…em algum lugar se esconde o som de outrora.
Tudo escuro, a voz travou, mil e uma memorias vindas ao mesmo tempo, misto de saudade, nostalgia, reverencia, dores e vitórias. Seis anos, do ponto final até estas semanas atrás. Um último ato que foi tão rápido, repentino, pegou a tantos de surpresa e não permitiu nem mesmo uma solene “passagem de bastão”. Típico, como poderia esperar da frieza daqueles dias…
O que restou é pouco, está escondido em um canto frágil duma quadra que nos viu tantas vezes. Entre a efervescência e a explosão da adolescência, fazendo a musica acontecer, corações e palmas baterem em sincronia, pais e comunidade solenemente contemplavam a chegada daquela tropa em vermelho-e-azul, com seus quepes-barretes e pontas de pluma branca.
Aqueles dias entre 2001 e 2018, a sucessão de momentos como estes embalados entre a cadencia do ritmo e o metrônomo da vida, par e passo evoluindo e tornando o ambiente da banda uma espécie de roupa apertada, que não servia mais na vida acelerada do jornalista. Do início ao fim, do auge ao silêncio, parece que tudo foi rápido demais.
Não vou contar o que vi, pois isso exige tempo e alicerces firmes para voltar à velha e incompreendida glória. E ainda há tempo para ela? As gerações mudaram, ainda mais rebeldes e incontroláveis, exigem e são mimadas, valores são invertidos e a música é tachada de careta e “militar” se tem este jeitão de tropa incluso.
Como incutir nestas mentes de hoje valores que vem deste mundo chamado fanfarra? Sem disciplina mínima não há música que se faça, não há desfile nem senso de coleguismo ou cooperação. Eu mesmo não me vejo professor, nem gostaria. Responsabilidades pesadas não combinam mais com a minha rotina, seria um suicídio voltar com meu comando atabalhoado, admito fortemente.
Misturaram os sentimentos naquela penumbra, naquele escuro cru, ruidosamente silencioso. Avaliava os restos, devaneava sozinho com o passado adolescente, cheio de ansiedade e imaturidade normais daqueles tempos, relembrava detalhes do tempo de comandante. Eram 17 anos, e o último membro fundador estava ali, diante do que havia ficado para trás, os restos.
Eu recebi o bastão de um posto “vacante”, posso assim dizer. Antes de mim – e falo com a boca cheia e sem arrependimentos – o gigante Gian Carlos Candido tinha sido o máximo de teoria e prática musical que tive. Dos tempos de aluno inquieto, entre surdos-moor e bombo, me vi na posição dele, sempre ladeado de grandes amigos para me ajudar a manter esse barco em pé até a hora que desse. Não poderia prever o fim do ciclo, mas alguém pode?
De minha parte, nunca passei o bastão e tem quem me olhe atravessado até hoje por não entender decisões que tomei lá atrás, com essa frieza sem sentido de adultos frios e calculistas. Nunca entenderiam e não me dou ao trabalho de fazer entender. Olhando aos que me acompanhavam de longe, remanescentes das fileiras passadas, eu entendo agora (e tardiamente) o que é esse passo da vida: evoluir e seguir a vida, mesmo que as despedidas pedem que a música pare de ressoar.
Ah, danem-se! O que importava era o nome da escola, da corporação, aventuras e gana de fazer o melhor. A MÚSICA, sempre ela, a que muda tudo, como dizia Stephany Sander. Como mudamos ambientes e pessoas, por mais complicado que fosse o espetáculo, por mais difícil que fosse a música, eram aquelas seis letras de um acróstico que tinha seu respeito e, hoje, tem cargas de saudade de muitos (e como, pode crer!).
Fui chamado outra vez. Não para ensinar, mas para ajudar. É o que me vejo fazer apenas e simplesmente. O que virá em breve? Ainda não sei, tudo é um mato que tomou conta do futuro, mas não posso dizer que não da mais… ou posso?
Enfim… emoções! A FAJOMA sempre tem esse gosto de outra casa, meu momento com a musica, minha saudade juvenil. Tranquei a sala e as lembranças, segui para fora do ginásio apenas ouvindo as vozes despreocupadas da adolescência. Eles mal sabem do que fazíamos ali dentro naquelas sextas-feiras eternas e juvenis.
O que vem ai? Aguardemos…
Avante, FAJOMA!
Sensacional…