Eu cresci ouvindo o som d’Os Serranos nas manhãs de sábado, quando minha mãe botava para rodar o LP dos seus 25 anos.
Gostar da canção tradicional gaúcha já é parte do meu apreço musical há tempos e sempre brincava comigo que “ouvir musica gaúcha é só na sexta e sábado”, pelo clima de festa que ela sempre lembra a cada melodia, acordes de homens e… uma mulher, uma simples mulher que postou-se de valente e conquistou o coração de muitos lembrando das coisas “que o velho gosta”.
Recebi chocado, nesta sexta última (4), a notícia do passamento de Berenice Azambuja, 69 anos, vitimada por uma parada cardíaca que freou sua luta contra um câncer no pâncreas, um dos tipos mais agressivos. Gaúcha da capital, dona de 17 discos e três destes de ouro, voz de moça valente que não se baixava nas curvas da vida, num duo de vida que é um assombro para o machismo e um colírio para as gerações inspiradas por ela: homossexual e tradicionalista, com orgulho e musica nas veias.
No seu peito, a icônica “cordiona” vermelha donde ela tirou a imortal “É Disso que o Velho Gosta”, lançada por meados dos anos 1980 e que viajou o país entre versões de vários artistas. Um ser admirável que merece todas as reverencias por ser uma mulher a frente e nunca a sombra de alguém, que ia às peleias nas plagas distantes empunhando a bandeira verde-vermelha-amarela dos farrapos com uma voz forte e marcante… e como esse silêncio incomoda.
Emocionam-se meus irmãos. Léo não esconde o pranto escapando e João Marcelo arremata brilhantemente: “por hoje, fecha-se a gaita no Rio Grande”.
Gratidão por tudo, Berenice! 🌻🌻