Lojas e lojistas: Alguns ícones do varejo brasileiro

É inegável o papel do mundo do varejo na construção da história e identidade do Brasil e do mundo ao longo dos tempos. Desde as primeiras trocas comerciais nos primitivos tempos da burguesia, o comércio é uma das pedras angulares que contribuem não somente com o desenvolvimento de uma determinada localidade, mas com a identidade de um povo que, ao redor dela, vai vivendo sua vida e convivendo com o que a loja lhe oferece.

O varejo como conhecemos no Brasil é, se considerarmos os países do mesmo nível econômico que o nosso, um tanto recente. Ainda nos tempos do império não se conhecia o poder de grandes magazines e locais onde o atendimento não fosse, exclusivamente, atrás de um balcão. O século XX e todas as revoluções comerciais que bem conhecemos, foi o que permitiu uma reviravolta nestes processos, preservando instituições e nomes para a posteridade e para os compêndios.

Os anos passaram, o atendimento clássico com o umbigo colado no balcão está ainda desaparecendo, sendo substituído pela correria frenética dos grandes magazines e shoppings (abaixo). E entre eles, pessoas estão por trás das grandes ideias comerciais que movimentavam ou moviam o varejo nacional de outros tempos (Reprodução)

E uma rede de lojas de sucesso segue uma simples máxima: Por trás de toda a grande loja/rede de varejo existe um grande homem ou mulher varejista. E as histórias de como nasceu esta verve em cada uma destas pessoas surpreende e inspira futuros empreendedores. Famílias cujas pequenas lojas serviam para uma mera sobrevivência,  jovens sonhadores que buscavam um lugar ao sol e casais que, juntos, pensavam em um negócio para prosperar e fazer algo junto a comunidade. Tem de tudo um pouco, e ainda bem que eles todos existiram, talvez o varejo brasileiro não seria tão recheado de histórias e exemplos como somos hoje.

Nesta onda de misturar história, exemplos e relembrar nomes do passado e do presente, A BOINA foi as pesquisas e recorda 12 nomes conhecidos do varejo brasileiro, desde as trajetórias e suas instituições que, sendo elas do ontem ou do hoje, inspiram empreendedores sonhadores em também eles contarem a própria história dentro do mundo fabuloso do comércio varejista, talvez desejando ser um dias as referencias do futuro.

Se você precisa de inspiração para o mundo dos negócios, vamos viajar no tempo:


Herman Theodor Lundgren

Vindo da Suécia, Herman Lundgren seria o precursor das grandes lojas, com o grande sucesso das Casas Pernambucanas (Reprodução)

O primeiro grande nome em matéria de comércio varejista do Brasil nasceria em Recife, ainda no tempo da República Velha. Nascido na cidade de Norrkoping, na Suécia, Herman Lundgren emigrou para o Brasil em 1855, parando primeiramente no Rio de Janeiro e, depois, mudando-se para a capital pernambucana.

Foi lá que, no início do século passado, Herman comprou uma antiga fábrica de tecidos em Olinda, dando origem ao que seria as Casas Pernambucanas, em 1908. Os negócios já estavam bem encaminhados junto do filho, o jovem Arthur, que tocaria os negócios daquele ano em diante, já que Herman falecera em 1907, sendo considerado fundador póstumo do empreendimento.

A Pernambucanas espalhou-se rapidamente pelo país, tornando-se a maior de todas as distribuidoras de tecidos do Brasil. A chegada de uma loja em uma cidade era um grande furor, reunindo autoridades políticas em torno do acontecimento. Seus métodos publicitários marcantes e iniciativas pioneiras, como o crediário e o cartão próprio, a fizeram um ícone e modelo para os modelo varejistas que viriam nos anos seguintes.

Tamanho era o sucesso da loja que a chegada de uma filiar da Pernambucanas em uma cidade era um verdadeiro furor. Hoje, a rede é uma das mais prestigiadas do país, lembrada também pelas interessantes campanhas publicitárias (Reprodução)

 

Curiosidade: Apesar de se chamar Pernambucanas, a rede de lojas não tem uma filial em Pernambuco desde os anos 80. A razão social também continua sendo a mesma desde os primórdios: Arthur Lundgren Tecidos S.A.


