Esse ano o assunto ‘pobreza menstrual’ vem sendo muito comentado pela imprensa. O tema vem tomando conta não apenas dos debates da internet, mas sendo bandeira de muitos políticos do Brasil, que estão abrindo as portas de câmaras e prefeituras para falar sobre a menstruação, um processo natural do corpo feminino, mas ainda cercado de tabu e desinformação.
Papel higiênico, pedaço de folha de jornal, restos de tecido ou até mesmo miolo de pão são itens que acabam sendo utilizados por meninas, adolescentes e mulheres que não tem acesso à produtos de higiene menstrual, como, por exemplo, o absorvente descartável, tão comum nas prateleiras de mercados e farmácias.
Essas mulheres vivem em situação de vulnerabilidade social e acabam tendo que recorrer a outros métodos – inadequados – para conter o sangue da menstruação. Conforme explicam alguns ginecologistas, colocar qualquer produto que não seja especifico para a higiene menstrual pode gerar riscos à saúde, causando infecções e até mesmo infertilidade.
O termo ‘pobreza menstrual’ é utilizado para se referir à esse problema que está presente no mundo todo. Em 2014 a Organização das Nações Unidas (ONU) reconheceu o direito das mulheres à higiene menstrual como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Exatamente porque a pobreza menstrual não está ligada apenas a falta de absorventes, mas também a falta de água.
Além disso, esse problema também afeta a qualidade na educação. Uma pesquisa realizada em 2018 pela marca de absorventes Always apontou que a estimativa é de que meninas e adolescentes podem perder até 45 dias de aula durante todo o ano letivo por conta da menstruação. Para evitar constrangimentos, elas faltam às aulas durante esse período.
Políticas públicas
No meio político, o debate sobre a ‘pobreza menstrual’ iniciou pela deputada federal de São Paulo, Tabata Amaral (PDT), que propôs na Câmara dos Deputados a distribuição gratuita de absorventes em espaços públicos. O debate seguiu pelo país e estados como São Paulo, Maranhão, Ceará, Amapá e Amazonas já preparam a campanha contínua para combater o impacto da pobreza menstrual no acesso escolar. Os estados vão oferecer absorventes íntimos nas escolas para as alunas.
Em Santa Catarina, mais precisamente na região do Médio Vale do Itajaí podemos destacar duas cidades que levantaram o tema: Gaspar e Blumenau. As cidades fizeram uma campanha chamada ‘Ciclo do Bem’ que teve como objetivo arrecadar produtos de higiene menstrual e oferecer para as escolas e ONGs das cidades.
Em Gaspar, durante 30 dias, foram arrecadados quase 400 pacotes de absorventes descartáveis, sendo 4374 unidades, que serão entregues nas sete escolas municipais que possuem o 9º ano. Já em Blumenau, a campanha arrecadou 11.753 absorventes (descartáveis, de pano, coletores, etc). Uma nova rodada será feita em setembro. As cidades ainda não possuem uma política pública contínua das prefeituras.
Comer ou menstruar?
Para quem não vive essa realidade é difícil compreender que uma pessoa não tenha pelo menos de R$ 6 para comprar um pacote do absorvente. Pois é, mas como garantir dignidade menstrual quando falta dinheiro para comer? Muitas famílias tem que escolher entre comprar comida ou garantir produtos de higiene. Infelizmente para quem passa fome, é compreensível que em primeiro lugar esteja o pão, depois, quem sabe, se sobrar, o sabonete.
A gravidade da pobreza menstrual ainda não foi compreendida pela sociedade. Já ouvi alguns comentários como: “daqui a pouco o governo vai ter que dar fraldas”; “nossa, agora até isso? Até absorvente as pessoas querem ganhar?”, como se a menstruação fosse uma escolha na vida das mulheres. Como se pode falar em empatia quando algumas pessoas não conseguem se colocar no lugar do outro?
Higiene menstrual é um direito de TODAS e nós devemos ser livres para menstruar. Que a pauta siga adiante e que possamos falar sobre o assunto e informar toda a comunidade. 🌻🌻