Hoje, tive de parar as máquinas para prestar uma reverencia… e contar uma história, se me permitirem.
Era meados de fevereiro quando, numa manhã de trabalho, resolvi prosseguir com meus contatos junto aos personagens que contariam a história da TV Coligadas no documentário que eu e a querida Soila Freeze estamos produzindo. Havia muitas pessoas conhecidas já conversadas, outras ainda por conhecer e contatar, uma loucura.
O próximo da minha lista era um cidadão cujo nome já soava como música (e, olhe, ele tem até um dobrado com seu nome): Edemir de Souza. Só de entrar em contato com estes personagens da nossa pioneira emissora de TV já dava um arrepio de emoção, embora sempre batia aquele nervosinho teimoso sobre o como seria a recepção do outro lado da linha ?.
Edemir, 75 primaveras, um senhor que, como disse, apenas pelo nome já se podia soar música. Há um sem-número de bandas típicas (ativas ou inativas) no Vale que, se pudessem, beijavam a testa deste cidadão. Nos fins de semana, ele abria as portas da então jovem TV Coligadas para que as bandinhas mostrassem as melodias lindas que tocavam pelos nossos rincões. Era mais um Salve a Banda que começava.
Tão histórico quanto outras atrações da menina dos seus olhos, o programa foi uma vitrine artística típica de importância singular naqueles tempos. Tirou as bandinhas dos salões, caça-e-tiros e onde mais se apresentassem para mostrar seu trabalho para uma audiência de quase um estado inteiro em potencial.
Era a verdadeira Integrações em Festas que Os Futuristas tocavam em bandoneon e metais. Bandinhas de Blumenau, Pomerode, do Alto Vale, do Médio Vale, até mesmo outros cantões catarinenses como Treze Tilias, Joinville e de onde mais viessem, todas espremidas no modesto estúdio da Rua Getúlio Vargas para encantar e embalar as manhãs dos fins de semana.
E, como não podia deixar de ser, muitas histórias ficaram pelo ar, como da bandinha interiorana, cujo baterista, de calça enrolada nos tornozelos e descalço, se encantava vendo o próprio pé aparecendo em um dos monitores do estúdio, praticamente ignorando os protestos desesperados dos colegas de grupo. Só uma de tantas, claro…
Edemir, de voz marcante, grave e gentil, dividia-se entre a TV e o rádio, onde as bandinhas também tinham seu destaque. O Salve a Banda rendeu LP, foi do início ao fim da Coligadas mas não morreu no último programa. Está vivo na mente de quem via o simpático senhor de bigode, sorridente, cujas bandas típicas lhe tem uma gratidão imensa até hoje.
Voltando a ligação, ele atendera, com a mesma voz grave e gentil. Praticamente me senti em casa. A gentileza e alegria com a qual me recebera mesmo por telefone era tamanha que não escapavam risos. Falei-lhe do documentário, ele exultou-se de alegria e estava ansioso para contar o que vivera, que bem dava um livro de trocentas e riquissimas páginas.
Edemir não me era um desconhecido completo. Muito além dos relatos de família e amigos, o velho senhor me foi apresentado de uma forma inusitada pela primeira vez em fins de 2012. Foi ao chegar junto da FAJOMA (Fanfarra da EEB Padre José Maurício), da qual sou maestro, para uma das apresentações do Magia de Natal daquele ano, na Praça Dr. Blumenau, início da Rua XV.
Sentado num dos tantos banquinhos da praça, quase como se desse uma benção a minha fanfarra, lá estava ele. Sorridente, feliz e receptivo como um avô recebe os netos. Foi uma conversa curta demais para tanta história.
O bom amigo e professor Rodrigo Ramos, que estava na coordenação dos trabalhos naquele dia, me atirou a pergunta diante dele: Você deve saber quem é este senhor, não é, André?.
E como! E que dia foi aquele!
Mas esta semana, as bandinhas se calaram ou tocaram uma nota triste. Soube que há alguns dias atrás o experiente e alegre Edemir de Souza, do alto dos 75 anos de histórias e melodias, nos deixou sem aviso, sem uma última canção, uma última história.
Partiu para o retiro dos saudosos carregando consigo lembranças, saudades, muita história e muita música, a nossa música que pela voz e trabalho dele tornou-se conhecida no nosso meio.
E como agradecer tamanha história e presença? Não tive tempo de registra-la, o que me entristece… Mas, de onde estiver, certamente estará sorrindo ao som do dobrado que emprestara o nome…
Salve a Banda! Ou melhor… Salve Edemir! (1941-2017)
André,
Quando soube da morte do grande Edemir de Souza, a tristeza veio logo. Tive o prazer de recebe-lo em nossa residência, onde ele veio me entrevistar. Desde minha juventude ouvia esse grande apresentador, radialista e jornalista com suas bandas e bandinhas. Fez história em nossa Blumenau. Um homem simples, de um caráter espetacular, um homem humilde, com um vozeirão espetacular.
Neste instante fui aos meus CDs e olhar o CD gravado por ele que me presenteou.
Fique com DEUS Edemir, você fez a alegria de muita gente e agora vai encantar a todos junto a DEUS.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.
Parabéns pelo excelente texto, colega jornalista André. Admiro um jovem profissional resgatando uma parte da história do Edemir, que muitas outras homenagens mereceria como radialista e pela bem sucedida passagem na TV Coligadas. Abraço, Michel Imme.