Você, leitor, gostaria que eu, constantemente, lembrasse você do que você fez de errado? Isto independente do tempo que já passou daquele momento errático seu?
Eu não sei, pode ser um maneirismo meu, algo que devesse corrigir de mim mesmo. Particularmente, odeio de forma visceral relembrar meus erros. Eu já devo ter retirado deles as lições que precisava, seja pessoal ou profissionalmente, e a vida deve, tão somente, seguir seu curso com seus acontecimentos e aprendizados.
Sob minha ótica, o ser humano tem essa mania, por vezes incontrolável, de querer recordar de tropeços e erros, por mais tempo que já tenha passado. É quase como um constante lembrete, como se tivéssemos que pegar aquela laranja que esprememos mês passado e tentamos tirar daquele bagaço algum sumo a mais.
Nesse correr da vida, quem percebe falhas em qualquer cenário e tem maturidade para entende-las e aprender com elas sabe muito bem prosseguir sem voltar a estes momentos. Eles doem quando acontecem, mas tão doído quanto é não se livrar deles, por alguma lembrança ou insistente volta a eles, seja pela palavra de alguém ou seu próprio pensamento lhe pregando peças.
Não somos máquinas, somos perfeitamente falíveis e, na linguagem religiosa da coisa, pecadores, mas poucos tiram dos seus escorregões as preciosas lições para serem mais fortes e sábios. Isto faz parte de uma evolução do ser, no que diz respeito a nossa própria compreensão de mundo, convivendo com nossas imperfeições.
Uma virgula: vale a gente dizer que o “maneirismo”, aqueles costumes nossos que integram nossa característica pessoal e não são erros de conduta, por vezes são apontados como erros nossos. Nessa hora, o bom samaritano deveria parar e pensar se não estaríamos querendo moldar o ser a nossa frente aos nossos próprios pensamentos e estilos.
O que falo nestas linhas é essa insistente mania humana de, diante de um erro do semelhante ou seu mesmo, bater martelo constantemente fazendo-o lembrar da lição já lida, sentida, ferida. Todos entendem o velho dito que diz “errar é humano”, mas odeiam a continuação caquética e agressiva que diz que “persistir nele é burrice” e esquecem as marcas que ficam nesta insistência teimosa.
Erramos? Todos erramos! Aprendemos? Poucos aprendem, mas todos podem aprender. Remoemos? No nosso íntimo, o mais breve, mas desejando febrilmente que não nos recordem deles como uma fraqueza nossa, mas que deixem conosco apenas as lições, as tão preciosas lições que não ferem, só servem apenas para nossa própria evolução.
Repense essa mania de querer remoer, seja nós conosco ou com quem está do lado. Siga em frente e deixe o passado para trás. Aprenda e ajude o outro a aprender, sofra se precisa sofrer, mas não recorde o sofrimento como eterna lembrança. Evoluir também passa pelos erros, mas só seguir adiante é que nos faz demonstrar que, de fato, aprendemos.
E, por favor, vamos seguir em frente?
Errar não é problema; insistir teimosamente no erro, sim. Errar e reconhecer o erro é grandeza cada vez mais rara nos tempos atuais.
Belíssima crônica!