Um dia de chuva em Interlagos

Eu acompanho os carrinhos coloridos faz tempo…

Muita coisa mudou desde o tempo de criança, desde as fantasias pueris imaginando corridas ao redor de casa a possibilidade de narrar, ainda que um aprendiz, alguns grandes momentos velozes de nossos dias. A fantasia deu lugar a uma certa seriedade, trouxe um milhão de amigos, mas desilude e coloca os pés no chão.

O automobilismo já foi mais povão em algum momento, mas não se engane: tudo em uma pista gira em torno de status e dinheiro, ainda mais hoje quando tanto se reclama que a emoção de outros tempos não habita mais aqui. Se visita países sem o mínimo de tradição em troca de algumas patacas, convida-se os rostos mais inúteis para se dar voz e luz em troca de curtidas e views, um espetáculo cuja artificialidade não é mais disfarçável.

Estamos cientes disto, a categoria-rainha, por vezes chamada, é o cume máximo disto tudo. Mas, ao redor de nós aprendemos que nem tudo resume-se aos carrinhos coloridos dos tempos de Emerson, Piquet e de Senna. Ayrton, alias, passou de lenda a marca publicitária, talvez num afã visto necessário para perpetuar a história, mesmo que inflando aqui ou exagerando ali. As novas gerações não tiveram a sorte de ver o Béco em ação ao vivo como eu e tantos outros.

Só que, em meio as desilusões do artificial e esdruxulo de uma F1 como a de hoje, a gente meio que se permite emocionar: um carro branco-e-vermelho, um capacete amarelo, uma bandeira do país na mão numa Interlagos encharcada. É familiar, traz lágrimas e arrepios, sensações que os novos tem um gostinho montado mas nós, que crescemos nesta sombra, nos permitimos deixar tremer-se de saudade e recordação, a saudável e verdadeira, claro.

O MP4/5B não foi, exatamente, vencedor em São Paulo com o Béco. O piloto não era um brasileiro mas desde pequeno, na fria Inglaterra que viu um “Da Silva” vencer, realizou um sonho de criança como toda criança o tinha.

Apesar do mercantilismo e dos exageros destes dias de influencers, quem consegue deixar a emoção autêntica verter sabe bem o que sente: o motorsport ainda permite emoções, ainda bem!

E Ayrton, choveu hoje! O tempo estava perfeito!

Deixe uma resposta