Gaspar, bandas e fanfarras

Gaspar, 14 anos depois…

Ainda sinto o arrepio quando lembro daqueles momentos.

O respiro quase preso na avaliação parada antes do disparo do cronômetro, da entrada e do show.

A tensão palpável quando a divulgação do resultado vinha. E quando o resultado vinha, a explosão, os gritos, o troféu. Vitória ou, bem, convivi (felizmente) com muitas vitórias ante muitas coisas.

O misto próximo a perfeição de musica e competição. Resultados diversos de semanas e semanas de ensaios, preparativos, tensões de bastidores, ansiedade, noites mal dormidas. E se tudo deu certo, ao menos o respiro fundo aparecia na saída do ginásio.

Há quem desdenhe e não aceite ser cultura musical autêntica, mas para quem enverga o manto de sua corporação não é longe da música que se vive, mas dentro dela, intensamente, em cada passo de formação, nota tocada, manobra e acrobacia.

Fui para lá cinco vezes, voltei duas vezes campeão e três vezes vice nas categorias que disputei. Todas elas guardando histórias, lições, momentos entre o deslumbramento e o ranger nervoso dos dentes para que nada destoasse do som e do garbo, que nenhum ponto caísse fora da linha.

Mestre Gian ainda lembra, dias e dias que disparava cronômetros, emulava o “fiscal” e ia as raias da perfeição para que tudo estivesse no prumo. Saíamos, as vezes, sem o aceno de muita gente e voltávamos marchando para casa com um troféu na mão, contra tudo e todos que repetiam em manta o modorrento “fanfarra é coisa para o dia 7”.

Gaspar, o coração do Vale, era o encontro, a troca e aquela ruidosa e saudável rivalidade. O impossível e o possível entre crianças, adolescentes e adultos entregues ao som e a marcialidade.

Amanhecíamos na batida e anoitecíamos com ela. Saíam os pequenos, entravam os adultos, com sua vida entregue à corporação levando famílias e parentes a bater palmas com eles.

E no meio de tudo isto, com a mão puxada para um desafio diferente e 14 anos depois, volto do outro lado da mesa. Cada banda tendo a concentração quebrada no chamado de minha voz tal como a rouca e imponente convocação do velho locutor que colocava ordem no processo naqueles anos passados. Tempos de outros caminhos na profissão, mas que ainda me permitem voltar a ser um destes tantos das fanfarras e bandas do dia.

Faltando algo na lista dos seletos? Onde está Blumenau e seu trabalho musical? Tememos o negativo respaldo ou viramos as costas a um palco respeitado? Vitrinas como estas não podem ficar sem a demonstração de nossa musicalidade escolar. E aponto pedindo aos colegas maestros daqui de casa: não queria ser o único blumenauense nesse meio que tanto já nos premiou no passado.

Noves fora, Gaspar, 14 anos depois. É dia de concurso, de bandas e fanfarras, de gritos de guerra, coreografias, marchas, músicas marciais, vitórias e alegrias.

É sábado de concurso.

E eu voltei!

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