Quando digo que uma figura histórica da TV se vai, independente do filão que atua, vale sempre a merecida palma não estou brincando nem atirando no escuro. Muitas vezes, falar a língua que o povo entende vale muito mais do que ser um intelectual irredutível e “chato”. afinal, comunicar as massas e faze-las entender as mensagens – alegres ou tristes – é a base de qualquer comunicador.
Gugu Liberato, no auge dos seus mais de 30 anos de TV, pode-se dizer que chegou ao supra-sumo dessa definição. Tinha seus momentos de jornalista (faculdade que se graduou mais tarde) e animador bem condensados, e foi nesse misto que consagrou-se na televisão brasileira: mesclando a linguagem popular a forma leve e direta de fazer comunicação. Pode ter cometido erros e excessos, mas nada que crucifica-o nessa estrada.
E foi nesse auge, mais precisamente nos fins dos anos 1990, quando as atrações popularescas de domingo eram uma das alternativas de divertimento de um país, que Augusto Liberato fez um pouso aqui mesmo na cidade-jardim. Já era de longe um dos nomes mais lucrativos do mercado brasileiro quando resolveu trazer a cidade as já consagradas Lojas do Gugu (nome “criativo”, não?), já em processo de expansão da rede comercial.
Pelas minhas contas, as Lojas do Gugu surgiram por volta de 1995, no embalo das tantas atividades comerciais que rodeavam o apresentador desde os anos 1980. Era uma espécie de loja de utilidades que vendia desde o trivial até eletroeletrônicos e CDs. Com algumas filiais próprias, Gugu pensava em atuar também no sistema de franquias, e naqueles tempos, os planos eram muito ambiciosos.
O próprio gerente do franchising de Gugu, Júlio Pires, já tachava em matéria da Folha de São Paulo de dezembro de 1997 as intenções da empresa: “Queremos crescer muito no Brasil inteiro. Não temos limite de lojas. O céu é o limite”. E nessa roda é que entra a provinciana Blumenau, que naquele 1996 ainda tinha traços nostálgicos e desprendia-se de marcas oitentistas presas em esquinas e elementos diários.
Foi naquele 1996 que a cidade entrou na mira de Gugu, que abriu em meados de dezembro uma das duas lojas-piloto desse novo sistema no antigo Continental Outlet Center, um shopping localizado as margens da Rua 2 de Setembro, nos caminhos da rodoviária.
Para os perdidos de plantão, o local que já foi a Policlínica, é o Centro de Saúde Rosânia Machado Pereira. O Continental, de fato, nem dava pra se dizer que era, exatamente, um shopping. Naquele febre deste tipo de comércio nos anos 1990, o local era como um condomínio comercial reservado a vários tipos de lojas. E, curiosamente, foi ali que Gugu e seus empresários encontraram um lugar para aplicar seu plano aqui na terrinha.
E o anuncio da chegada do empreendimento na cidade causou estardalhaço, prova do momento que Gugu vivia na comunicação. Vagamente, a lembrança vai para aqueles idos. Difícil explicar em detalhes, mas é possível recordar do hipe provocado, e não foi a toa: era um sábado de chuva quando as Lojas do Gugu chegaram a Blumenau, e com o plus que causou o arrepio: o próprio Gugu estaria na cidade para a abertura. Foi o que aconteceu e, naquele dia, o Continental viu o seu maior público que jamais teria.
Minha madrinha, Maria Julia Boos, estava lá naquele sábado. Foi levada pelo filho, que não se furtou a tirar o carro da garagem em um dia de chuva para que ela visse o apresentador olho no olho. Ela ainda recorda-se de alguns fragmentos daquele dia, sendo um deles o momento que Gugu a cumprimentara mão a mão simpaticamente.
A lotação se seguiu nos dias anteriores a passagem de Gugu por lá. A BOINA foi até o Continental naqueles idos no domingo seguinte e ainda era um movimento expressivo naquele local. E teve de tudo, até mesmo uma queda de luz no meio da tarde, deixando todo o Continental no escuro. Era tempo de natal, e a memoria traz a recordação várias e várias sacolas de enfeites compradas naquele dia por la.
As lojas tiveram certo fôlego, mas em 2002, Gugu tinha outros planos e passou o controle das lojas ao empresário Stavros Frangoulidis por um valor não revelado à época. O plano do novo dono era ampliar a rede e investir em vendas por internet e televendas aproveitando-se ainda da marca mercadológica de Gugu. Sem resultado, a marca desapareceu tão depressa quanto surgira.
Já em Blumenau, as Lojas do Gugu não duraram muito, assim como o próprio Continental Outlet Center, que fechou as portas no início dos anos 2000 por baixo movimento. Talvez esperava um incremento que a Ponte do Tamarindo – naquele tempo em construção – traria para o empreendimento, mas os resultados disso só viriam muitos anos depois, no desenvolvimento da parte norte da cidade. O local ainda abrigou a policlínica Lindolf Bell até 2007 para, depois, tornar-se o Centro de Saúde Rosania Machado Pereira. Ainda havia uma filial no Beira Rio Shopping, que vingou mais tempo mas desapareceu anos depois.
A única lembrança daquele dia – a exceção de alguma foto perdida em um álbum de um blumenauense – é este adesivo que destaca a matéria, dado aos montes no dia da visita de Gugu. Um dos tantos que minha madrinha tem guardado ainda hoje na gaveta da cozinha e que, agora, tornam-se elementos de um tempo passado, de alguém que deixou sua marca na história da TV e, claro, nos contos do passado de Blumenau.