Vivemos para escrever e presenciar a história.
Eu acho que repeti esta frase algumas vezes, em voz e pensamento, depois do 2 de novembro. Nós, o rádio que sempre da espaço as novidades da música que o constrói e nos dá a chance de dizer, quase sem acreditar: “temos uma música nova dos Beatles”.
Pra você, pode parecer ínfimo algo assim. “Ah, é só uma música nova, o que quer dizer tudo isso?” ou “você tá exagerando, isso sim”. Tolice pra você! Se você não conhece os meandros da música ou não deixou seus momentos e passagens de vida ser trilhados por ela nunca entenderia e nunca entenderá isto: temos uma música nova dos Beatles.
Lá em 1974, sonharam em uma reunião completa. O sonho morreu na mesma bala que levou John Lennon na porta do Dakota em 1980 e que tomou de nós George Harrison disfarçado de câncer em 2001. Numa estrada de tantos anos depois, restando o incansável Paul e o tranquilo Ringo, quem poderia imaginar? Como imaginar?
A tecnologia, meu simpático amigo e amiga do som, ela pode muita coisa, mesmo que para muitos pareça artificial, montado, arquitetado para “ser algo”. Tem muito mais sentimento. De uma fita simples guardada por anos nas mãos da dama nipônica Yoko, nasceu um último hino, uma novidade dos garotos de Liverpool. Algo que soa como derradeiro, final, conclusivo, mas necessário para justo isso: terminar.
Paul e Ringo pararam seus caminhos para juntar seus talentos, novamente, ao que havia de George e John em algum lugar. Tal como aqueles garotos atrevidos que foram chutados da Decca e conquistaram o mundo com a porta aberta que a Parlophone e Hamburgo lhes deram. Um trajeto longo e sinuoso, entre (muitos) acertos e alguns erros saídos de um pub pequeno e terminado agora.
E por que tão profunda? Eu olho para Stephany Sander, ela olha para o Endrio Chaves e nós três se entreolhamos. Somos jovens, ainda moleques nesse caminho entre ondas hertzianas, canções e obras primas do mundo da música que adoramos militar. Quem de nós, entre nossas reverencias ao clássico, poderia sonhar que os Beatles, da história antiga e dourada, poderiam nos fazer lançar um som novo hoje, agora, nestes tempos?
“Now and Then”, som denso, reflexivo, definitivo. Refinado com o que a tecnologia poderia nos brindar para resgatar um passado distante. Talvez não seja o maior de todos os feitos dos Beatles, estará entre os grandes feitos deles, do “Please Please Me” ao “Let It Be”, do Rock da invasão britânica à psicodelia colorida de um submarino amarelo. Ela estará lá, com algo grande, esperado tanto tempo, enfim arrematado, terminado.
Agora, senhores e senhoras, não há mais nada o que lançar de novo do fab four. Deveras e de fato, a história daqueles quatro garotos juntos como um som só está definitivamente arrematada e, nós como rádio e ouvintes, vamos com certeza repetir e repetir estes sons que mudaram o mundo, o som, o comportamento, a nossa percepção como música ora para as massas, ora para alguns ouvidos.
A tecnologia e nossos sonhos conseguiram: vimos os quatro juntos de novo. Gratidão por isso, por essa, pelos Beatles, por dizermos sorrindo sem acreditar: “temos uma música nova dos Beatles”.
Ouçamos! Com emoção, de preferencia. Nós conseguimos.
PARABÉNS pela homenagem aos Beatles e texto fantástico André !! A música, como a maioria dos fab four celebra mais uma vez o poder transformador do amor.
Abraços meus e da Sandra ao querido amigo