Som n’A BOINA #09: À Chuck Berry, desbravador lírico e sonoro do Rock

(Douglas Sardo)

Semana passada, o André recordou um pouco da história das rádios Antena1 e 90FM, e 20 canções pop que sempre marcaram a programação dessas estações. Hoje porém, vamos mudar de estilo em caráter de emergência, pois o mês de março de 2017 trouxe uma triste notícia para os fãs do bom e velho Rock n’ Roll: Chuck Berry, instituição da música, deixou este plano para viver eternamente ao lado de outras lendas que já partiram.

É claro que o SnaB não poderia deixar de prestar uma singela homenagem ao músico que inovou e redefiniu a fusão de blues com jazz e country para estabelecer o Rock como a música da juventude na segunda metade dos anos 1950. Mr. Berry foi muito mais do que um pioneiro, e sua carreira também não pode ser medida apenas pelos seus hits, como a apoteótica Johnny B. Goode. Talvez uma forma de entender sua importância seja notar quantas superestrelas do rock surfaram em suas músicas: o exemplo mais notável talvez seja a dupla Ketih Richards e Mick Jagger.

Mick Jagger costumava chamar tudo que sua geração produzia de Chuck Berry. Aqui, os dois conversam antes de se apresentarem no Madison Square Garden, em 1969 (Reprodução)

Keith the Riff Richards sempre foi muito sincero sobre a inspiração para seus acordes: Copiei todos os riffs de Chuck Berry. Jagger também não fica atrás, considerado por muitos como o maior Frontman do Rock, ele sempre citou Berry como referência de presença no palco. Os Stones sempre guardaram um lugar no setlist de suas turnês para um cover de Chuck Berry.

No auge em 1972, os Stones faziam cover de Bye Bye Johnny em praticamente todos os shows.

Os rivais dos Rolling Stones na Inglaterra também tinham alguma coisa a dizer sobre Berry: Os Beatles nunca esconderam a reverência ao grande Chuck, com covers de suas músicas em álbuns marcantes. Roll Over Beethoven era uma das preferidas da banda. E quando faltava inspiração para fechar um álbum, como em Beatles For Sale, sempre dava pra colocar um cover de Rock and Roll Music.

Falando em Roll Over Beethoven, som do With The Beatles, aqui está ela, em um programa de TV na Holanda, com Jimmy Nicol na batera (Ringo Starr estava doente) e a voz possante do caçula de Liverpool, George Harrisson:

Após o fim dos Beatles, John Lennon teve a oportunidade de dividir o palco com o mestre em um programa de televisão. The Mike Douglas Show com John Lennon, Yoko Ono e sua Elephant’s Memory tocando Memphis Tennessee e Johnny B. Goodie com Chuck Berry. E apostamos que Berry não gostou nem um pouco dos gritos de Yoko Ono…

É claro que não foram só os britânicos que sintonizaram o som de Berry, Elvis Presley, por exemplo, não deixa mentir sobre a influência das músicas de Chuck nos EUA. Mas acho importante fazer notar o impacto que Berry teve na Inglaterra, fomentando o nascimento do rock britânico através de sua música.

Foi um fenômeno de extrema importância, porque nos EUA o Blues perdeu espaço na virada dos anos 1960, tornando-se até um estilo esquecido. Mas com o crescimento do rock britânico, o estilo ressurgiria com muita força na terra da rainha em meados dos anos 1960, e sim, Berry teve sua parcela nessa virada.

Basta essa imagem para mostrar o quanto Berry influenciou o nobre guitarrista do AC/DC, o endiabrado Angus Young (Reprodução)

As suas letras sacanas, falando de assuntos que ecoavam com força na juventude, carros, garotas, infidelidade, um pouco de perversão, influenciaram toda uma geração de letristas do rock. Inclusive o próprio Berry já mostrava o caminho em diversas composições, onde tomava emprestado alguma coisa de composições antigas para criar algo diferente.

Os Beatles aprenderam bem, o próprio Paul McCartney sempre admitiu que o baixo de I Saw Her Standing There, abertura do primeiro disco da banda, é cópia das linha de baixo de I’m Talking About You, single lançado por Berry em 1961.

Depois de ouvir esse clássico, escute a própria I Saw Her Standing There e perceba as semelhanças no baixo:

Quando o assunto era extrair o som da guitarra, Berry não ficava para trás. Aliás, essa é uma faceta pouco conhecida de seu trabalho, mas logo em seu primeiro single, a definitiva Maybellene, o som do icônico instrumento está claramente distorcido. Muito antes da comercialização dos primeiros pedais, fuzz tones e outros apetrechos que Jimi Hendrix tornaria tão populares na segunda metade dos anos 1960, lá estava Berry com um pequeno amplificador valvulado conseguindo um sobretom para seu solo.

Maybellene é considerada o primeiro Rock n’ Roll por alguns. Mas foi pioneira também na distorção. Berry já explorava as possibilidades de som da guitarra.

Aqui, um dos filhos da distorção – Jimi Hendrix – prestando sua reverência ao mestre:

Óbvio que ele não foi o primeiro. Gente grande do Blues como Junior Barnard e Elmore James eram alguns que já exploravam essas possibilidades. Só que eles nunca tiveram o alcance que Berry teve. E foi com o impacto de Berry que estes bluesman foram redescobertos. Não é a toa que toda uma nova geração de guitarristas geniais se formou na Grã-Bretanha, com gente do naipe de Eric Clapton, Jeff Beck, Jimmy Page, e tantos outros.

Um senhor americano e seus filhos britânicos: Berry cercado por Clapton e Richards (Reprodução)

Berry foi fundamental no nascimento do rock, no renascimento do Blues e no estabelecimento da guitarra como um símbolo cultural, de rebeldia. Sua música marcou uma geração inteira, e essa nova geração acabaria reverenciando o trabalho do músico em seus trabalhos, como por exemplo o diretor de cinema Robert Zemeckis. Muitos jovens tomaram conhecimento da música de Berry através da icônica cena de Marty McFly no primeiro filme da franquia De Volta para o Futuro (1985).

Claro que não íamos deixar passar Mr. McFly, encarnado por Michael J. Fox, em seu dia de Chuck Berry:

Quase dez anos depois, em 1994, lá estavam John Travolta e Uma Thurman em uma das cenas mais clássicas do cinema em Pulp Fiction – Dançando ao som de Chuck Berry. A escolhida foi a fabulosa You Never Can Tell.

Gracias por Quentin Tarantino, que imortalizou a canção para os cinéfilos:

Poderíamos ficar eternamente falando sobre as cabeças que foram influenciadas por esse monstro, mas o importante é que a música de Berry sempre vai persistir enquanto alguém ainda gostar de Rock. Afinal, musica boa não morre com o autor ou intérprete, apenas passa para outro status na história musical do mundo.

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Um grande abraço, e Hail Hail Rock N’ Roll!

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