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É impossível, nesta época do ano, não lembrar do antológico refrão de um verdadeiro hino natalino com qualidade e procedência 100% brasileira. Nas esquinas, nas flautas andinas, harpas, nas vozes de cantores e bandas de quaisquer estilos, em especiais natalinos nacionais, a épica Boas Festas é uma marcha que remete a tempos doces da infância, a inocência da espera pelo Papai Noel e a beleza da noite única de natal. Peça inesquecível do cancioneiro nacional e primeiro grande sucesso do seu criador, o baiano Assis Valente.
Era a resposta nacional as tantas canções vindas de outros países e que já eram hinos natalinos consagrados. Boas Festas tem o toque nacional da marchinha puxada para o estilo carnavalesco, contando por entre seu verso e refrão a ansiosa história de um menino triste que aguardava a visita do bom velhinho, que nunca chegava.
A composição data de 1932 e foi o primeiro tiro bem sucedido de Assis, que começava a despontar no cenário musical nacional e chamar a atenção de intérpretes como Carmen Miranda, Dorival Caymmi, Moreira da Silva e Carlos Galhardo, este último que seria o responsável por gravar e imortalizar a marcha natalina, em 1933, o primeiro grande sucesso do intérprete.
O sucesso foi tamanho que o master original de gravação desgastou violentamente nas prensas da RCA Victor brasileira. Outras duas regravações seriam feitas em 1941 e 1956 e esta não seria a única marcha de natal que comporia. Em 1935, escreveu Recadinho de Papai Noel, interpretada por Carmen Miranda.
Assis era um compositor genioso, que além de Boas Festas também escreveu, com grande sucesso, marchas como Camisa Listrada, Cai Cai Balão, e sambas como Brasil Pandeiro, cada vez mais ganhando destaque no meio de cantores e cantoras de grande monta nos anos de ouro do rádio. No entanto, se a vida como compositor era promissora, a vida pessoal era um desastre. Não, necessariamente, sucessos musicais significavam dinheiro em caixa e Assis, por muitas vezes, se via envolto em dívidas.
As pancadas da vida eram grandes para o bom baiano. Dizia-se também que Assis era homossexual e sofria com o preconceito latente da época, outros dizem que o compositor nutria uma paixão platônica por Carmen Miranda, de quem era um fã incondicional, e numa recusa da pequena notável em interpretar Brasil Pandeiro, sofreu outro baque emocional gigante. A canção, que foi gravada no mesmo período pelo grupo Anjos do Inferno, também seria reeditada em 1972, pelos Novos Baianos.
Tentou várias vezes se suicidar, sendo uma delas pulando do alto do Corcovado, sobrevivendo milagrosamente. No entanto, depois de tanto tentar, Assis Valente infelizmente encontrou a morte por si só. Foi em março de 1958, quando ingeriu formicida com guaraná num banco de praia. Antes disso, havia pedido ao compositor consagrado de Aquarela do Brasil, Ary Barroso, que pagasse duas mensalidades de aluguéis atrasados, além de pedir ao público que comprasse o último disco por ele produzido, intitulado Lamento.
No bolso do corpo inerte encontrado no banco de praça, no dia seguinte, uma frase escrita em um simples pedaço de papel em um dos bolsos expressava a angustia que sentia: Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo.
Foi-se o compositor, ficou a obra. Boas Festas tornou-se um ícone natalino. Nota brasileira de uma celebração universal, executada e cantada a exaustão verso por verso a cada um que traz no coração o espirito doce e feliz do natal. Caso alguém não se lembre da letra, olha ela ai:
Anoiteceu,
O sino gemeu E a gente ficou feliz a rezar Papai Noel
Vê se você tem A felicidade pra você me dar
Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel E assim felicidade, Eu pensei que fosse uma brincadeira de papel
Já faz tempo que eu pedi mas o meu Papai Noel não vem Com certeza já morreu
Ou então felicidade, é brinquedo que não tem