Antônio Jacob Renner 

Assim como Lundgren, a história de A. J. Renner também começou numa pequena empresa têxtil,. Dela, um grande grupo empresarial nasceu, tendo entre eles a famosa loja de moda que leva o famoso sobrenome (Reprodução)

Conhecido e reconhecido no Rio Grande do Sul pela alcunha famosa – A.J. Renner – este neto de imigrantes alemães nascido no interior gaúcho colocaria o sul entre os locais de origem de uma grande rede de lojas. Antes do mundo empresarial, A. J. Renner chegou a ser ourives, caixeiro-viajante e empresário têxtil. Foi a partir de uma pequena tecelagem que nasceu o seu império empresarial, tendo como um dos ramos a famosa rede de lojas de moda espalhadas pelo Brasil.

A Lojas Renner foi fundada em 1912, ocupando por muitos anos um endereço nobre no centro de Porto Alegre: a esquina das Ruas Otávio Rocha e Dr. Flores. Até 1965, a loja era parte do grande complexo industrial mantido com afinco e persistência por A.J, reunindo fábricas de tintas (Tintas Renner), tecidos, porcelanas (Porcelanas Renner), feltros, calçados e máquinas de costura.

Atualmente, a Renner é uma das mais importantes redes de comércio de moda pelo país, tendo 324 pontos de venda, sendo 290 como Lojas Renner, 30 como Camicado e quatro da marca Blue Steel. A.J. Renner faleceu em dezembro de 1966, tendo seu legado continuado pelos filhos e sua lembrança presente em vários pontos da capital gaúcha.

De Porto Alegre para o mundo, a Renner está presente em grande parte dos shoppings do país, como uma das mais conhecidas marcas do mundo do varejo de moda (Reprodução)

Walter e Herbert Mappin 

A fachada imponente da primeira loja do Mappin no Brasil, aberta em 1913 no centro de São Paulo. Era uma espécie de precursor do que seriam os Shoppings do futuro. 40 funcionários e um estoque fino que chamava a atenção dos paulistanos (Arquivo Estadão)

Ela é referida por muitos como a legítima pioneira do que, hoje, vemos nos Shopping Centers. O Mappin, uma das mais importantes lojas de departamentos de São Paulo, tem origem na Inglaterra, mais precisamente na cidade de Sheffield, em 1774. As famílias Mappin e Webb se juntaram para fundar uma grande loja de pratarias e artigos finos, muito conhecida dos moradores daquele município britânico.

Mais de 130 anos depois, a marca inglesa pousava no país, mais precisamente em São Paulo, pelas mãos dos irmãos Walter e Herbert, herdeiros da família que iniciou esta grande história. Denominada como Mappin Stores, seu letreiro chamava a atenção pelo grande letreiro e campanhas sazonais que arrebanhavam clientes e clientes por muitos anos.

O edifício na Praça Ramos de Azevedo, icônica sede do Mappin, no natal de 1983. Apesar do gigantismo, a rede não resistiu aos revezes econômicos e aos planos furados de Ricardo Mansur. Fechou as portas em 1999 (Reprodução)

O gigantismo dos primeiros anos e a sofisticação provocavam a curiosidade das pessoas da nata paulistana, para qual a loja era destinada. Eram 40 funcionários e 11 departamentos diferentes, algo espantoso para os inocentes primeiros anos do século XX no Brasil. O Mappin permitiu aos paulistas conhecerem o crediário que facilitava compras, além de ousar colocando preços nos produtos em exposição nas vitrines, inovador para a época.

Nos anos 50, a direção inglesa da marca passou a mão de empresários brasileiros que continuaram a sua expansão. Mesmo com todo o tamanho e representatividade no varejo paulistano, o Mappin sucumbiu as dívidas e a péssima gerência do empresário Ricardo Mansur, que adquiriu a marca em 1996. Três anos depois, o Mappin desapareceria da Praça Ramos de Azevedo, seu endereço mais emblemático, e do país, virando uma grande e inesquecível história.

