Nas várias letras compostas ao lado de Erasmo, Roberto Carlos disse, uma certa vez: “eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”.
Permito-me discordar do Rei, mas acho que por vezes, ter “um milhão” não é a certeza de se sentir bem acompanhado, acarinhado por tantos. De “um milhão”, nem 5% talvez sejam os grandes amigos e amigas que a vida dá ao ser humano em sua existência, isto se ele é extrovertido e se permite estar no meio social.
Não é uma birra por alguém a qual estas linhas vão, mas uma reflexão sobre nosso meio e como temos a insana mania, seja na amizade ou no amor, de irmos atrás de quem não nos dá a reciprocidade no convívio. Os tempos pós-pandemia talvez tenham aberto ainda mais essa brecha para raciocinarmos sobre o assunto, quantos a nossa volta são realmente importantes para nós? Quantos podemos descartar e seguir o passo sem olhar para trás?
Essa seletividade não é algo que oriunda de uma arrogância. Muitos podem confundir isso no ato, mas descende sim de uma evolução própria de qualquer um. Uma hora, dentre tantos encontros da vida, a gente cansa de tudo isso. Poucos percebem, poucos notam esse movimento na vida e continuam no mesmo murro em ponta de faca, infelizes e crentes em ilusões.
Conto nos dedos quantas vezes isto aconteceu comigo de fato: desencontros, falta de iniciativa, mágoas bestas e, pelo tempo, superadas; descompromisso, esquecimento natural. Sinais sutis de que a relação de amizade não é a mesma. Você se ilude, entra numa espiral de busca pelos porquês, não sossega sem entender o óbvio, que o tempo se encarregou de encerrar algo que, muito certamente, tinha uma base nada sólida.
As pessoas tem, de alguma forma, ressignificado suas relações no pós-pandemia, buscado evoluir quanto ao vazio que algumas deixam pelo caminho e entrado mais em si, no autocuidado verdadeiro para se ver longe da solidão. Funciona em qualquer esfera, liberta profundamente o seres quando acontece. Não é fácil entender, mas só o tempo e suas nuances que são capazes de fazer compreender os movimentos no fim de uma estrada desta forma.
Não é anormal que sua lista de amigos diminua ou que aquela pessoa que, antes, era o motivo do seu amor praticamente não é nada a não ser uma pessoa qualquer. É o sinal de uma constante evolução que, em tempos de solidão causada pelo virtual e pela correria mundana, pede verdade nas relações. O que se quer são amizades sólidas, muito fora das imagens efêmeras de Instagram, mas que signifiquem de verdade a união e o transbordar da alma ao perceber que está, de fato, cercadas de quem realmente importa no seu convívio.
Enfim, menos é o que há, menos é o suficiente. Por que perder tempo com porquês que nunca virão? Não se trata de limpar listas de amigos nas redes sociais, mas colocar pontos finais em estradas abandonadas, cujo mato as leva a insignificância diária. Sendo assim, o menos é livramento psicológico, um descarregar daquela pilha de fórmica da dúvida e que desemperra a sonhada fluidez da vida.
Um milhão de amigos? Jamais! Quero apenas os meus ao meu redor. O menos, o mais libertador da mente, assusta, mas é suficiente.
Belo texto, ótimas reflexões. Parabéns, amgo André! P.s. Imprescindível agendar o nosso café! : )