Banda Treml: Encontros e lições

Quando, em 2022, os encontrei pela primeira vez, sabia que tinha que ser “diferenciado”. A trajetória que carregavam era muito maior até mesmo do que a da Oktoberfest, tão jovem perto dos então 109 anos deles.

Sempre levei isso muito a sério com relação ao que faço na responsabilidade a mim confiada com o microfone dos recados no setor: não basta o padrão, saia do roteiro e diga da informação da forma mais compreensível e solta. Quando alguém pisar no palco, faça a trupe sentir-se única, rasgue seda sobre a história, a identidade que carrega, arranque gritos antes da primeira nota musical.

Eles vêm de longe: descem a serra da querida capital dos móveis com a mala de cada um integrante recheada pelo dever de representar não apenas a cidade, mas o de seguir a risca o roteiro da original e inalterável Blasmusik germânica que os norteia nas excursões e concertos. Repito, eles sabem o que é Blumenau antes mesmo da Oktober ser o que é.

O que trago por estas linhas é mais um de meus encontros com a histórica Banda Treml, da querida São Bento do Sul. Ele aconteceu no dia 22 de outubro, naquelas belas coincidências que a maior festa alemã das Américas protagoniza: eu à serviço, eles também. A diferença é de que, nesta feita, não estávamos no mesmo pavilhão, nada que impedisse um encontro emocionado.

Ser locutor de palco neste período festivo talvez nos traga um bom exemplo de que o brasileiro, quando gosta de algo, até mesmo em serviços temporários tenta deixar sua marca e dizer que é possível ser diferente, não seguir estritamente o roteiro. Há pessoas lhe ouvindo, precisando da sua voz e informação, mas não que ela precise ser quadrática e simplória, mas marcante e destacada em um momento de pausa, de relaxo da mente entre um show e outro.

A gente tem esse costume de entrar numa empreitada olhando os benefícios em vez da forma particular de chegar até eles. Qualquer trabalho é um exemplo de que dá para ser diferenciado, usar do seu conhecimento e experiência para fazer algo que surpreenda quem está em volta, seja uma pessoa apenas ou várias. Sempre disse que a valorização é a consequência, e o “fazer diferente” é a marca que você deixa.

Eu deixei algo marcado com a Treml. Como disse: eles vem de longe, conhecem bem essa terra e sua festa, querem ser recebidos com nosso lado afável tão propalado por ai. Então, que se faça essa recepção da forma que nunca esperem. 110 anos, a preservação da autêntica Blasmusik alemã com seus momentos diferenciados (um repertório Pop os acompanha também), vindos de uma terra ao norte do estado conhecida pela indústria moveleira, quer mais atributos para usar no seu momento de trabalho?

Que lição que podemos deixar de um trabalho tão simples quanto anunciar quem vem ao palco? E quem dera se olhássemos nossas empreitadas não apenas pela ótica simplista do dinheiro. A gente que gosta do que faz, em especial, deveria saber muito bem disso: ser diferente, agir com o repertório embaixo do braço, quanta segurança em afirmar-se bom naquilo que se propõe e, ainda, conquistar a amizade de quem você tanto admira…

Em 2023, estamos ai de novo: eu e eles, eles e eu. O traje característico, com a mesma Fuchsgraben Polka que me treme de emoção e aquela gostosa sensação de “ah, como deve ser linda essa São Bento!”. A experiência de vida apenas 40 anos mais jovem que a própria cidade-natal faz uma descida ao Vale ser sempre um inesquecível passeio fora de casa há anos, e a Oktober o parque preferido para surpreender.

110 anos… e, se ano que vem, me cair no colo a chance de os convidar ao palco outra vez, prometo ser diferenciado. A Banda Treml é diferenciada, eles merecem a nossa receptividade tão aconchegante quando um chope gelado, há 110… 110 longos anos…

Danke für alles, meine liebe Banda Treml!

Prosit für São Bento!

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