Renascim: Os fabulosos almanaques farmacêuticos (que nunca morrem!)

Seus pais, tios ou avós já devem ter aparecido em casa com um destes depois de uma visitinha a farmácia do bairro. Pequeno, recheado de curiosidades, piadas, advinhas, dicas caseiras, calendário lunar e previsões astrais, sempre com uma bela mulher ou uma paisagem de capa. Hoje, naturalmente, é algo mais cult, mas em tempos mais remotos, era um baita informativo para o ano todo.

Edição de 1908 do Pharol da Medicina, o primeiro almanaque de farmácia brasileiro, lançado no Rio em 1897 (Reprodução)
Edição de 1908 do Pharol da Medicina, o primeiro almanaque de farmácia brasileiro, lançado no Rio em 1897 (Reprodução)

Tradicionais e nostálgicos, os almanaques farmacêuticos passaram de antiquadas publicações ao status de relíquias altamente valiosas e colecionáveis, uma verdadeira mina de história e costumes resumida em algumas poucas páginas. Parado em casa na manhã desta terça-feira passada, percebi na mesa da cozinha um pedaço dessa história que nunca morre. Era uma antiga edição do veterano Almanaque Renascim-Sadol, publicado anualmente pelo Laboratório Catarinense desde a fundação da empresa, em 1945, na sempre bela cidade dos príncipesJoinville.

O Renascim é só uma pequena parte de uma história longa destas publicações que atravessam décadas e nunca deixam de estar nas farmácias brasileiras. Há quem não as encontre mais pelas drogarias de confiança, mas alguns afortunados como eu e outros tantos ainda desviam os olhos e garantem sabiamente um exemplar, distribuído gratuitamente.

O pioneiro foi o Pharol da Medicina, publicação elaborada com o patrocínio da Drogaria Granado, do Rio de Janeiro (sempre o Rio), em 1887. A partir dele, as publicações que se seguiram copiavam os moldes do pioneiro. O Almanaque trata-se de uma publicação anual que traz dicas para o lar, datas boas para pesca e agricultura, horoscopo, curiosidades, anedotas, adivinhações, tudo para cada mês do ano. Era um verdadeiro guia de bolso, da mãe em dúvida ao aluno curioso, do agricultor ao pescador.

Edição de 1943 do Almanaque do Biotônico Fontoura. Primeiros números tiveram ilustrações e foram editados por Monteiro Lobato (Reprodução)

É dito que o mais conhecido do país foi o Almanaque Fontoura, criado pelo farmacêutico Cândido Fontoura, o criador do famoso fortificante Biotônico Fontoura. O que o faz tão conhecido e lembrado pela história é pelo fato de a ideia geral do anuário partir de um dos maiores gênios da literatura nacional: Monteiro Lobato. Amigo de Fontoura – e a qual devia uma por ter-lhe curado da fraqueza com o fortificante – era Lobato quem ilustrava e editava o Almanaque nos primeiros idos, dando-lhe personalidade e qualidade sem igual. A publicação esteve presente nas farmácias nacionais de 1920 até meados da década de 90, chegando a ter tiragem de 100 milhões de exemplares anuais em um período (tiragem de 1982).

Esta e outras tantas publicações, com o passar dos tempos, deixaram de ser simples peças antiquadas de um passado distante e passaram a ser exemplares ricos em história e simbolismo. Alguns exemplares, que no tempo de glória eram distribuídos de graça, são disputados atualmente a preços de ouro por colecionadores e sebos, por valores que variam entre R$ 15 a R$ 100, dependendo do valor histórico e se é um pacote com determinado número de almanaques.

