São Paulo, o Brasil de fato. Talvez foi o primeiro choque, a razão crua dos superlativos de uma grande metrópole brasileira vista pela primeira vez por um jornalista interiorano ao pisar na Terra da Garoa a trabalho.
Tive esta experiência no ultimo final de semana, ao ir para a capital paulista para contribuir com a equipe que trouxe ao Brasil as emoções da tradicional 24 horas de Le Mans, na França. Mas quanto a isso, reservo para os meus blogs para contar mais a fundo sobre. O que importa aqui é a cidade, a selva de pedra tão propalada e tão movimentada quanto. O Brasil, de fato.
Aqui no sul, vamos ser francos: temos nossos preconceitos latentes baseados na sangria dos jornalísticos policialescos vespertinos. Os tais “bacia de sangue” que pintam e bordam a violência como se ela fosse a principal presença dentro das esquinas da grande cidade. Ela está lá, numa proporção maior que aqui, mas tomar como conta finita para tachar uma região é um erro crasso de mentes acéfalas.
A ciranda que me levou para lá praticamente me abriu um gatilho que remeteu-me ao sonho antigo de pisar em Sampa. Amigos, história encravada, o gigantismo das coisas, o quebrar barreiras de distância e iniciativa, muitos significados em um trecho tão curto (ironia, claro!) entre Santa Catarina e o sudeste brasileiro. E o tapa na cara dos contrastes direto na face entre uma volta e outra.
Estive hospedado em São Caetano, recolhido na casa simpática da família do meu dileto irmão Milton Rubinho, colega de empreitada e meu cicerone por aquelas esquinas. Entre um papo e outro, era impossível não me pegar perplexo com o deslumbre do cosmopolita e do cruel: a cidade que não para, trânsito sempre terrível, pessoas nas calçadas feito formigas sem parar, tendo em volta a mendicância, os dejetos de uma rotina imparável, parte de uma cruel selva de pedra como qualquer outra metrópole pelo mundo.
A gente costuma colocar isso como uma exclusividade de lá, mas nada que não se vê aqui, pobremente abafado pelas medidas anti-mendicancia e comportamentos opinativos que beiram a xenofobia. Eu vi a crueza da cidade grande escancarada, aquela que víamos na TV cotidianamente, um crônico problema dos grandes centros mundiais, o que é fato.
Mas São Paulo, se resumisse apenas a isto, seria uma mentalização tacanha da terra de Anchieta. Houve uma sinergia, a satisfação comparável ao alcançar o cume de uma montanha, estando diante de tudo que encanta um jornalista jovem no meio do mundo em movimento. Eram as pessoas na sua forma de receber, entre um bom dia efusivo e um “seja bem vindo” caloroso, a constatação que talvez sejamos gelados demais perto do gesto amoroso de acolhimento de um garoto do sul.
Foi muito pouco, admito, pois o trabalho me roubou tempo livre e um pouco mais de ímpeto em correr Sampa. A noite, a caminho dos estúdios dos canais Band Sports, o momento de ver ainda mais detalhes do gigantismo central paulistano. Os grandes viadutos e túneis ferviam. Ao fechar dos vidros do carro, o cuidado extra contra os larápios das esquinas, mas o deslumbramento imediato, era a locomotiva do Brasil dizendo para mim, enfim, quem ela ela (e como se não soubesse).
Por fim, parado diante da plataforma de embarque no Tietê, que me levaria de volta à Blumenau, a mistura de sentimentos fortes e saudosos de um dia de intensa superação: dos medos e do imprevisível. Já ficava o desejo de logo voltar para degustar um pouco mais do que, verdadeiramente, é São Paulo, bem longe dos preconceitos tacanhos que os “catarinas” com o rei na barriga teimam em fazer do alto da parca sabedoria superficial.
Sim, entendi o porquê do coração da minha amiga jornalista Gislaine Delabeneta se apertar tanto ao deixar esse lugar. Ele te convida a ficar e descobrir mais, se sentir paulistano mesmo sem o ser, viver dias inesquecíveis e fincar a própria bandeira de vida em cada ponto de turismo, de passagem, de amizade.
Sim, eu fui para o Brasil e voltei. Logo, a terra da garoa me verá de novo no meio de sua sinfonia diária. Que grandes dias, que grande cidade, isto é (e sempre me foi) São Paulo.