Diário de bordo: A sábia maruja e a tentação da jovem sereia

(PART: Camila Klitzke)

Camila Klitzke

Neste mar revolto que a vida nos apresenta, somos levados constantemente a cair em bolsões de correnteza, ilhas misteriosas e rochas que teimam em querer fazer-nos afundar na dita incerteza. Rolam sentimentos, temores, raivas pelas frustrações, sobretudo quando elas envolvem a carne do coração pulsando por uma sereia brincalhona, marota, garota demais.

E nesta flutuação de nosso barco da vida, entre ventos contrários e ameaças de intempéries maiores, sempre há o imediato certo que corre em busca da vela solta para nos aportar outro norte, além de nos puxar a realidade e dar o tapa na cara necessário nos falsos presságios. Uma lucidez forçada, necessária, libertária, forte.

De volta aos tempos do “liceu” neste blog, voltamos a ter a presença da inestimada Camila Klitzke, em novos versos e recordações poéticas que conectam-se as recentes produções deste escriba, imerso em amores e devaneios e que, ao voltar a lucidez pelo toque amigo da fiel maruja, recobra a consciência, dá o recado final e volta a navegar.

Com vocês, uma sequencia poética muito especial. Pois nada melhor do que o cheiro de mar para nos inspirar a ser mais fortes, mesmo diante das decepções do velho sonho: o amor.


O MAR E ELA
André Bonomini

Eu te vi no mar
Cercada pelo sol na areia
Era plena, simples, moldada
Perfeitamente curva, delineada
Pelo sol, a pino, contornada

Vi teu desenho
Perfeita combinação das pequenas dunas
Sob a pele, descrevo o claro dia
Que inveja de rasgar folhas
De te ver fazer bolhas
No drink que bebia

Testemunha o mar
O balanço de tuas madeixas
Musa, pele branca, que se deixas
Arrepiar-te pela brisa variante
Quando curvas tuas passadas
Naquelas areias molhadas

Então o mar te tocou
A gentileza de massagear tuas curvas
Observo como pintor distante, dolente
Fantasia de corpo imaginário, presente
Assisto o mar te passear
Águas salgadas
Peles minimamente morenadas
O sol teima em não te bronzear

Te vejo no mar
Contigo, simplesmente brincar
E imagino minha mão como a água
Maroto, toque na cintura,
Dançar
Te aproximar a milímetros dos lábios
Passear, como a água, nos teus contornos
Nos teus atributos, teus adornos
Deixar esse arrepio te consumir
Ouvir sussurros
Suspirar

E eu te vi no mar
Que vontade de te tocar
Parece lenda esculpida
Cabeça, pescoço, peito
Perna, tua área, teus pés
A perfeita dança do verão
Quem dera ser teu par
Ser um complemento
Deste sol que tu me és

Eu te vi no mar …


CANTO DA SEREIA
Camila Klitzke

Você me dá o poder
[de cantar para os seus ouvidos!

Eu sempre te acesso
Não sou sombra
Nem sou luz
Sou memória!

Estou cravada e fixada no seu coração
Amores vividos são melodias
[que o próprio coração canta
Porque ele não segue a razão

Celestial são só os turbantes de esmeralda de Atlantis
Eu nasço em um país diferente do seu
O amor não deve ser conquistado
[ou invadido com fusão desejosa física
Ele é imaginativo e sentido

Amar é entender que sua membrana emocional será rompida
Mas ela não é a morte.
Não é fogo
Não é ar
Não é terra
Não é água
É Renascimento!

Não me entenda
Não me modifique
Me aceite!
A minha arte de amar não combina com o seu medo

Eu brinco com os seus pensamentos
Pois é na criatividade que mora as coisas mais doces
Me tenha em mente…
Me leve para as profundezas!
Me expresse em todas as vezes que sua voz falar

Eu estarei com você!
Estarei entrelaçada não de corpo…
Estava…
Estou…
Estarei…

D’ Alma


ENCRUZILHADA
Camila Klitzke

Eu lhe digo, meu querido amigo!
O que seria do mundo
[se o coração do poeta
[não queimasse na brasa?

Se a melancolia noturna
[não nos provocasse
Levando-nos a beira do declínio!

A alma poeta é o segredo
[mais profundo do oceano
E eu te garanto!
São muitas viagens até lá
Por enquanto, meu grande amigo!
De cafés matinais
Eu suplico

Não espere, no porto, a amada
Pois todo bom marinheiro sabe
Que, no peito, se encontra a mesma encruzilhada!
Entende que todas as pérolas
[existe a abençoada!
Aquela que não se explica no mapa
[e em nenhuma coordenada

Navegue, meu amigo!
Pois toda história épica
É encontrada nas melodias mais cantadas!


RAIVOSA SEDUÇÃO (MUITO GAROTA)
André Bonomini

Olha, deixa pra lá..
És muito moça
Muito garota
Sorri de boba
Consegue me chamar

Mas, pena
Sou eu outro homem
Destes que não falam que “comem”
Não me desmonta
Mas ainda irrito, garota
Dizes sufocada
Nessa ciranda entediada
Ansiando me derrubar?

Eu, irritado
Morto está o ser tapeado
Quebro meu copo ao rever-te
Nestas curvas esculpidas
Nestas flutuações vazias
Falas de ti, esquece de mim
Quer saber? Fala pro espelho
Cê se satisfaz melhor assim
Faz teu puf! Estoura!

Cê não vai entender
E quando olhar, perceber
Que raios é esse tal de calor
Quando um quer, você dorme
Quando cresce, você esfria
Se fala, se esquiva

Que tipo de ser, pequena
Que engana, se envolve
Depois corre, grita, se sufoca
Apequena essa estória de mentira?
Uma vez, tudo bem, voltei
Duas vezes, rasgo tudo, parto
Acho que me cansei

Escuta, uma vez, agora!
Para de provocar meu instinto
Diante da lua, um golpe
Colo-te em meu corpo, sem reserva
Sem medo do olhar chocado
Encaro-te na calada noturna
Te pergunto, entre bocas coladas
Vamos parar com falas enroladas?

E maroto, mãos na tua cintura nua
A subir, diante da tua pele crua
Arrepio surpreso
Calor nervoso, colados, ansiosos
Devaneio! Engano seu! tenso!
Largo-te antes que possa sorrir
És muito garota
Quando sorri de boba
Não vai me chamar

Quer a mim conhecer?
Sabe onde encontrar?
Quer viver?
Se vire!
Sumo no escuro da sua mente
Enquanto ainda você sente
O que quer, o que excita como mulher

Mas talvez, deixa pra lá..
És muito moça
Muito garota
E sorri de boba
Será que consegue me chamar?

(Dedicado a alguém) 

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