Isto não é querer tornar uma situação de esperança e prova da evolução de nossa ciência (apesar de tudo) em debate político. No entanto, é mais do que justo refletir profundamente sobre a língua grande e a ignorância de muitos diante do que um cientista e pesquisador podem fazer diante do momento de pânico que um país pode passar.
Durante o fim de semana, a notícia de que cientistas brasileiros conseguiram, em tempo recorde (48 horas para ser exato), sequenciar o genoma do temido coronavírus não foi apenas um alento a muita gente preocupada com os próximos capítulos da doença, mas sobretudo uma mostra inconteste do que a ciência é capaz. Um tapa na cara de quem, sem se preocupar em generalizações, refere-se como “turma da balbúrdia estes futuros profissionais que podem estar salvando sua vida.
Para que todos entendam o contexto e o que torna isto deveras importante: o sequenciamento do genoma do coronavírus ajuda na identificação do mesmo e de seu tipo específico, além de contribuir enormemente no desenvolvimento de vacinas, medicamentos e tratamentos mais eficazes. Um processo que, no mundo inteiro, dura em média 15 dias.
O crédito deste feito vai para os cientistas do projeto Cadde, do Instituto Adolfo Lutz, ligado ao Instituto de Medicina Tropical da Faculdade de Medicina da USP e à Universidade de Oxford, e apoiado pela Fapesp e pelo Medical Research Centers, do Reino Unido. E a coordenação da pesquisa é de uma brasileira: a pesquisadora Ester Sabino.
O resultado dessa velocidade já permitiu, por exemplo, identificar que o tipo de vírus encontrado no paciente brasileiro – o único caso confirmado da doença até o momento, vindo da Itália – se assemelha ao de um genoma do coronavírus sequenciado na Alemanha.
Velocidade, agilidade e exatidão, o que mais se precisa para o combate ao vírus chegou rapidamente nas mãos de brasileiros e, agora, pode estar a disposição de vários cientistas em todo o mundo. Não é política, não é superioridade, nenhum destes pontos: é, puramente, pesquisa aplicada, conhecimento brasileiro a serviço de algo que tem nos tirado o sono, apavorado dia a dia com a evolução preocupante dos numeros.
E onde quero chegar com tudo isso? Simples e direto: tantas vezes vemos o desmonte de projetos de pesquisa em vários setores da vida brasileira em detrimento a “economia burra” de recursos ou pela ignorância do pensamento ideológico que apavora qualquer um que defende estes desmontes. Pesquisadores e estudantes nos campos da ciência, história e línguas sentem este tapa dia a dia, esta exclusão que mata mas não sepulta as esperanças do nosso trabalho científico.
Agora é esperar os resultados do que pode vir deste trabalho. É conquista nossa, noticia bem mais relevante do que um simples pós-carnaval e que deve servir de “cala a boca” para quem acredita que cortar recursos e trabalhos no campo da pesquisa acadêmica, histórica e cientifica é a saída para outros problemas.
Temos cientistas, brasilidade e inteligência. Palmas sempre a eles!