Nosso estilo X padrão social

Tem vezes que o mundo a nossa volta age como juiz de nós mesmos. Tudo o que pensamos, fazemos, usamos ou gostamos está constantemente, embora velada ou diretamente, sendo julgado analisado, dissecado e, na maior parte das vezes, condenado. E condenação esta que parte de uma visão padrão de uma grande parcela do meio que observa o seu estilo, seu pensamento ou seu jeito de ser como diferente, que não se enquadra, que é reprovável ou simplesmente que é feio.

E por estes tempos, esbarrei novamente nesta discussão tomando como exemplo um hábito que ajudou até a dar nome a este blog: há cinco anos, mais ou menos, adotei uma simpática boina preta como parte de meu figurino diário. Não foi apenas por gostar ou achar-me bem ao usa-la em qualquer tempo do ano como algo que me identificasse e me fizesse sentir “mais eu”, ela tem seu simbolismo, vem de meu saudoso avô, Godofredo Heiden, que utilizava um modelo branco, tornando isto uma de suas marcas registradas com o passar do tempo.

E olha que motivo para larga-la eu teria: ganhei minha primeira boina no tempo que namorava, “presente da ex”, alguns vão dizer. Mas como não guardo rancores, deixei como está, até como lembrança de um bom tempo vivido. Mas enfim, sei que qualquer tipo de chapéu não é de se usar frequentemente ou em todo o lugar. Sei bem os limites com ela, especialmente com relação ao meu cabelo.

(Arquivo pessoal)

A boina tornou-se uma simples companheira minha, já viveu grandes histórias e trabalhos ao longo deste tempo todo que está em minha cabeça. Parece a descrição de um ser humano, mas é para tanto quando o assunto é algo que usamos e que nos faz sentir-se bem, ser mais você mesmo, sem se preocupar com o que os outros possam pensar.

E ai que propositalmente esbarro nesse pensamento, naquilo que neste mundo dito moderno incomoda a mim e a tantos outros: a velha disputa entre aquilo que me fazer sentir bem contra o que os outros pensam e o que o mundo impõe ou pensa. Um debate que vez em quando toma conta de rodas de conversa e bate-papos informais: afinal, por que o meu estilo, minha forma de vestir e de me expressar incomoda tanto o vizinho?

Difícil de entender onde quero chegar? Para compor este raciocínio, percorri vários sites de moda jogados pela internet atrás da resposta para aquela afirmação boina é coisa de velho. Curiosamente, e apoiado naquilo que dizem que a moda “anda em círculos”, me correu certa alegria ao ver que a visão da boina como algo antigo e de um idoso anda sumindo, sobretudo no inverno. O acessório tem caído no gosto de muitos camaradas que a usam em qualquer estação, como reflexo de um estilo ora despojado ou clássico.

Mas, falando assim, até parece que estou buscando justificativa para mostrar a quem está lendo que boina não é “coisa de velho”. Mas esta reflexão não fica apenas na questão boina e ai entramos ainda mais profundamente neste julgamento sem noção feito pela sociedade em geral, que determina incisivamente o que você deve usar para ser “parte do todo” sem ser tachado de “anormal”.

(Reprodução)

E ai, a boina é só um entre tantos. Tatuagens, cabelos, pelos, barbas, roupas, acessórios, trejeitos… A exceção do ambiente profissional, onde há certas regras certas (e algumas duras e sem noção), itens como estes são constantemente fichados, tachados, rotulados e colocados a margem do que é considerado aceitável. E as justificativas são as mais variadas, senão as mais bisonhas: “você não vai arrumar namorada(o) assim”, “não combina com você”, “é anti-higiênico”, “pessoa assim é muito suspeita” e o clássico “é feio”, e por ai afora…

Mas ai você pergunta a mim: “sim, e os consultores e personal stylists não fazem exatamente isso?” E, de fato, no mundo moderno estamos cercados destes profissionais com suas dicas e teorias que fazem-nos entender – até de forma simples – como se compõe o estilo da pessoa. E não só eles como os ditos “digital influencers”, aqueles que captam a ideia e se botam como conselheiros de estética.

