Houve um tempo, não muito distante da nossa memória, que uma caderneta de saúde bem atualizada com as vacinas era o orgulho de todo pai e mãe de consciência e dedicação com o filho. Tão importante quanto os boletins bimestrais era não perder campanhas de imunização ou atualizar as vacinas, seguindo lições antigas de cuidado e zelo para com eles próprios quando crianças.
Eu, por vezes, me orgulho da dedicação de meus pais cada vez que abro a minha antiga caderneta de vacinação. E que alegria era saber que uma dose simples era responsável por evitar tantos males recorrentes e facilmente combatidos com a imunização. Quantos pereceram antes delas, quantos sucumbiram a falta de informação em tempos antigos, onde até mesmo o regime militar (tão glorificado até hoje por alguns) usava do expediente para promoção de saúde.
Talvez seja essa raiva que eu carrego em linhas nestes dias. A recente onda de decretos politiqueiros que desobrigam a vacinação contra a Covid para a matrícula escolar é puramente isto: uma politicagem municipal tacanha travestida de ideários de Whatsapp, desaprovando a ciência em nome das velhas patacoadas que fazem dos pais dedicados de ontem os negligentes de hoje.
Como se consegue aplaudir tudo isto? Olhar em volta e ver quem nega a vacina o dizer isto com peitos estufados e justificando-se com falas políticas tortas e notícias falsas exaustivamente desmentidas dia a dia é quase um orgulho para tantos. Discurso esse que contamina os debates sérios sobre saúde com a carcomida retórica que vem desde os primeiros tempos da Covid-19 como pandemia decretada pela OMS.
Pior, olhar com desdém para a ciência que lhe garantiu imunidade contra paralisia, tuberculose, difteria, tétano e coqueluche acreditando (as vezes, com bíblias embaixo do braço) que a tecnologia não evolui tanto para produzir imunizantes eficazes e necessários tanto quanto estes que permeavam o passado. Outra das tantas furadas que até mesmo prefeitos tem colocado como motivo para, numa defesa torta da família, desobrigar vacinação.
Mesmo que seja facultativo, como o Ministério da Saúde mesmo o diz, vacina é questão de consciência, de sanidade mental com relação ao cuidado consigo e com os semelhantes. Não é possível que nestes tempos ainda vejamos prefeitos, vereadores e outros agentes colocarem a negação como bandeira de voto, ainda mais em ano de escrutínio municipal a vista. E com certeza, será um dos tantos palanques a ser bradado por estes cidadãos de gravata na “deseducação” de quem os ouve.
É errado, é inconstitucional e mata. Antes que você sucumba por noticias falsas e brados fanáticos, olhe em volta e pense que pode ser você num leito hospitalar ou no cemitério mais próximo. Nunca tivemos tantos métodos para prevenir doenças como a letal e tão próxima Covid, e nunca fomos tão ignorantes para acreditar, da boca do “médico de plenário” que vacina vai contra família e mundo.
Os fantasmas da negação seguem ainda mais vivos e com canetas na mão. Ignore a politicagem, vacine-se e viva, sem mais.