Recentemente, o Mappin anunciou seu retorno, por enquanto com vendas pela internet. Vale dar uma olhada no link.


Hermes Macedo (Lojas HM)

Político reconhecido no Paraná, Hermes Macedo foi um varejista de respeito no seu tempo, comandando o que foi a maior rede do Brasil, do Rio Grande ao Grande Rio (Reprodução)

Pelas mãos deste político e empresário gaúcho nasceu a que já foi considerada a maior rede varejista do país por muitos anos. Advogado de formação, Hermes Macedo deixou o Direito de lado para dedicar-se ao comércio, abrindo uma loja de autopeças junto do irmão, Astrogildo Macedo, em Curitiba, no ano de 1932.

O sucesso era tanto que logo o pequeno comércio era uma grande loja, que vendia muito mais que acessórios para carros, mas também eletrodomésticos, eletroeletrônicos, bicicletas, artigos para o lar e presentes. Nascia no Paraná uma grande rede de lojas que se espalhou, como o slogan mesmo dizia, do Rio Grande ao Grande Rio, tornando-se um ícone que chegava a 285 lojas em 80 cidades de cinco estados. Eram as famosas Lojas HM, que encantavam clientes com suas promoções e celebrações natalinas.

 

 

Diante da matriz, em Curitiba, Hermes e as Lojas HM eram motivo de alegria no Natal, com belas decorações e promoções. Abaixo, um portal em Blumenau, nos anos 70 (Reprodução)

Reconhecido no campo da política – onde foi cinco vezes seguidas deputado federal pelo Paraná – Hermes Macedo faleceria em 1993, aos 79 anos. Seu império também começaria a se desmanchar por volta daquele ano, sendo alvo de sucessivas brigas pelo comando e baleado pela crise econômica remanescente dos anos 80. As Lojas HM fechou definitivamente em 1997.


Abilio Diniz 

O filho de um doceiro português que virou o dono de uma das mais importantes redes de supermercados do país. Abilio Diniz reinou absoluto nos anos 70 e 80 com o Pão de Açúcar (Filipe Araujo / AE)

Esportista e homem de negócios de alta patente no Brasil. Este é o homem que, junto do pai, o alegre padeiro português Valentim Diniz, fundou em 1948 a célula-mater do que viria a ser uma das maiores redes de supermercados do país. O Pão de Açúcar redesenhou o conceito inaugurado ainda na década de 50 com o surgimento do Supermercado SirvaSe, em 1953 e que seria incorporado, posteriormente, pelo grupo em 1965.

Este redesenho feito por Abilio teria a maior marca em 1971. Ousado nos negócios e já com uma rede consolidada de supermercados, ele foi além e trouxe o mundo dos hipermercados ao inaugurar, em Santo André, a primeira loja do Pão de Açucar Jumbo. Os negócios se expandiam, permitindo também a compra, em 1976, da Eletroradiobraz, o que permitiu que o Grupo Pão de Açucar se tornasse o maior do gênero alimentício do país.

 

 

Abílio junto do pai, Valentim Diniz, nos anos de auge do Grupo. Abaixo, o empresário diante da criação que revolucionou os supermercados no país: O Jumbo, em 1971 Reprodução)

Tendo uma vida emocionante, entre revezes nos negócios, sequestro por um grupo guerrilheiro chileno e acusações de pagamentos ilegais, Abilio continuou expandindo os negócios, sendo sócio de empresas como o Ponto Frio e a Casas Bahia. Se retirou dos negócios do GPA em 2013, assim como o resto da família. No entanto, ele não parece cansado dos negócios, tendo adquirido 10% das operações da unidade brasileira do Carrefour, em 2014.


Girsz Aronson 

Um jovem da Lituânia que construiu sua vida com muito tino e paixão pelo comércio. Eis Girsz Aronson, notabilizado como o inimigo numero um dos preços altos Reprodução)

Ele era o inimigo número 1 dos preços altos e foi por este slogan que imortalizou-se no varejo brasileiro. Imigrante vindo da Lituânia, ainda antes de ser dominada pela URSS, Girsz Aronson chegou ao Brasil com apenas dois anos de idade. Aos 10 já trabalhava como vendedor, mostrando seu tino para o comércio ainda na tenra idade, mesmo que os produtos na sua banca eram bilhetes de loteria e jornais.

