Até aonde vai o limite do saudosismo?
Mexendo e pesquisando sobre história há algum tempo, confesso que pela primeira vez me vi pensando nisso. E digo mais: falo sobre este tema voltado ao que trabalho todos os dias, ainda na condição de aprender e ouvir mais: música.
Um dia, num papo descontraído no estúdio, lembro de Beto Xavier me soltar essa pergunta: “você é um saudosista da música?” Ele me questionou com um ar um tanto reprovativo deste comportamento, pelo que consegui pescar. Não demorei, e disparei que “já havia sido”, enquanto um filme passava a minha mente.
Voltei ao estúdio da PG2, lá por 2018. O próprio Cristiano Ritzke tinha me indicado algumas músicas para utilizar durante o Página de Notícias, jornalístico que, naquele ano, passava a conduzir sem a presença de Carlos Henrique no estúdio. Segurar duas horas, entre notícias e entrevistas, era um pequeno desafio, a música se tornava um importante complemento e diferencial.
Só que, conhecendo o toque atualizado da preferencia musical do Tiano, eu tinha que entrar naquela mesma vibe para não destoar do estilo do programa. Ele gostava muito, entre suas preferencias, de algo Folk, e não era incomum ouvir Mumford & Sons, uma sensacional banda britânica que foi, no período que existira, capaz de colocar energia e intensidade no ritmo nascido no campo, muito graças ao vocal poderoso de Marcus Mumford.
Movimento sutil, hábito, e a partir dali abri meu horizonte musical. Você passa a rasgar certos preconceitos para o som que você cultivava muito por pura preguiça em compreender que a música e seus atores e atrizes se reinventam com o passar do tempo, em busca de outras sonoridades, formas de encantar platéias, sejam jovens ou adultos de mentes abertas.
Depois daquela resposta ao Beto, voltei a olhar para trás e ver o quanto tinha descoberto na música e percebido que o agarrar-se ao saudosismo é, em vezes, temor de muita gente ou uma forma de resistência, as vezes tola e tacanha. Até aonde vai o limite do saudosismo? Até onde execrar o novo em proteção do antigo é válido?
Até mesmo o “antigo” tem suas nuances desconhecidas, que surpreendem muitos daqueles tempos de reunião dançante. A verdade é que musica é um jogo de preferencias, mas nunca deve ser uma constante reprovação à evolução.
Você pode não apreciar o Rock do Foo Fighters ou a calidez romântico-pop de um Ed Sheeran, Taylor Swift ou quem for, mas reprovar a qualidade seria como entender que nossa vida parou em um ponto do tempo e tudo que se vive hoje é uma porcaria constante.
Eu mexo com o clássico todo dia, mas é de regra que eu esteja atualizado, me fazendo falta se não estou. No entanto, não suporto mais o discurso anacrônico de que “antigamente era melhor”. Era tanto assim? Tudo em volta é tão ruim assim ou você está apenas se comportando dessa forma como prova de sua resistência ao novo?
E isso inclui tanta coisa além da música, mas fala de pensamentos, evoluções tecnológicas, comportamentos, por ai afora. Tudo disfarçado entre elementos e alegorias, entre elas a música, que navega entre os gostos e sensibilidades, algo que alterna entre os seres. Mas não dá para colocar tudo em uma cesta comum, faz parte da evolução de um ouvido aberto a outros sons, momentos, pensamentos.
Te desafio a não dobrar o ouvido à estas experiências sonoras da atualidade, sejam nacionais ou internacionais. Rasgue seu preconceito e saudosismo atrelado a musica e perceba: o clássico é ótimo, e o que vem a nossa frente também o é, basta deixar-se experimentar para dizer se é bom ou não.
A musica nunca parou no tempo. Como tudo, ela evolui e conquista quem quer a ouvir. E eu me deixei ouvir, simples.
Realmente interessante! Ótima crônica, André. Cabe sim valorizar os clássicos do passado, de olhos abertos no que há no presente. Hoje. Parabéns!