Uma reunião, cinco estudantes mortos e um estado prestes a explodir em combate. Flashes de um dos momentos mais conturbados da história nacional que teve São Paulo, a maior força econômica do país, como cenário de um combate. Uma guerra entre o estado contra o presidente que a dirigia a contra-gosto das elites paulistanas, órfãos da continuidade da política do café-com-leite, mas que batalhavam por uma nova constituição, eleições e um governo dito “democrático”. Esta balança entre bem e mal é celebrada mais uma vez em Sampa, onde se vive mais um feriado de 9 de julho.
Esta data, na verdade, foi o ápice da turbulência que vivia a elite paulista em 1932. Tendo o candidato caseiro Julio Prestes perdido a confusa e fraudulenta eleição de 1930 e assistindo a deposição de Washington Luis pelo gaúcho Getúlio Vargas, candidato derrotado, os paulistas se viram numa situação quase que punitiva, ainda mais por conta das irregularidades encontradas na eleição de 30, como o fato de até mortos votarem em Prestes.
A política do café-com-leite estava bem morta ainda antes das eleições por conta das divergências políticas com Minas Gerais. Os mineiros, desfavorecidos na situação, correram para aliar-se com o Rio Grande do Sul, que apontou Vargas para a eleição. Neste cenário, vencer aquelas eleições se tornou motivo de honra e de tudo se fez. Infelizmente, para o lado paulista, sobrou as fraudes e o estado passou de potência política a submisso em um único golpe. No caso, o de Getúlio.
Os governos estaduais foram dissolvidos, sendo substituídos por interventores. São Paulo foi o único que recebeu um interventor de fora do estado, o que enfureceu as forças políticas e econômicas paulistas. Exigia-se o fim do chamado governo provisório, novas eleições e uma nova constituição, toda a luta encampada pela população e pelos estudantes. Mesmo com as tentativas de Vargas de acalmar o estado, nada parecia parar os paulistas, e só faltava uma única faísca para tudo explodir de vez.
E foi assim em 23 de maio de 1932, quando cinco estudantes (Mário Martins de Almeida, Euclides Bueno Miragaia, Dráusio Marcondes de Sousa, Antônio Américo Camargo de Andrade e Orlando de Oliveira Alvarenga) foram recebidos a bala no Clube 3 de Outubro, que abrigava militantes favoráveis ao governo provisório. Pronto, estava feito o estrago. As iniciais dos nomes dos mártires – MMDC – tornou-se a senha para o movimento, que já planejava trocar os gritos pelas armas.
Foi então num 9 de julho que São Paulo se lançou a luta, partindo para a marcha em direção a capital federal (à época, o Rio de Janeiro). Estados que prometeram auxílio (Minas, Mato Grosso e, pasmem, o próprio Rio Grande do Sul), não vieram e logo a tropa paulista se viu cercada por 100 mil tropas do governo federal. Faltava armas ao batalhão e as tentativas de aquisição de armamento eram barradas pelas forças militares federais. Era uma guerra perdida, mas que deixou sementes.
A revolução foi oficialmente derrotada no dia 2 de outubro, quando as forças paulistas se renderam a ofensiva federal. E quando se fala em sementes, pode se dizer que a luta de São Paulo alcançou, politicamente os objetivos traçados. A constituição pedida veio dois anos depois, em 1934, e as eleições para os governos estaduais aconteceram. Não se pode julgar que foi um movimento que apenas lutou pela perpetração de um modelo de política elitista e retrógrado, mas sim uma verdadeira união de um estado em busca de um pouco de democracia e justiça, que tem nos veteranos de combate uma eterna reverência.
A Revolução de 1932 também foi o último levante de um estado ou grupo dentro do país, e que tem lugar de destaque na história do Brasil republicano.