Repetido a exaustão nos discursos do Vale neste período eleitoral, soa como uma frase vazia e sem compreensão ao menos para quem sabe que sempre o foi desde há muito tempo: “vou defender a liberdade”. É parte de uma cartilha quase padrão entre vários que a colocam como uma das ditas promessas de campanha, na defesa de linhas conservadoras que mais excluem do que unem.
Liberdade, aquela velha palavrinha motivo de amor e ódio, sobretudo quando se leva ao pé da letra a definição de que “a liberdade de um termina aonde interfere na liberdade do outro”. A defesa deste conceito tem sido feita bandeira por setores das eleições como se ela estivesse em ameaça constante, como se uma hipotética ditadura movida por antigos fantasmas ainda fosse possível num país onde a democracia é consolidada – aos trancos e barrancos – desde 1988.
O ponto aqui é ser direto, então sejamos diretos: a busca da tal “liberdade” não se trata de algo simples que nós conhecemos, como o direito de ir e vir, de respirar e se expressar. Neste sentido proposto pelas correntes que buscam prefeituras pelo país, a liberdade perdida é aquela que assistimos querer puxar um país para trás e dividi-lo cada vez mais: a de ofender, desrespeitar, rotular, lacrar ofensivamente, negar ciência e, acredite, separar pessoas com base em uma corrente religiosa.
Nos últimos tempos, com a cada vez mais consciência de uma sociedade plural entre vários rincões do país, especialmente no sempre fechado Vale, a expansão de um pensamento e forma de vida diferente daquele padrão antigo ensinado desde a infância é mostrado como ameaça a um “status quo” social que, a frente de eleitores e autoridades, é defendido como um pilar de salvação, pedido sempre entre orações falsas e gritos de divisão e separação do dito “bem e mal”.
Equivoca-se qualquer um que pense que estamos com nossa liberdade “ameaçada”. O que se prega é aval para aprofundar diferenças com base em conservadorismo e religião. Enraizar este tipo de pensamento partindo da utópica definição de que “não existe racismo”, por exemplo, é uma parte destas defesas distorcidas que angariam votos em nome da irracionalidade. Difícil é comprar este discurso, ao menos para quem pensa.
A tal liberdade de fato, para quem faltou à aula de história, foi conquistada duramente depois de longos 21 anos de ditadura, onde o cerceamento de opinião e expressão podia levar a morte. Hoje, este preceito falha, mas existe, e existe para poder abrir caminho a modos de viver e pensar a vida diferentes e que, juntos, constroem um dia a dia dentro das dificuldades que conhecemos.
Não se trata de reprimir e dar “liberdade” aos que são de um grupo seleto, mas nesta visão atual, de referendar a tacanha ideia de um tipo de tudo: de família, de vida, de credo e de negação as verdades e a ciência. É a nova moeda de troca de votos que virou moda nas eleições e que vai mover votos, sobretudo de classes que se agarram em um credo religioso o misturando com a nefastidão da política.
Não negue: você é livre e não sabe, e o que você defende pode não ser liberdade, mas a oportunidade de rir, agredir e repelir, até mesmo, aquele vizinho que você dá “bom dia” todos os dias. Difícil é pedir para abrir os olhos, e impossível convencer: brigar pelo que se tem é discurso vazio e falta de propostas.
Assim caminha mais uma eleição num Brasil dividido, ainda mais.