Quem mora em outras regiões do Brasil, talvez por certa generalização, as vezes pensa que todo o sul brasileiro é gaúcho. Não se censura, até pelo fato de nós mesmos generalizarmos qualquer pessoa vinda do nordeste como nordestino, independente do estado que de lá vem. Mas, a verdade mesmo é que a identidade gaúcha é única, muito mais pronunciada mesmo no estado extremo da região – o Rio Grande do Sul– e cuja bandeira de três cores foi empunhada por fortes que, um dia, sonharam em ver a então província andar por pernas próprias.
Assim como o 7 de setembro, dia de celebrar a brasilidade conquistada na independência, o dia 20 do mesmo mês tem no cerne a celebração de um povo e de sua tradição, tão marcante e bela quanto o carnaval. É o dia do gaúcho, ponto máximo da celebração dos costumes e história de um povo tão vibrante e forte que, mesmo abaixo das maiores peleias do dia a dia, ainda consegue sorrir e cantar as belezas da querencia amada.
A celebração é parte de uma lembrança de uma das maiores rebeliões de independência dos tempos imperiais. Iniciada em 1835 por motivos mais econômicos do que sociais, a Revolução Farroupilha buscava a independência da então província de São Pedro do Rio Grande do Sul, tornando-a uma república. Motivados pelos ideais do sonhador italiano Guiseppe Garibaldi e tendo o aporte de estancieiros, rastelados pela competição desigual no mercado de charque e couro, a intentona encontrou por 10 anos força para cumprir o plano.
Teve apenas dois presidentes – Bento Gonçalves e Gomes Jardim – e, apesar das melhores das intenções, a instabilidade de governo e os sequentes conflitos com forças imperiais botaram a república por terra em 1845. Foi o fim do sonho, mas não da cultura, que sobreviveu aos campos de peleia e hoje, simbolizada na bandeira e no hino rio-grandense, segue mais viva e presente do que nunca no plural de culturas brasileiro. Exemplo de preservação histórica mais que presente e mostras de que é possível passar a tradição de pai para filho.
O Rio Grande do Sul assim se constituiu, em termos únicos do português e no orgulho da gente que lá vive e que, de alguma forma, carrega modismos e costumes ímpares, sempre causando certa curiosidade em qualquer um, até mesmo de nós, catarinenses, muito acostumados a estas coisas. Chimarrão, churrasco, danças, termos e as canções de bandas de estilo gaúcho ou vindas do estado vizinho, de alguma forma a herança da tradição riscou-se de espora em nossos costumes e a marca por aqui e acolá ficou. Afinal, você fala corriqueiramente pila se referindo a dinheiro sem saber que foi um político gaúcho a inspiração deste termo, você chegou a ler o termo brigadiano ou Brigada Militar referindo-se a Polícia Militar ou policial, sem saber que foi a grande leva de jornalistas gaúchos vindos para Santa Catarina responsável por esta confusão curiosa nos jornais.
Nos Caça-e-Tiro das cidades catarinenses de cultura germânica, o tradicionalismo gaúcho encontrou muito mais do que abrigo, mas lugar para bailar e fazer os maiores vanerões fora do Rio Grande. As belas prendas, de sorriso encantador e vestidos longos a rodar, colorem a pista em giros e giros junto de seus pares enquanto o resto da peonada serve-se da canha no bolicho encostado bem na volta do corredor.
E nos rádios do Vale e em tantos pedaços de Santa Catarina, rodam as grandes canções de compositores inesquecíveis, grupos gigantes na musica e poesia, arranhando melodias que contam a vida simples do gaúcho, domando os tordilhos na invernada ou saracoteando pelos salões nos sábados, tendo na mente o olhar da doce prenda.
Sendo assim neste embalo que A BOINA, colorida pelo tricolor da bandeira gaúcha, lista aqui algumas destas tantas melodias do cancioneiro rio-grandense através dos tempos. É uma homenagem simples a este povo que, com muita honra, é nosso vizinho e compartilhador de costumes e tradições que só ficam cada vez melhores com o passar do tempo.
E vamos lá, tchê!
1 – Hino Rio-Grandense (Francisco Pinto de Fontoura / Joaquim José Mendanha)
2 – Tropeiro Velho (Teixerinha)
3 – É Disso que o Velho Gosta (Berenice Azambuja)
4 – Loira Casada (Adelar Bertussi)
5 – Maragato e Chimango (Mano Lima)
6 – Milonga para as Missões (Renato Borghetti e Arthur Bonillia)
7 – Canto Alegretense (Gaúcho da Fronteira)
8 – Querencia Amada (Osvaldir & Carlos Magrão)
9 – Serrano Cantor (Os Serranos)
10 – Hey Tchê! (Impacto – e com a benção de Nico Fagundes, em 1985!)
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Não esqueça o chimarrão e o churrasco e até o próximo dia do gaúcho!