Aronson abriria sua primeira loja em 1945, vendendo peles finas e bolsas. Só entraria de vez no comércio de eletrodomésticos em 1962, com a G. Aronson, que o consagraria como o rei do varejo. A loja chegou a faturar, em seu auge, cerca de 250 milhões de reais anuais e empregar mil funcionários. Nada que impedisse o velho empresário de ele mesmo atender os clientes na loja principal, munido de uma caderneta e de um sorriso amigo.

A loja, em São Paulo, tendo como mais aplicado funcionário o próprio Girsz, que fazia questão de bater ponto e ajudar os vendedores Reprodução)

Escapou de um sequestro em 1998, mas no ano seguinte não escapou da falência da sua rede, fruto de dívidas contraídas durante os anos 90. Foi um exemplo, pagando tudo o que devia aos funcionários e não deixando-se abater pelo fim da sua marca. Em 2000, aos 83 anos, criou uma pequena loja junto das filhas, chegando a ter três filiais.

Seria empresário e vendedor até onde pudesse na vida, e foi. Faleceu em 2008, vitima de um câncer linfático, mas deixou uma bela história escrita no comércio nacional.


Samuel Klein 

Escapando dos horrores da guerra na terra natal, a Polônia, Samuel Klein trouxe consigo o tino comercial consigo, além de uma proximidade sem igual as camadas mais baixas da população, ávidas por baixo preço e ensinadas na honestidade (Reprodução)

Um polonês que encontrou no Brasil mais do que um refúgio. Fugindo das perseguições aos judeus pelos nazistas na Segunda Guerra, Samuel era um filho de aldeões de uma região isolada da Polônia e tinha como primeiro ofício a carpintaria. Na adolescência, driblando os preconceitos aos judeus, mostrava habilidade nos negócios, vendendo animais, até que os soldados de Hitler invadiram o país, forçando o jovem a fugir de sua terra natal.

Foram anos corridos, ganhando a vida com pequenos comércios, até migrar para o Brasil em 1952, escapando de uma revolução em curso na Bolívia, seu primeiro destino. Ganhou a vida como mascate, vendendo cobertores e artigos de cama, mesa e banho de porta em porta, até se estabelecer e comércio próprio, atendendo principalmente a retirantes nordestinos, que procuravam sua loja para comprar seus produtos para enfrentar o inverno da capital paulista. Desta clientela fiel nasceu o nome da pequena loja: Casa Bahia.

 

A primeira loja de Klein, tendo como nome uma homenagem aos seus clientes mais fieis: Os nordestinos que procuravam São Paulo em busca de novas oportunidades. Hoje (abaixo), uma rede de 560 lojas, sempre fiel a bem atender a faixa de público a qual se propõe e faz sucesso (Reprodução)

De Casa, o comércio passou a Casas, e a Casas Bahia transfigurou-se num império comercial com o passar dos anos, atingindo mais de 560 lojas e tendo o maior depósito de distribuição da América Latina. Seu diferencial foi apostar em ofertas de produtos a classes mais populares, primando e acreditando na honestidade de seus fregueses. Não para tanto, em várias lojas das Casas Bahia, a fila de pagamento das mensalidades de produtos chega a dobrar quarteirões.

Samuel Klein deixou a administração da empresa para os filhos, Michael e Saul, mas não deixou de dar expediente na empresa até a aposentadoria, em 2012. Faleceu dois anos depois, em 2014, vitimado por insuficiência respiratória.


Ernesto Igel 

O mais velho de uma família de cinco irmãos, nascido na Áustria e ex-combatente da Primeira Guerra, Ernesto Igel veio ao Brasil para ser pioneiro na distribuição de gás com a Ultragaz, mas também enveredou no varejo com a famosa Ultralar, do mesmo grupo (Reprodução)

Filho de austríacos e um pioneiro brasileiro. Ernesto Igel era o primogênito de cinco caçulas de uma família que já vivia no mundo do comércio desde os primórdios. Era empregado em uma empresa de importação e exportação aos 21 anos quando foi recrutado pelo exercito da Áustria para a Primeira Guerra Mundial. Voltaria a estar no meio empresarial quando estabeleceu-se no Brasil, em 1920, e foi aqui onde fez um de seus maiores prodígios.

