Isolados pelas redes

Celulares, meios mobile de comunicação, junto das facilidades e agilidades veio o isolamento e a dependência (Reprodução)
Celulares, meios mobile de comunicação, junto das facilidades e agilidades veio o isolamento e a dependência (Reprodução)

(André Bonomini e Bianca Klemz)

A toda hora, a todo momento, elas estão la como uma vitrine da nossa vida e de nossas realizações cotidianas. Quase como uma sala de troféus que, muitas vezes, fazemos questão de exibir. Estão lá também como um mundo paralelo ao que nós vivemos, nos tirando da realidade, fazendo viver situações que na realidade nunca viveríamos. Com tudo isso bem vivo neste mundo que corre os dedos nos celulares e rola mouses nos feeds de notícias, fica a pergunta: Será que estamos sendo isolados pelas redes?

Que a evolução da internet e dos meios mobile é algo visível até pelos cegos, isto é inegável, indelével e impressionante. Dia após dia, os magnatas do Vale do Silício apresentam ao mundo uma atualização, uma facilidade, uma novidade que promova ainda mais a interação e a comunicação entre as pessoas por meio da virtualidade.  No entanto, ao passo que evolui, a tecnologia parece estar roubando do ser humano a capacidade de interagir socialmente na vida real, nos contatos reais.

Paulatinamente, perde-se a capacidade de costurar assuntos, expressar sentimentos , nos fechamos nas redes como a unica forma de saber de nossos amigos. Muito mais do que as conversas casuais de encontros imprevisíveis que nos arrancavam sorrisos de alegria e satisfação e, hoje, são um luxo por vezes inacessível.

20130603094856106589u
Rodas de amigos (e amigas, no caso da foto) cada vez mais distantes, presos cada um no próprio mundo, fazendo a conversa entrar em extinção nos nossos dias (Reprodução)

Fora isto tudo, o hedonismo parece ter voltado dos anos 70 e recebido uma nova carga com as redes sociais nos nossos dias. O ser humano toma como referencia na vida, em vezes, o que o vizinho ainda fazendo na vida e o que este destaca nas redes. Viagens, conquistas, aquisições, momentos de querer ser dono da verdade com informações erradas, uma sucessão de vidas perfeitas que passam a nossos olhos pelo rolar do mouse no feed de notícias.

Quem tem um psicológico fraco torna-se dependente do que as redes trazem, isola-se, visualiza-se como um fracassado, um solitário pária em torno do mundo que não interage em público, mas apenas faz o básico para confirmar a presença no meio social. Em rodas de amigos que passo tenho notado muito bem esta questão. Facebook, Whatsapp e outras redes servindo como fuga, agindo quase como um entorpecente dos mais viciantes e que viver sem é quase impossível. Ou melhor, é impossível.

Não quero desacreditar o amigo leitor que a tecnologia é sim um encurtador de fronteiras, como nós mesmos da comunicação pregamos aos quatro ventos. Aproximamos pessoas distantes, mas ao mesmo tempo afastamos quem está tão perto e pedindo atenção. Deslumbramo-nos com paisagens nas telas de um computador ou celular, mas olhamos com frieza, muitas vezes, as belas paisagens e momentos ao nosso redor. Tudo parece ganhar um toque de virtualidade exagerado e debilitante.

sites-de-relacionamento-2
Nunca deve ser desmerecido todos os benefícios trazidos pelas redes sociais e outras formas de conexão. Adverte-se apenas ao vicio, a imersão neste mundo que projeta apenas sombras, mas que distancia do real que corre nossos olhos (Reprodução)

Tanto se falar em isolamento provocado pelos meios mobile faz pensar numa das teorias mais conhecidas da filosofia, que muito bem encaixa-se nisto que vivemos. Permito que a colega jornalista Bianca Klemz, mesmo envolta na loucura do TCC, participe nesta reflexão. Se você ainda está preso no celular ou computador lendo isto, permaneça mais um pouquinho leia, antes de refletir sobre tudo isto no mundo lá fora.

Celular X Mito da Caverna

(Bianca Klemz)

Todo esse contexto de que as pessoas estão cada dia mais presas em seus celulares me fez pensar na Alegoria da Caverna. Criado por Platão, este pensamento traz em seu conteúdo metafórico tanto teoria quanto ideia e deixa em sua interpretação uma mensagem muito bem relacionada com o tema proposto e com o que vivenciamos quando estamos presos aos smartphones ou outras formas de conexão.

Hoje, conhecemos pessoas de diversas partes do mundo, conversamos com elas e neste diálogo através de escritas, se mostram ser de um jeito – ou ter tal personalidade – e depois, quando nos encontram, observamos que na verdade toda aquela expectativa e forma de agir que esperávamos são transformadas e alteradas.

Mito-da-Caverna
A Alegoria da Caverna, de Platão (Reprodução)

Esse contato através de mensagens nos deixa reféns de qualquer pessoa simpática que aparece no seu Facebook, WhatsApp, Twitter… Enfim, qualquer rede social. E sabe por que? Porque estamos carentes de contato físico. Estamos carentes de sair pra conversar e dar 100% da nossa atenção à quem merece.

Nesse mundinho vivemos apenas para ver aquilo que que queremos ver e sentir. São nossas ideias e até mesmo (talvez) as nossas carências que criam ideia de algo. E é no momento em que nos deparamos com a realidade e nos libertamos disso tudo que passamos a viver num mundo real libertador, conhecendo as pessoas como elas são e como elas agem.

Nunca estivemos em contato tão extremo com o Mito da Caverna quanto hoje, com os aparelhos celulares, smartphones, tablets, computadores. Portanto, se eu pudesse dar um conselho a você, seria simplesmente desligar, apertar o botão que apaga tudo por um breve momento e viver a vida fora desta caverna existencial que acabamos nos acostumando… Afinal, no mundo lá fora há coisas mais belas e impressionantes que nenhuma telinha ou monitor conseguirá reproduzir.

Deixe uma resposta