(Ricardo Hedler)
Domingo, março de 2005. Uma família brasileira comum se reúne na sala para assistir ao Domingo Espetacular na Rede Record. Seu apresentador, o icônico Paulo Henrique Amorim, anuncia com sua voz característica o que se tornaria um dos quadros de maior sucesso do programa: o quadro Selvagem ao Extremo, criado e apresentado por Richard Rasmussen, mostrava o aventureiro animal interagindo de maneira irreverente com os mais diversos animais da nossa fauna: cobras, lagartos, por ai…
O que aparecesse no caminho desse amante da natureza, era logo capturado e manipulado sem medo algum pelo apresentador em frente às câmeras. Ao contrário do pobre animal que era apanhado de surpresa e levado à situações de extremo stress. Tudo com o máximo de sensacionalismo para manter a família brasileira presa no sofá esperando mais confrontos perigosos do queridíssimo caçador de aventuras.
Richard Rasmussen foi criado em uma chácara no interior de São Paulo. Desde pequeno interagiu com os animais silvestres da mata próxima de sua casa. Por conta disso criou afeição aos bichos. Por influência do pai, formou-se em economia, mas prosseguiu sua adoração pelos animais. Em 1999 apresentou um projeto no IBAMA para a criação do criadouro Casa da Tartaruga, também em São Paulo. O criadouro abrigaria animais ameaçados de extinção vindos do comércio ilegal e de resgates da fauna silvestre. Nesse ambiente Richard aprendeu com biólogos (ele veio a formar-se em biologia apenas em 2008) muito do que mostraria em seu quadro na TV.
Em meados de 2005, entretanto, o abrigo foi fechado pelo IBAMA após inúmeras notificações e autuações que totalizaram mais de R$ 390 mil. Em nota publicada em agosto de 2015 no site da Procuradoria Regional da Republica (Terceira Região), são apontados maus tratos, animais sem comprovação de origem, evasão de aves, diversos cadáveres de animais na sala de atendimento veterinário, além de várias outras irregularidades. Richard até hoje nega que tenha sido autuado pessoalmente.
Existem outros casos de negligências cometidas pelo apresentador, como por exemplo, quando este e sua equipe de filmagem foram convidados a se retirarem de uma pousada por manterem um tamanduá preso no banheiro do quarto onde estavam hospedados. O animal seria usado nas filmagens de seu quadro no dia seguinte quando a equipe tivesse iluminação apropriada.
O caso mais contraditório e polêmico, todavia, foi a reportagem exibida em 2014 no programa global Fantástico, em que pescadores ribeirinhos são exibidos matando um boto cor-de-rosa fêmea prenha. O animal que está ameaçado de extinção teria sido usado como isca para a pesca da piracatinga, peixe muito valioso na Amazônia. A reportagem levou o ministério público a proibir a pesca da piracatinga por 5 anos, conservando os botos, mas também deixando a população local sem o meio de subsistência.
Em 2017 o diretor Mark Grieco lançou o documentário A River Below, que denunciava Rasmussen por pagar os pescadores para fazer as filmagens do boto sendo abatido. Segundo o filme, ele teria pago com comida, diesel e dinheiro para que os pescadores locais matassem o animal na frente das câmeras. O objetivo, segundo Rasmussen, seria exibir as imagens para o Ministério Público para encontrar meios de usar iscas alternativas para a pesca.
As imagens teriam sido feitas a pedido do AMPA (Associação Amigos do Peixe-Boi da Amazônia) e do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Rasmussen nega que tenha pago aos pescadores e defende, com muita hipocrisia, que fez o que fez apenas pela preservação do boto cor-de-rosa. Muitos defendem a atitude do biólogo pelo fato de ter levado as autoridades a tomarem uma atitude imediata, como se matar justificasse a boa ação.
Mas será que os fins realmente justificam os meios? Pessoas como Richard usam o poder da mídia, manipulando imagens para ganhar a atenção do público e fazer rios de dinheiro. Um verdadeiro amante dos animais nunca teria tais atitudes para com a nossa fauna. É realmente muito triste tanto sensacionalismo barato dar IBOPE e alavancar carreiras de pessoas que fingem ser do bem.
Pessoas que só se importam com o dinheiro. Pessoas como o aventureiro animal.