Seria de responsabilidade dele a primeira distribuidora de gás liquefeito de petróleo, o famoso GLP, no país. Igel trouxe a tecnologia da Europa para para o Brasil, onde abriria em 1937 a Empresa Brasileira de Gáz a Domicílio, embrião do que seria a Ultragaz e toda a cadeia do futuro Grupo Ultra, que tinha em seus ramos a Ultralar, rede de varejo criada por Igel em 1956 e que é uma das grandes forças do comércio de eletrodomésticos, eletroeletrônicos e utilidades para o lar, bem como as botijas azuis da Ultragaz que eram também vendidas nas 44 lojas do grupo, em São Paulo, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul.

Veja comerciais com Walter D’Avila e o preferido da marca, Jô Soares:

Um dos braços do Grupo Ultra, a Ultralar era uma potência do varejo, concentrando esforços no Rio, São Paulo e Rio Grande do Sul. Eram 44 lojas bem divulgadas por Jô Soares, o principal garoto-propaganda da marca nos anos 60 (Reprodução)

O período de maior destaque foi nos anos 60, onde a Ultralar chegou a rivalizar em pé de igualdade com outras gigantes do segmento, como a Eletroradiobraz e a Sears. Jô Soares era o garoto-propaganda favorito da empresa, em uma série de comerciais famosos na década, sempre terminados com o bordão clássico na Ultralar da pé!.

Nos anos 80, a loja foi incluída nos planos de desinvestimentos do Grupo Ultra, buscando centralizar-se no mercado de distribuição de gás. A Ultralar bem que tentou acompanhar as mudanças do mercado, mudando de nome (Ultralar & Lazer) e tendo novos donos. No entanto, a falência chegou em 2000. Igel não estava mais vivo para ver o fim dela (e o auge da Ultragaz no anos seguintes). Ele falecera em 1966, aos 72 anos.


Adelino Raymundo Colombo 

Um garoto de 86 anos que não pensa em parar. Adelino Raymundo Colombo tinha o sonho de ser comerciante desde pequeno, e hoje é tão somente o dono de uma rede de 260 lojas, a quarta maior do país (Rodrigo Fantir)

Um eterno garoto que deixa de lado a ideia de aposentadoria sempre que bate ponto no escritório central da empresa fundada por ele em 1959 na simpática Farroupilha, no Rio Grande do Sul. Adelino é fascinado pelo comércio desde a tenra idade vivida no distrito de Nova Milano, naquele município gaúcho. Era o terceiro de oito irmãos e inspirava-se em ser comerciante sempre que visitava uma simpática venda do bairro junto da mãe. Num belo dia, ao ver um dos funcionários do armazém ser demitido, Adelino não pensou duas vezes: Correu para se oferecer a substitui-lo.

Dedicado atendente, Adelino recebeu, três anos mais tarde, o presente que sempre quis: A gerência da loja. Era ali o começo das Lojas Colombo, que de um modesto armazém passou a vender eletrodomésticos e eletroeletrônicos e outras utilidades e presentes. As ideias pequenas deslancharam quando Adelino se associou ao primo e construtor de rádios, Dionysio Maggioni em 1959, ampliando e oficializando a fundação do novo negócio.

Apesar da origem gaúcha, a Colombo é muito conhecida dentro de Santa Catarina, um dos primeiro estados a receber uma das filiais da rede. Adelino as toca sozinho e continua batendo ponto religiosamente na matriz, em Farroupilha. (Reprodução)

Hoje, o modesto armazém do garoto sonhador é a quarta maior rede de eletros do país, com um faturamento anual bilionário e mais de 260 lojas concentradas nos três estados do sul brasileiro. Aos 86 anos, não quer nem saber de fazer sociedade ou de buscar investidores na bolsa. Ele é dono do próprio nariz e da rede que construiu de um desejo infantil há quase 60 anos.


