Antigamente: O Mausoléu e os “dias de trovão” de 1974

Uma comunidade dividida, uma classe política e empresarial decidida, colunistas de jornal vociferando pelo sim e pelo não. São apenas alguns flashes de um dos momentos mais históricos, mas também, mais folclóricos de Blumenau. Não é a toa que o dito das ruas de que “blumenauense adora uma polêmica” é verdadeiro. Vem de tempos, e a história não deixa mentir nos seus tantos fatos, como este que completa 45 anos em 2019.

Chaveiro com o logo do Sesquicentenário da Imigração Alemã no Brasil, comemorado em 1974 Reprodução)

Em 1974, a cidade se unia a tantas outras de origem germânica para a celebração do sesquicentenário da imigração alemã. Era o tempo propício para que o corpo do pai da terra, Dr. Hermann Blumenau, voltasse, junto dos familiares, para a cidade que fundou. Mas, será que o povo queria isto? Era o começo da luta entre os apoiadores e detratores do Mausoléu, guerra urbana que só terminaria – e sem feridos – na manhã chuvosa de 2 de setembro daquele ano, quando o fundador e a família voltavam para a terra que haviam fundado.

Para compreensão, Dr. Blumenau deixou a cidade quatro anos após a instalação do município, em 1880 (extra-oficialmente, postergada para 1883 por conta da enchente no mesmo ano). Vivia desde 1884 em Braunschweig, Alemanha, junto da mulher Bertha e dos três filhos, até falecer em outubro de 1899, aos 79 anos de idade. Ele foi sepultado na mesma Braunschweig, onde lá se encontrava até os fatos advindos de 1974.

O cortejo dos restos do fundador e família pelo Itajaí-Açu, em 1974. Um dia de chuva que marcava o fim de uma batalha ideológica e verbal (Antigamente em Blumenau)

O desejo de trazer de lá os restos mortais da família era algo que permeava a mente de historiadores e políticos blumenauenses há tempos, sempre acompanhado de debates calorosos sobre a real necessidade desta vinda. No entanto, eis que chega 1974, ano do sesquicentenário da imigração alemã no Brasil e exatos 90 anos que o fundador partira do município. Para os entusiastas, era hora de Hermann voltar, o que então bateram o pé e decidiram os maçons (Dr. Blumenau era maçônico), os Lions Clube, historiadores e classe política, juntando na roda o então prefeito Félix Theiss.

No entanto, O “querer trazer” era fácil, mas enfrentar os dilemas da população provaria ser o obstáculo mais difícil na empreitada. Os debates entre os blumenauenes aumentava a medida que os dias passavam e que o Mausoléu era erguido. Nos jornais, o principal meio de transmissão de argumentos dos contrários a construção do espaço e a vinda do fundador. Falava-se em obras de maior necessidade, como pavimentação, melhorias no trânsito, rede de abastecimento de água, entre outros.

Ainda fresco nos anos 70, o Mausoléu virava ponto turístico depois de debates ferozes entre favoráveis e contrários a construção (Antigamente em Blumenau)

Nas colunas de jornal, uma enxurrada de textos e notas vociferavam contra a empreitada, como o dos desconhecidos José Bocaiúva e Túlio Maraschino, ambos pseudônimos de autor desconhecido (?). O então Serviço de Imprensa da Prefeitura (SIP) estava na linha de frente da defesa e tentava contra-atacar com os mais mirabolantes argumentos favoráveis, mesmo que muitas vezes abusava no ufanismo e deixava escorregar as alianças e preferencias.

De batalha em batalha, nos jornais e debates, a intenção da obra continuava seguindo o curso traçado até a conclusão das instalações do Mausoléu, que aguardaram até o dia 2 de setembro daquele turbulento 1974. Chovia muito, mas nada que impedisse a volta do fundador e família a cidade, primeiro numa pequena balsa pelo Itajaí-Açu, para depois seguir em cortejo pela Rua XV até o destino final, onde encontra-se até hoje, 45 anos depois.

Um pequeno filme, de autoria Werner Tonjes, mostra um pouco daquele momento. Veja:

Hoje, o inocente blumenauense que passa incólume pelo lugar e que não viveu aqueles dias, pode não imaginar, mas as bases de um debate cidadão sobre os problemas da cidade começavam por intenção do tímido Mausoléu lá instalado. Dr. Blumenau e família repousam calidamente na beira do ribeirão Garcia, a sombra da cidade que corre o dia no trabalho constante, em paz desde 18… ou melhor, 1974.

Quem quiser os visitar, o Mausoléu é aberto a visitação de segunda a domingo, inclusive feriados, das 10h às 16h, também sediando interessantes exposições.

2 comentários em “Antigamente: O Mausoléu e os “dias de trovão” de 1974”

  1. Pingback: Antigamente: Cliques do passado blumenauense (parte I) | A Boina

  2. Complementando como adendo ao comentário acima:
    A estátua peregrina de dr. Blumenau https://adalbertoday.blogspot.com/2011/02/estatua-peregrina-de-dr-blumenau.html esteve na Alameda Rio Branco de 1940 até 1950 , quando na passagem de comemoração do centenário de Blumenau, foi transferida para a Praça d. Blumenau, para os descontentes de plantão não era bem visto, pois a estátua do fundador dava as “costas para o rio?”. Permaneceu neste local até 1967, quando foi transferido para a entrada da Alameda Duque de Caxias (Rua das Palmeiras) até ser transferida em definitivo ao lado do Mausoléu da família Blumenau. Em outubro de 1999, para marcar o centenário da morte do Dr. Blumenau, nova remoção da estátua. Obs: Na noite de 10/8/1998 a escultura foi removida para o interior do Mausoléu Dr. Blumenau, então fechado ao público, objetivando sua limpeza e conservação, para posteriormente ser assentada no pátio defronte ao referido Mausoléu.
    A partir de então, o Dr. Blumenau tomou conta do espaço em frente ao “Mausoléu”, onde repousam seus restos mortais e os de sua família.
    Adalberto Day Cientista Social e Pesquisador da história em Blumenau.

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