De apenas lembranças do passado, os antigos almanaques viraram peças de colecionador, com preços que variam de R$ 15 a R$ 30 a unidade ou até R$ 100 se comprados em lotes como este da imagem (Mercado Livre)

Apesar do desaparecimento do Almanaque Fontoura, outros persistiram e seguem na trilha até os dias atuais, como é o caso do Renascim. Destaco especialmente nesta edição uma preciosidade que tenho ainda hoje guardada, até como recordação de meu saudoso avô, Godofredo Heiden. É um pequeno exemplar do Renascim de 1979, que além do conteúdo padrão de todo Almanaque, traz uma curiosa história em quadrinhos em que um barbeiro contador de histórias (Zé Navalha) e o filho curioso (Brasílio) viajam o Brasil atrás de histórias e pontos turísticos conhecidos.

O andamento do conto é meio forçado em alguns momentos, especialmente na hora de inserir propaganda (vale lembrar, o Renascim é um informativo publicitário do Laboratório Catarinense), mas é uma curiosa peça de fim de anos 70 que vale a pena ser lida e contemplada, especialmente pela capa que traz os vários tipos brasileiros em confraternização. Dentro, além dos quadrinhos e dicas, um desfile de marcas tradicionais do Laboratório, algumas até hoje na ativa, como Balsamo Branco (Boettger), o próprio Renascim, Melagrião, Sadol, Alicura, Figatil, Camomila Rauliveira (Camomila Catarinense), Água Inglesa, Catuama e outros tantos.

Veja algumas páginas do Renascim de 1979 (desculpem os rabiscos, coisa de meu tempo de guri pequeno):


Ah! Vale dizer que cada almanaque vem com a inscrição da farmácia (ou, naquele tempo, ponto de venda de medicamento, que podia ser uma pequena vendinha) que o cedeu. Neste de 1979, a recordação da antiga casa comercial de Max Klabunde, à época localizado no nº1940 da Rua Progresso, próximo a EEB Padre José Maurício.

Portanto, se você é um afortunado cujos parentes guardavam os Renascim a cada ano, guarde-os com carinho. Nunca se sabe quando você, no futuro, terá uma peça história de valor inestimável e que pode até lhe valer alguns bons trocados.

5 comentários em “Renascim: Os fabulosos almanaques farmacêuticos (que nunca morrem!)”

  1. André!
    Show de bola essa postagem sobre o Almanaque Renascim.
    Só uma ressalva amigo. Se você possui alguns exemplares, jamais venda meu caro, deixa de ser “zolhudo” por dinheiro, isso é coisa antiquário, você é pesquisador e lembra que vai montar um museu.
    Estou também colocando essa matéria em meu Blog, pois fala do teu avô e do Mercado do Max Klabunde. Alias procure escrever sobre este antigo Mercado é importante, consulte o Beto Klabunde.
    Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.

  2. Usei o Almanaque Renascim como uma das tantas outras fontes necessárias para escrever meu livro Verde Vale, que se encaminha para a 14ª edição. Consultava nela as épocas de semeaduras e plantios da lavoura.
    Como viver sem um almanaque Renascim?
    Abraço,
    Urda Alice Klueger

  3. Desde criança aprecio os almanaques de farmácia e eles evoluíram com o tempo me acompanhando durante meus 63 anos Seria uma pena não continuar sendo distribuídos. São importantíssimos para nossas famílias desde os suplementos e plantio até às páginas de lazer. Parabéns aos idealizadores. Um grande abraço.
    Roseara Maxwell

  4. Bom dia.
    Vendo estas publicações, voltam as grandes e boas lembranças do tempo de infância. Aprendi muito graças aos almanaques. Ficava ansioso quando não encontrava as respostas de algumas curiosidades, pois ficavam nas últimas páginas e um pouco ” escondidas”. Tenho algumas publicações adquiridas em farmácias, a mais antiga é de 1971;
    ainda estão bem conservadas, pois são guardadas com muito carinho.

  5. Voltei aos meus dias de infância. Eu e meu irmão líamos esse periódicos. Inclusive o da Bristol e o famoso “Almanaque do Pensamento”. Excelentíssima, essa matéria. Parabéns pelo compartilhamento.

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