Luíza Trajano Donato e Pelegrino José Donato 

Uma história de amor que entrou para os anais do varejo, Luiza e Pelegrino tinham muito mais em comum do que apenas o tino comercial. Desta relação nascia o Magazine Luíza, uma gigante do varejo de eletros nacional (Reprodução)

Um casal está por trás da história de sucesso de uma das maiores lojas de eletros do país, talvez uma das mais populares na boca de muitos consumidores. Foi em meados de 1956 que o caixeiro-viajante Pelegrino José Donato acabou parando sua vida de viagens como vendedor em Franca, no interior de São Paulo depois de conhecer uma simpática balconista de uma loja local chamada Luíza Trajano. O amor foi a primeira vista e o casamento prosperou até mesmo nos negócios, que no ano seguinte adquiriram uma modesta loja de móveis e eletrodomésticos para continuar a vida e o trabalho.

Ao mudar o nome da loja, Luíza e Pelegrino tiveram a feliz ideia de fazê-lo através de um concurso em um programa de rádio. A consulta popular apontou a marca que seria consagrada com o tempo no país: Magazine Luíza. O nome da loja pegou entre a população e a pequena loja ficou movimentada, tendo como diferencial o atendimento feito pelo próprio casal de donos. A família de Luíza entra em sociedade na empresa, que lentamente começa a crescer nos anos 70, sempre de forma sólida e rentável. Nos anos 80, a empresa implanta um sistema computadorizado para o controle do estoque, o primeiro no país.

 

A primeira loja, em Franca. Nome escolhido em um concurso num programa de rádio. Hoje, uma potência que arrebanha clientes no Brasil inteiro, especialmente em dias da Liquidação Fantástica (abaixo), tacada ousada da rede (Reprodução)

Durante os anos, o Magazine Luíza encontrava em tacadas certeiras e projetos ambiciosos a fórmula mágica para continuar crescendo e aparecendo no varejo nacional. Já no comando da sobrinha Luíza Helena Trajano, em 1992, a marca lançou mão de uma iniciativa ainda desconhecida, mas que seria sucesso nos anos seguintes: A Loja Eletrônica Luíza (hoje Loja Virtual), uma espécie de loja sem produtos, apenas um mostruário virtual conduzido por um atendente. No ano seguinte, a empresa lança a primeira Liquidação Fantástica, que acabaria virando tradição e tendo o molde grandioso copiado por outras redes de varejo.

De um pequeno comércio na cidade do calçado, o Magazine Luíza é presente em 16 estados, com aproximadamente 790 lojas e 20 mil funcionários às ordens dos fregueses que dia a dia adentram as filiais em busca de um novo produto. Cada uma das lojas carregando o amor ao comércio e ao trabalho cultivado por Luíza e Peregrino há 60 anos atrás.

Luiza Helena Trajano, a sobrinha herdeira do império dos tios, e que o comanda com vigor há mais de 20 anos (Reprodução)

Luciano Hang 

Ele é seu dono e não deixa dúvidas. Luciano Hang revolucionou a forma de como se faz uma rede de lojas de departamentos no Brasil. E tudo começou quando tirou a Havan do centro de Brusque para coloca-la na entrada da cidade, de uma forma que o Brasil jamais vira igual (Claudia Baartsch / Agencia RBS)

Se, hoje, ela é a maior loja de departamentos do Brasil e uma das poucas sobreviventes das mudanças de mercado dos anos 90, ela deve muito disso a mente criativa de seu dono. Batendo no peito e confirmando sua posição de dono, Luciano Hang é um dos nomes mais consagrados no varejo brasileiro, com uma história que começa no longínquo 1986, na Rua Primeiro de Maio, no centro do berço da fiação catarinense: Brusque.

