As mãos de Stéfani

Coloquei um Dick Farney para rodar nos fones… ele sempre me acalma, ainda mais pra escrever linhas desta forma…

E eu prometi a mim mesmo que este não seria um simples e corriqueiro descritivo de uma sessão de massoterapia. Seria pobre demais em escrito para algo que pode transcender do sentido literal da massagem, e tem mais.

Arte antiga, dominada por poucos que entendem que o toque, as ações e técnicas são bem além do processo: elas tem a ver com calma, cura, um misto de relaxo e trabalho muscular feito de curvas, apertos gentis, idas e vindas que o corpo entende bem e sabe onde está seus pontos.

Tensão? Que palavra esta que ouvimos e não sentimos? O massoterapeuta… ou, ah! A massoterapeuta sabe, sabe muito bem. Parece que tem toque mágico nos seus sentires. Decifra o acumulo desta tensão invisível que nos aparece dia a dia

Deixei-me confiar nas mãos de Stéfani. Amizade antiga e preciosa, daquelas que guardamos no relicário do coração. O sorriso e calor da recepção não mudaram um centímetro. Já fazia uns quatro anos sem conversas e risos. Essas correrias da vida para cada lado fazem coisas, sabe?

Orgulhoso eu? Estava e muito! Ver aonde esta moça vinda daqueles campos gaúchos de Ijuí se tornou. Sempre teve um lado sensitivo fascinante, que instiga a curiosidade dos céticos. A maturidade, o profissionalismo em cada passada do ponteiro dos minutos foi incrível, Talvez os primeiros atendimentos ainda estejam a moldando nesse modo de comunicar, é natural, mas para mim, a tranquilidade de um reencontro tranquilizador.

Aquele lugar no canto mais silencioso e leve do bairro das Capitais já era um antigo confidente meu. A doce Maristela, a Bert Hellinger daquele pedaço de chão, sabe muito bem disto. Ela foi capaz de muito: de desenterrar o passado de meu seio familiar a me colocar num relaxante sono mesmo na mesa de operação de rádio nos meus tempos de Timbó.

Enfim, o tema eram as mãos de Stéfani, e confesso que este escriba não podia esconder o nervosismo. Uma experiência, digamos, original. Uma espécie de troca agradável e até necessária: seriam 32 anos acumulados de tensões nessa vida?

Mas a moça sabia disso muito bem. Quando um ser empenha-se, a gente percebe nos primeiros bê-á-bás que ouve, nos primeiros movimentos para desligar disjuntores e se conectar no objetivo do encontro. A hora de colocar a amizade na cadeira ao lado e deixar-se levar pelo toque que cura, relaxa, encontra estes benditos pontos que nunca sabemos.

Ela sabia… está sabendo bem! E conseguir colocar um profissional de rádio ligado no 220 em modo stand-by é uma proeza. Palavras que mesclam um papo leve sobre as vidas de ambos a uma verdadeira didática das coisas. E o nervosismo de antes se foi no aroma e no cremoso da uva sob a cútis.

E a cútis, essa testemunha em êxtase, respirando pelos poros que dizendo “que delícia!” a cada gentil toque da massoterapeuta feita que estava diante de mim. Pontos que os populares abriam a boca dizendo “nervos embolados” viraram contraturas com rápida incisão. Me fez lembrar, vagamente, aquele olhar sobre-humano de Zé Arigó, quando seu canivete achava quase que por telepatia a doença.

E no bailar das mãos de Stéfani assim fui desligando as reservas. Talvez seja isso que tanto falam de “relaxar pra valer”. Meia-luz, palavras de conforto, uma pena que uma hora passe tão rápido, as sensações são inigualáveis, sobretudo se quem está ali diante de suas tensões já lhe diz claramente com a voz que você bem conhece e que você já ouviu falar as mesmas coisas tempos atrás: “eu gosto de fazer o bem as pessoas”.

E para os céticos que pensam maldizeres sobre a massoterapia, proclamo aqui meu cala a boca solene e uma real mudança do seu pensamento, pois vossas senhorias não fazem ideia do que é este processo sem ser pela ótica distorcida do toque humano. Aprendam que há mãos, como as de Stéfani, que fazem a sensível diferença entre o fardo de mármore dos dias e o toque de pluma de uma hora válido para tempos até o próximo encontro de paz.

Próximo? Claro e sem dúvida! E com aquele mesmo ar da moça sonhadora, Stéfani me fez questão de lembrar que “virei cliente”. Por sim! Nem precisava pedir pois trocas deste tamanho fazem um bem que é sentido não só nos músculos revirados e na cútis levemente tocada por uva, o coração e a mente em paz agradecem.

Saí com um leve ar de “embriaguez sem vinho” da pequena maca. E sai sorrindo, meio tonto mas com uma sensação que talvez igual não senti em algum momento da vida: paz, calma, serenidade, tranquilidade, leveza, parecia que tinha ido de uma cachoeira à beira de uma praia em uma hora, numa viagem cósmica.

Enfim… eu disse que não seria uma descrição simples de um atendimento. Este jornalista não faz linhas curtas, agradece em frases com nuances poéticas e gratas. A amiga que esquentava o coração com risos agora é capaz de acalmar as ondas hertzianas de um garoto do rádio…

A culpada? A boa culpada? As mãos de Stéfani… por hoje, foi isso! Até fevereiro, e que chegue logo!

Gratidão! Gratidão! Gratidão! Investir na vida nunca foi tão cheio de amizade e significado… gratidão!

(P.S.: Ela dizia: “você vai querer muito uma outra sessão!”. Putz, não é que a Sté tava certa… de novo?!)

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