O mundo acordou nesta quarta-feira (06/12) espantado com mais uma notícia do repertório de feitos que a Coréia do Norte insistentemente joga ao ocidente quase como um sopro. Desta vez, a notícia era mais assustadora, trata-se do possível teste feito com uma miniatura da Bomba H – a temida Bomba de Hidrogênio – no nordeste do lado vermelho da península coreana. O anuncio foi feito sem maiores detalhes (clássico da KCNA, a TV estatal) pela televisão, o que levou os norte-coreanos ao extasio, se é que todos estavam realmente extasiados.
Não é de hoje que o mundo olha cada vez mais assustado para aquele pedacinho de terra fechado ao mundo e governado com pulso de ferro (para não dizer de banha) por Kim-Jong Un, o terceiro da família a frente da nação. As rotineiras notícias de ameaças de guerra, testes nucleares, hostilidades com os países vizinhos – e com os EUA, maior inimigo segundo os norte-coreanos – variam sentimentos, ora de revolta ora de estranhamento. E olhar de fora geralmente desperta mistérios sobre a vida dos habitantes daquele lugar, vistos na TV cegamente idolatrando o líder de um país falido e atrasado num comunismo morto há décadas.
Porém, mesmo com a toda a controvérsia e receio que sempre há quando se fala em Coréia do Norte, há quem queira mostra um outro lado de Pyongyang – a capital – e das cidades vizinhas que raramente vemos sem um olhar político e preocupante. Um fotografo de Cingapura – o jovem Aram Pan – resolveu limpar as córneas da visão políticas, sejam atuais, do presente ou do futuro, e partiu na aventura de mostrar em fotos e vídeos o que esconde a cortina de ferro norte-coreana. O resultado disto tudo é o projeto DPRK 360, conduzido por Pan desde 2013 e que revela ao mundo uma Coréia do Norte muito pouco vista: Aquela do dia-a-dia.
Pan é fotógrafo profissional desde 2003 e, movido pela curiosidade, partiu com maquina em punho e embrenhou-se na até difícil aventura de mostrar ao mundo o que esconde o lado norte do paralelo 38. A coleção já tem um sem-número de fotos (comuns e panorâmicas), vídeos e registros que contam palmo a palmo peculiaridades da Coréia do Norte como nunca se vira antes, instigando a curiosidade até de quem nem aguenta ouvir o som da palavra comunismo.
Diferente dos documentários de grandes emissoras – como Discovery, History e National Geografic – Pan nos coloca uma visão totalmente apolítica da situação, nos tornando junto com ele turistas numa viagem viciante por prédios, praças, museus, hotéis, estações de metrô e trem, aeroportos, avenidas centrais, áreas rurais e até mesmo em residências comuns. Celebrações, desfiles e até a rotina em escolas e fábricas são alvo da lente apurada de Pan, que realmente, por alguns instantes nos tira do olhar político por alguns momentos para contemplar os cantinhos de Pyongyang.
Não é um trabalho fácil, julga-se de passagem. Vale lembrar que o turismo na Coréia do Norte, assim como a vida do norte-coreano, é extremamente vigiado. Você só consegue circular pelo país como bom turista se estiver acompanhado dos guias escalados pela agencia estatal de turismo, que regem e seguem seus passos onde for. Fotos de lugares ditos suspeitos são terminantemente proibidas e a mídia externa aos limites norte-coreanos são quase inexistentes, assim como antena de celular ou até mesmo a luz elétrica – o país tem um sem-numero de quedas de energia por dia.
Ser turista por la as vezes significa se enquadrar no estilo de vida que os norte-coreanos, se acostumar com um regime que você não tem costume nenhum. Mas para Pan, segundo diz as fotos que faz, isto não é um problema. Por onde vai, um bom papo em coreano sempre resolve e, no fim, até os pouco receptivos soldados do país não resistem a uma chapa. É uma bela viagem e, para quem tem curiosidade em um momento de estar desligado da discussão política que sempre vem, é um passeio altamente recompensador em fotos e vídeos.
Algumas imagens chamam a atenção de quem passa pelo site e pelo Facebook do projeto. As ruas centrais de Pyongyang quase sem carros despertam até uma certa calma no cotidiano, embora que automóveis por lá são bens para poucos. Hotéis sempre bem organizados e bem decorados e até o registro curioso de traços ocidentais que, aos poucos, vão penetrando na rotina norte-coreana, como lanchonetes a lá fast food e até Coca-Cola (importada da China, uma das poucas aliadas do regime, claro). Os monumentos às façanhas do exercito e do regime (e a visitação sempre assídua), o ambiente a moda da antiga URSS e as residências com quadros dos dois primeiros líderes norte-coreanos (Kim Il-Sung e o filho, Kim Jong-ll, pai de Kim Jong-Un) como lembrança da doutrina Juche (culto a personalidade) também são notórias nas imagens.
Mas o que mais espanta nas imagens e a receptividade dos norte-coreanos. Ao ver a câmera de Pan a chuva de sorrisos e olhares curiosos chega a nos fazer abrir um pequeno sorriso, embora não sabe se os mesmos são verdadeiramente sinceros ou ocultos de um certo medo do regime. Não importa, dos soldados a famílias, dos jovens as crianças nas escolas, dos velhos as belas norte-coreanas (este jornalista tem fraco por garotas orientais, admito!), a alegria é geral, sem contar o estilo selfie de algumas imagens, muito bem explorado.
O acervo iconográfico é riquíssimo, mas de tantas separei algumas mais interessantes para os amigos e amigas de A BOINA terem uma leve noção do que se trata o trabalho de Aram Pan na misteriosa Coréia do Norte (clique para amplia-las e abrir a galeria)
Mais imagens e vídeos você encontra no site do projeto e na página do DPRK 360 no Facebook.
Eu garanto, desligue o lado geopolítico uma vez apenas. Vale a pena um breve passeio iconográfico pelo lado vermelho da Coréia.