Ouvi, numa certa feita, minha querida prima Ana Heiden, cujo talento na consultoria de moda me surpreende dia a dia, que mesmo a boina destoada “ela faz parte do que você é, do seu estilo pessoal”. Não vou lembrar da frase exatamente, mas algo como “este elemento faz parte de você e respeito isso”, algo que me impressionou muito por sinal. Não é desmerecer o trabalho destes profissionais, ele é deveras importante e merece seu lugar, sempre!

Mas, fora deste mundo, voltamos ao planeta dos comuns, e volto a perguntar: Até onde você acha que vai o limite entre o que você pensa sobre estilo certo e o estilo que faz bem a seu amigo, parente, amor ou o que for? Algum momento, você já parou para pensar que este comportamento de manada, de apontar quem destoa do padrão social, está sendo cruel até mesmo com seu mais próximo?

Em um mundo tão vasto, com mais de sete milhões de seres povoando as placas tectônicas, é impossível ditar o que é correto ou não para o estilo de alguém. Dia a dia, momento a momento, alguém é julgado, analisado, condenado por este tribunal informal. Alguém é forçado – por si mesmo ou por outros –  a integrar um padrão de beleza e estilo que não é o seu em busca de uma aceitação, de uma normalização entre os demais ou, simplesmente, em busca de um amor, numa verdadeira caça as bruxas contra tudo que não faz parte deste padrão montado.

E nem preciso dizer que tudo isso traz consigo todos aqueles transtornos sociais que, dependendo de casos e casos, leva a doenças mentais ou físicas. O sentimento de isolamento e de exclusão que deprime; a busca pelo corpo perfeito que, muitas vezes, fragiliza e, em alguns casos, mata; a busca pela aceitação ao seguir modismos efêmeros criados dia a dia para vender, faturar ou, simplesmente, alienar. Não é exagero, o comportamento de quem julga tem quase sempre estes fins.

E se sair do padrão “é crime!” Feliz eu e tantos outros que são verdadeiros delinquentes neste mundo de iguais conformados ou forçados. O que faz bem mesmo, independente do que o outro pensa, é você ser você mesmo, usar o que te faz bem, agir com seu jeito autêntico de ser (o melhor jeito, claro), sem rótulos ou julgamentos baseados no que a sociedade dita.

A marca registrada de alguém pode ser aquilo que não agrada você e seus pensamentos, mas aos olhos de outros tantos o estilo próprio é algo que representa, fielmente, o seu eu mesmo. Aquele detalhe revelador da verdadeira pessoa que você é dia a dia, em todo o lugar, com todos os seus amigos e parentes. Aquilo que faz você ser especial e que te faz bem, pura e simplesmente.

Não importa se você usa boina e te chamem de velho, se você tem dreads e lhe chamam de largado, se você usa barba do seu jeito e lhe tacham de relaxado ou se você usa uma roupa diferente e te olham com desprezo velado… VOCÊ É QUEM VOCÊ É, e você é especial do jeito que você é. O seu conteúdo, o que você demonstra aos outros deve sempre ser seu cartão de visitas onde seu estilo pessoal é o detalhe decorador que fará você ser lembrado onde for.

Você constrói sua imagem mesmo a custa de incompreensões, mas é seu interior que vai dizer ao mundo quem você é no final das contas. É duro ir contra a maré, mas no fim o que prevalece é o seu eu e nada mais, independente se o que os outros pensam ou a moda pensa não seja o que você veste e acrescenta ao seu estilo pessoal.

E aos que falam (a exceção dos profissionais), revejam seu comportamento… nem sempre uma boina diz algo sobre alguém. E assim, a boina… o dread… a tatuagem… a barba, os pelos… eles vão continuar no mesmo lugar de sempre: na composição de cada ser humano diferente deste universo, sendo especial a sua maneira nesta luta doida contra os padrões que não existem para quem sabe ser você mesmo.

E tenho dito!

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