá um sabor de “brasilidade” tão peculiar, atrevido, de atitude pura e aquele aviso sutil do bom baiano dando seu recado ao cenário musical de forma veemente: “o que eu quero, eu vou conseguir”
Não a toa, começar o disco com uma antiga gravação do tempo de Raulzito com gosto de Jovem Guarda e cabelo na brilhantina era o sinal: agora sim, a brincadeira ia começar e não iria acabar em 1989.
Até agora, cinco décadas depois, ela ainda não acabou…