Luciano já tinha dom para o comércio desde os nove anos de idade, quando revendia balas e biscoitos dentro da escola onde estudava. A dislexia não impediu que aprendesse muito e demonstrasse que o tino empreendedor tinha que ter uma dose de ousadia. Naquele 1986, percebendo que o turismo de compras em Brusque crescia, Luciano se juntou a Vanderlei de Limas, criando a Havan (mescla dos nomes Hang e Vanderlei). O espaço da pequena loja logo ficou pequeno para a demanda e as mudanças no mix de produtos feitas pela dupla de sócios, forçando, em 1989, a mudança para a Rodovia Antônio Heil, num imóvel bem maior.

A primeira Havan ao estilo Casa Branca, na Rodovia Antônio Heil, em Brusque. Daqui, Hang partiria para a construção de um império de números grandiosos. E a meta é grande: 100 lojas pelo Brasil (Reprodução)

No entanto, Luciano não se contentou em ficar parado como um mero comerciante. Mesmo sem contar mais com o sócio de outros tempos, seguiu buscando caminhos para se destacar entre os demais, e conseguiu. Atualizando-se em técnicas comerciais modernas no exterior e criando uma identidade ousada para a marca, a Havan ficou conhecida no Brasil como a megaloja em forma de Casa Branca, tendo a frente uma réplica da Estátua da Liberdade. As ampliações e caracterizações foram feitas entre 1994 e 1995. A estratégia deu certo e, logo, a Havan era mais do que uma loja que, aos poucos, virava uma loja de departamentos: Era uma atração turística que arrebanhava famílias para aquele pedaço da Antônio Heil nos fins de semana.

Sempre a frente do seu tempo, Hang orgulha-se da estratégia ousada que tomou há mais de 20 anos e colhe os resultados: A Havan já ultrapassou as 100 lojas mesmo com todos os revezes da economia brasileira e mundial. As inovações não param, os eventos também, e a marca é mais do que sinônimo de empreendedorismo nos dias atuais, mas também de ousadia no varejo brasileiro.


Ricardo Nunes

De vendedor de mexericas a dono de uma poderosa e jovem rede. Ricardo Nunes não é apenas o dono, mas um garoto-propaganda direto, que desafia o cliente na busca pelo melhor preço (Reprodução)

Nos comerciais, ele incorpora o estilo louco de ser o dono-garoto de propaganda. A frente da loja que nasceu junto da família – a Ricardo Eletro – Nunes é um empresário bem oposto de Hang na TV e bem diferente entre os tantos varejistas do país. É direto, enfático nas mensagens transmitidas, desafiando o cliente. Não é a toa que, depois de 2010, Ricardo ficou ainda mais incisivo e direto. Afinal, é dele 72% da propriedade do Grupo Máquina de Vendas, uma fusão entre nomes clássicos do comércio de eletros e gêneros no país.

Ricardo começou na vida comercial ainda aos 12 anos, digerindo a perda precoce do pai vendendo mexericas na rua. Seis anos depois, virou transportador de bichos de pelúcia, levando-os de São Paulo a sua cidade natal, a mineira Divinópolis. Foi lá naquele cantinho de Minas que Ricardo deu start na sua grande iniciativa, a Ricardo Eletro, junto da família. Curiosamente, ela só vendia pelúcias no início, passado aos eletrodomésticos posteriormente.

No começo, vendendo apenas pelúcias. Hoje, a Ricardo Eletro tem consigo, no Maquina de Venda, mais quatro lojas, numa rede que conta, hoje, com 1100 lojas no país (Reprodução)

A Ricardo Eletro experimentou, durante os anos 90, um crescimento espantoso, alcançando 268 lojas integrantes da rede. Nada mais que a terceira maior rede varejista do país, atrás de Casas Bahia e Magazine Luíza. Em 2010, o grande passo de Nunes: Ele incorpora da rede baiana de Lojas Insinuante, formando a Máquina de Vendas, tomando a ponta entre as redes do país. Ao mesmo passo, incorporaria ainda as operações da Eletro Shopping (Pernambuco), Salfer (Santa Catarina)City Lar (Mato Grosso), formando uma cadeia de – pasme – 1100 lojas em 442 cidades dos cinco estados em que está presente.

Não há limites para as ambições do garoto vendedor de mexericas, que desafia o cliente de qualquer um dos cinco estados a lhe visitar. Onde Ricardo Nunes pode parar? Ainda não sabemos.

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