Carlos e eu

“Qual a tua possibilidade de morar sozinho?”

Esta pergunta sempre aparece rebobinada na minha mente até hoje. Uma questão apenas, oração simples, direta e determinada. Uma provocação que pode mudar direções de qualquer um, para um bom ou mau caminho. E, felizmente no meu caso e no de quem estava a minha frente, foi um caminho rico e, por que não, inesquecível.

Era dia de semana, conversas profissionais e projetos a vista. Do outro lado da mesa, entre mil ideias e planos apostando num futuro ainda desconhecido e possível, o meu primeiro parceiro de microfone nestas esquinas do rádio. Talvez seja a primeira vez que reflito e reverencio em linhas esta passagem com o sábio Carlos Henrique Roncalio, e sinto-me em dívida depois de tanto tempo passado e aprendizado na aventura marcante que fora a Rádio Página 2 (PG2).

Abro novamente o baú de dois anos atrás: dias corridos, alguns estresses e tensões (faziam parte!), mil e uma lições e janelas abertas que reverberam vozes e oportunidades até mesmo hoje. Tudo isso, como dissera, começando com uma pergunta simples entre vais-e-vens de um Cafehaus cosmopolita. Timbó passou de campina distante a segunda-casa, era a profissão e a vida correndo juntas, que riqueza!

Tudo em volta de nós era novidade dentro daquele acanhado apartamento no 141 da Rua Recife. Eramos eu, o sempre tranquilo Tiano Ritzke e o Carlos, dividido entre empolgação do novo e os próprios desafios da vida. O cara que, nos compêndios do rádio do Vale, foi um dos homens que “reinventou a roda” na maré jovem dos 1260 da Rádio Blumenau, e “reinvenção” era o que ele mesmo vivia justo com tecnologias e pensares da comunicação visionários para a realidade daquele 2017

Eu era um moleque ainda entendendo o tamanho das responsabilidades. Mesmo com o estresse das novidades e a pressão de entregar o melhor, procurava assimilar tudo o que fosse possível, dos bons ou maus momentos. Tudo fazia parte, dentro e fora da caixinha da PG2, era vida e profissional juntos, entremeados, numa constante realidade impossível de não absorver ensinamentos para ambos.

Uma passagem, a desta foto do post acima, é marcante: Carlos chegara em Timbó há muito tempo antes de tudo isso, acolhido pela Cultura AM e lá ficou e fez o nome por anos até alçar voo de lá e passar um período pela 92 FM, tudo isso antes de embarcar na novidade que era o webradio. Com honra impossível de se esconder, estive com ele justamente nos dois últimos programas pela querida casa do sempre amigo professor Tibério. Estava fazendo o que gostava, oportunizado finalmente depois tanto aguardar a chance de mostrar o amor pelas ondas hertzianas e pela rotina “na latinha”.

Foi um período curto demais para uma história revolucionária, é verdade, mas rico, cheio de experiências para a profissão e para a vida. A cada visita à Timbó, esbarro em amigos e amigas que até hoje, entre resenhas e papos, não escondem eles as lembranças daquele e apartamento e do quarto de casal feito estúdio de rádio.

E tudo começou com aquela pergunta despretensiosa num café movimentado. De fato, não era nosso primeiro encontro, mas um momento capital como aquele é a diferença entre o desafio, o bom risco da aventura ou o imobilismo. E ainda bem que o ser humano, quando ele coloca na cabeça o sonho, não tem psicólogo que tire da mente, e os desafios vindouros são ainda mais prazerosos como foi este.

Onde Carlos estiver, e eu sei que me acompanha de alguma forma, que a gratidão por tanto viaje nas mesmas ondas de rádio que tanto militamos e trafegamos com nossa voz. Uma hora, a gente toma outro café, quem sabe com outra pergunta capital e marcante como foi aquela.

Nunca deixe de sonhar alto e tentar o novo. Carlos o busca até hoje, e está mais vivo do que nunca, não é?

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