Ouvi esta frase do titulo algumas vezes durante os dois turnos desta última eleição. Pelos corredores da zona eleitoral na EEB Padre José Maurício, encontrei amigos, pessoas conhecidas do Distrito que há tempos não via, e não perdia a chance de papear e perguntar como a vida andava. Independente de quem escolheriam diante da urna, de quem apoiavam, o clima era de um festivo reencontro a cada cumprimento.
Não importando o lugar onde você mora, o ser humano tem por entre seus neurônios pensantes uma coisa chamada preferencia. Ela pode vir de qualquer forma, seja de opção política, de time de futebol, de carros, pessoas, de tudo. Não há, é claro, um xerox de cada um de nós mesmos, temos todos opiniões e posições quanto a determinadas preferencias e assuntos diferentes, o que torna o mundo um verdadeiro plural de visões, saudável e provocador de debates e novas ideias.
No entanto, apesar de toda a tempestade de ideias que vem a cada encontro de posições diferentes em uma conversa, há sempre o ser humano que as leva ao pé da letra. Briga, discute asperamente e, em muitos casos, se separa. O conflito gera distanciamento, coloca amigos, casais, famílias em lados opostos de uma espécie de trincheira, de um Muro de Berlim sem sentido e isolador. O futebol é o maior exemplo disto até hoje. A paz, que tanto sonhamos, sempre é trocada a cada provocação de torcidas pela pancadaria generalizada. Não há respeito, não há esportiva, apenas socos e pontapés.
Na política, assim como no esporte, as rivalidades e opiniões divergentes soam as vezes como necessárias para a continuidade de um processo democrático (ou as vezes agressivo). Diria que PT e PSDB, tal como os grandes clássicos do futebol, coexistem quase como um sendo a necessidade do outro nos debates. O cenário nacional não deixa mentir, embora muito mudou depois do tchau querida!, mas estas tensões já separaram pessoas e opiniões há tempos e ainda separam sempre que se encontram.
E é ai que mora o perigo todo daquilo que dizemos entre amizade e política. Em nível municipal, como vivemos as últimas eleições, amizades e relacionamentos foram postos a prova por conta de ideias divergentes. Teve de tudo, ate mesmo pessoas plantando a discórdia neste terreno sempre instável, e quando se via o resultado da peleja fútil assistíamos uma troca de farpas sem pensar no mais importante de fato: O bem comum.
Muito além de todo este furacão, amigos de longa data viraram as costas por trabalharem ou votarem para candidatos diferentes, casais entraram em tensões numa sequencia de estragos sem precedentes em grandes histórias de amizade e de amor. Uma total miopia de que deveria urgir de dentro, muito mais alto que as ideologias, o respeito entre pessoas e a lembrança, justamente, da frase que intitula esta crônica. E se é uma coisa que realmente pude compreender e ver durante este período foi exatamente a máxima que nenhuma amizade ou amor acaba nas divergências ideológicas ou de preferencia, jamais!
Não vou exagerar no conto, mas nos dois turnos dividi a função de fiscal com um grande amigo petista. Sobrevivemos um ao outro mas não na pancadaria e na troca de farpas, vivemos um clima de paz, de risadas, conversas tranquilas e, ainda, terminamos o dia cantarolando Demônios da Garoa na porta de entrada da zona eleitoral. E tem mais, conheço um casal que seria o exemplo perfeito de que a ideologia vem depois da parceria: Ele, petista; ela, tucana; e a vida não poderia ser mais animada e romântica possível.
Se com exemplos simples podemos provar que o que diz aquela frase é verdadeiro, quem diria levar este exemplo em outros cantos, onde a lei do tapa (e até da bala) impera até mesmo sobre amizades? Não importa se você é PT ou PSDB, Flamengo ou Vasco, Palmeiras ou Corinthians, alemão ou italiano, católico ou evangélico. Sua ideia não pode superar o que é mais importante: Seus amigos e sua amada (ou amado, para as moças).
Afinal, como diz o título e que deveria ser mantra nestes dias eleitorais: A política vai, a amizade fica.