Ai ai, amigos… 1º de abril passou…
Na internet ou, até mesmo entre nós na correria dos dias, tem surgido de tudo quando parece ser brincadeira. A realidade é hilariante, agressiva e difícil de se acreditar como qualquer brincadeira que surge pelo caminho entre amigos ou entre aqueles primos pentelhos de todo o dia.
Mas não é de se rir. A realidade é hilariante para não dizer a verdade: temerária. Aquela velha história do acreditar no que convém para não saber da verdade parece tão mais forte do que antes, ainda mais quando o assunto é história. E outra vez, a velha tecla voltou a tona na boca do chanceler nacional, Ernesto Araujo: o nazismo é de esquerda.
Patada clássica nos estudiosos, o ministro de relações exteriores com pinta de jovem rebelde atacou novamente a história original ao argumentar em entrevista ao canal Brasil Paralelo que o regime totalitário comandado por Adolf Hitler e seus fanáticos É muito a tendência da esquerda: pega uma coisa boa, sequestra, perverte e transforma em coisa ruim. Isso tem a ver com o que eu digo que fascismo e nazismo são fenômenos de esquerda.
Patacoadas como essas soam como insanidade, de fato. Até mesmo um jovem desvairado do nosso tão deficiente ensino fundamental (salvas exceções) sabe perfeitamente que o fenômeno iniciado com os camisas negras de Mussolini e estendido na Alemanha pelos nazistas foi fruto de políticas de extrema direita, onde o nacionalismo era aliado a xenofobia, o ódio e o totalitarismo de ideias e ações. Fatos que levariam a morte de milhões de pessoas na Segunda Guerra, o que é mais que sabido.
As palavras do chanceler não passaram desapercebidas pelas orelhas dos jornalistas do principal órgão de comunicação e notícias alemão, a clássica Deutche Welle (DW). Em texto da última quinta-feira (28/03), o canal rebateu veementemente as afirmações do chanceler, sem titubear ou deixar dúvidas: Há décadas não restam mais dúvidas, nos âmbitos acadêmico, social e político, sobre a natureza de extrema direita do nazismo.
As sombras de 1964 (revival)
Enquanto isso, em Brasília… As velhas feridas de 1964 voltaram a ser remexidas quando o presidente Jair Bolsonaro resolveu abrir a caixa das recordações daquele 31 de março infame de nossa história. As ordens de comemoração da Revolução (chame como quiser, aqui opiniões são livres) soaram como uma provocação. Afinal, como enaltecer um período em que, além da estagnação econômica, o país esteve sob a égide do terror instituído em forma de tortura?
É claro e mais do que sabido que as Forças Armadas enxergam sua posição como libertadoras. Não iriam fazer o contrário, óbvio. No entanto, a atitude do presidente só afasta ainda mais as armas nacionais da opinião publica, especialmente quando se toca no assunto mais espinhento e cujas investigações seguem mesmo ameaçadas: os crimes no período ditatorial. Tortura, mortes, desaparecidos… memórias doloridas e impossíveis de serem apagadas em palavras ufanistas.
Distorcer a história ou enaltecer um período controverso dela soa como uma brincadeira de mal gosto. Documentos, compêndios, investigações e tudo mais que possa ser considerado fonte de pesquisa estão a mão de qualquer um para verificação. No entanto, vive-se um momento em que a história que convêm é a verdade absoluta, como se tudo que aconteceu foi invenção de forças opositoras ao governo ou ao estabelechiment.
Como se as palavras de um Olavo de Carvalho fossem mais verdadeiras do que as de um Boris Fausto, vive-se dessa forma com a história e as feridas da memória nacional e mundial: O errado vira certo e toda informação contraria ao que convêm, mesmo embasada, perde crédito diante da insensatez de gente que insiste nas mesmas teses absurdas para justificar suas verdades. Brincadeiras, verdadeiras brincadeiras de mal gosto com o senso crítico, com a memória (mesmo a de períodos escuros de nossa história), com o jornalismo, com o que bem entender.
É, estamos passando pelo 1º de abril. E cuidado, podemos ser os próximos mentirosos.
(… e aguarde, vai ter mais assunto sobre 1964 no ar, fique ligado).