(Douglas Sardo)
No cenário atual da música é cada vez mais difícil achar algo de qualidade no dito mainstream. As rádios estão poluídas com o que há de pior no ramo: artistas plastificados que não passam de marionetes de seus produtores, fora as canções com letras pejorativas de cunho fútil e sem nenhuma qualidade e originalidade em versos e arranjos.
Por outro lado, nunca foi tão fácil procurar música boa. Se há quarenta anos a única possibilidade de achar algo diferente era buscando um LP em alguma loja (e muitos não chegavam no Brasil) hoje temos a internet, que nos dá a possibilidade de descobrir músicos que passam à margem do besteirol radiofônico.
É o caso do Hammond Grooves, um Organ Trio de Jazz formado em São Paulo por três músicos de altíssima categoria que acaba de lançar seu primeiro disco: Funktastic. É sobre esse projeto que falamos hoje no SnaB.
Semana passada o André recordou aqui as histórias de Claude François, autor de Comme d’Habitude, mais conhecida como My Way, uma verdadeira assinatura musical na voz de Frank Sinatra.
Música francesa, está aí algo que eu não esperava e fiquei me batendo para achar algo diferente também, claro. Mas não cruzei o Atlântico como meu dileto amigo e chefe do blog, fiquei aqui no Brasil mesmo para trazer pela primeira vez nesse espaço um grupo de música instrumental. E que grupo!
Sabe quando você descobre AQUELE artista, aquela música nova que empolga? Pois aconteceu comigo ao ouvir o som desse trio. Formado por Filipe Galadri (Guitarra), Wagner Vasconcelos (Bateria) e Daniel Latorre (Orgão Hammond, naturalmente), o Hammond Grooves mistura o som clássico dos grandes trios de Jazz do passado com influências da Bossa Nova, Samba, Rock, Blues, Funk, e outras referências.
E o resultado é sensacional. A começar pela qualidade dos músicos: a bateria precisa de Vasconcelos (que toca com o QN Quarteto também, outro grupo interessantíssimo que você pode conferir aqui). A guitarra funkeada de Galadri brilhando em vários momentos. E claro, o onipresente orgão Hammond B3 de Latorre, ao redor do qual tudo gira no som maravilhoso do trio.
O clima jazzístico domina Funktastic, mas há momentos em que você se sente numa praia, tamanha a brasilidade do negócio. Também pudera, com músicas com nomes como Água de Coco e Pereira’s Walk, não tinha como não ter uma pegada forte tropical. Funktastic não é o tipo de trabalho que se ouve nas rádios ou que faça muito sucesso. Infelizmente, diga-se. Mas se você aprecia som de verdade, não tem erro, você vai gostar desse álbum.
São três músicos de muito talento que dedicam seu tempo para estudar seus instrumentos e entregar uma grande performance. Mas nada de virtuoses ultra-técnicas e maçantes, longe disso. Funktastic tem muito feeling e o disco passa sempre uma sensação de que estamos ouvindo três sujeitos se divertindo numa tarde despretensiosa.
Para os curiosos, eis o álbum na íntegra:
A única coisa a se lamentar é a dificuldade que dá para locomover por aí um Hammond B3 como o usado por Latorre, algo que dificulta bastante as viagens de um trio independente. Isso infelizmente pode impedir shows fora de São Paulo. Uma pena, pois seria sensacional ouvir esses caras aqui em Blumenau, no Teatro Carlos Gomes…Quem sabe um dia.
Se o leitor se interessar, segue o link do site dos caras, onde você pode comprar o CD pela bagatela de trinta Temers. Recomendadíssimo.
Então é isso galera, nossa deixa de hoje é claro, só poderia ser uma palhinha dos caras: ao vivo no Jazz B em São Paulo! Até o próximo SnaB!