F1: 22 corridas depois, Vettel acerta estratégia e vence em Singapura

E depois de um período de chiliques, erros e pesadelos sem fim, eis que o “Bastião” resolve acertar a mão e voltar a fazer aquilo que, algum tempo atrás, era muito bem acostumado a fazer: vencer. Foram 22 corridas de um jejum incômodo que assistiu de derrapadas e acidentes, punições e a ascensão do companheiro de esquadra até chegar ao momento máximo nas ruas escuras de Marina Bay, em Singapura.

Foi, no geral, uma corrida bem menos empolgante do que as últimas provas da temporada, mas que deixou as suas curiosidades no ar. No contexto geral, Vettel teve que travar uma briga estratégica para tomar a ponta de Charles LeClerc, novamente o nome do fim de semana com mais uma pole anotada com uma volta sensacional para roubar do mesmo Seb a posição de honra no grid.

Vettel a frente de LeClerc, a estratégia certa para levar a Ferrari a terceira vitória seguida nesta segunda metade de 2019 e para quebrar seu jejum que perdurava desde a Bélgica, no ano passado (AFP)

Durante a prova, a batalha psicológica entre os dois teve seu ápice entre as voltas 20 e 21, quando na estratégia e na famosa “volta antes da parada” Vettel foi preciso e conseguiu passar a ponta, para a fúria do menino LeClerc. Nas voltas finais, mesmo tentando os ataques que podia tentar, foi, de certa forma, “compelido” pela equipe no velho discurso de “trazer as crianças pra casa”. Restou a Seb não cometer erros, aproveitar bem o arranque nas relargadas e correr pro abraço para mais uma vitória no caderninho.

O temperamento de Chalinho foi testado pela primeira vez, e novos desdobramentos devem vir para frente. Nota-se que LeClerc não é de levar desaforo pra casa ou, simplesmente, engolir uma derrota nem que ela seja para seu companheiro. É notável, e todo fã da categoria sabe que, em primeiro lugar para qualquer piloto de Maranello vem a própria Ferrari, o que é inegável e faz parte há tempos da filosofia do time. Mas Charles não é de ficar quieto, pode parecer meio chiliquenta agora, mas é bom ter cuidado, o garoto tem talento e não tolera ser coadjuvante por qualquer coisa.

Hamilton tentou, mas o jogo de estratégia e o desempenho deixaram a Mercedes como a coadjuvante de luxo em Singapura (AFP)

Mas enquanto a Ferrari fazia o seu e escrevia a história do GP, a Mercedes assumiu desta vez o papel do coadjuvante de luxo tantas vezes reservado a casa de Maranello. Lewis Hamilton, mesmo largando na primeira fila, foi derrotado tanto pela boa estratégia vermelha quanto pela da turma do touro, que levou Max Verstappen a um bom terceiro lugar. O titulo ainda é do inglês se uma hecatombe não acontecer, mas ver os prateados pela segunda vez fora de um pódio – e desta vez com ambos na pista – é sinal de que o trem deu uma igualada interessante, para o começo de preocupação de Toto Wolff.

A terceira vitória consecutiva da Ferrari na segunda metade da temporada não significa um prelúdio de uma briga e não apenas que o time rosso achou a mão do carro. A esquadra ainda acredita no bólido deste ano e as atualizações fizeram muito bem ao carro e a moral do time. No entanto, a Mercedes já pensa em 2020 e, mesmo já preocupada com a ascensão dos rivais, tem olhos para a outra temporada prevendo novas provas com dominância para o próximo ano.

Por enquanto, o status do campeonato é este, Enquanto Hamilton observa de camarote, a Ferrari vai recuperando o tempo já bem perdido e uma briga interna pode estar crescendo por aqueles cercados tão vermelhos.

Verstappen foi o terceiro, mesmo enfrentando ainda a falta de performance da Red Bull pra cima de Ferrari e Mercedes (AFP)


OS 10 MAIS – Classificação:

1 – Sebastian Vettel (Ferrari)
2 – Charles LeClerc (Ferrari)
3 – Max Verstappen (Red Bull-Honda)
4 – Lewis Hamilton (Mercedes)
5 – Valtteri Bottas (Mercedes)
6 – Alex Albon (Red Bull-Honda)
7 – Lando Norris (McLaren-Renault)
8 – Pierre Gasly (Toro Rosso-Honda)
9 – Nico Hulkenberg (Renault)
10 – Antônio Giovinazzi (Alfa Romeo-Ferrari)

LeClerc cumprimenta Vettel. O monegasco chiou contra a falha da estratégia e parece não querer saber muito da velha história do “Ferrari em primeiro lugar” quando o assunto é ser competitivo (AFP)

OS 6 MAIS – Campeonato:

1 – Lewis Hamilton (296)
2 – Valtteri Bottas (231)
3 – Charles LeClerc (200)
4 – Max Verstappen (200)
5 – Sebastian Vettel (194)
6 – Pierre Gasly (69)


AMENIDADES:

– Ainda tenta-se entender a cabeça dos mandatários da Haas que decidiram, na última semana, pela permanencia da dupla atual no time. Romain Grosjean e Kevin Magnussen só perdem em fraqueza para as Williams (por motivos técnico muito óbvios), pois mesmo com um carro razoavel, ambos conseguem protagonizar atuações dantescas. Enquanto o francês tira adversário da prova, o dinamarquês toma passões um atrás do outro. Deprimente…

Grosjean a frente de Hulkenberg. Os fãs da categoria ainda tentam entender os motivos para a Haas manter tanto ele como Magnussen como a dupla do time mesmo depois de um ano tão fraco (AFP)

– A Renault continua experimentando uma ligeira melhora na sua performance em treinos, mas desta vez reverteu em muito pouco na corrida. Daniel Ricciardo teve problemas com um pneu furado e não chegou aos pontos, enquanto Nico Hulkenberg aproveitou-se das bolas divididas e cravou um modestíssimo nono lugar no frigir dos ovos.

– Foi interessante observar as brigas em que se envolvia – e com gosto – o garoto Lance Stroll. Os ares da equipe do pai parecem ter feito bem ao garoto que, mesmo não tendo pontuado por conta de um pneu furado, protagonizou algumas manobras interessantes. Está aprendendo bem e com calma. Já Pérez continua no obscurantismo.

Stroll anda aprendendo, mesmo fora dos pontos, algumas manobras e brigas interessantes com o canadense (AFP)
O momento de Giovinazzi: líder nas ruas de Marina Bay, fato que não acontecia com um italiano desde 2009 e com a Alfa Romeo desde 1983 (AFP)

– Safety-car virou mania na F1. Basta um espirro atravessado e tome o tio Maylander na pista com seu AMG. Na metade final da prova foram nada mais que quatro entradas. Exagerado para não dizer patético.

– E o lance mais zoeiro da prova – talvez o melhor – foi quando os pilotos com pernas mais longas de pit estavam entre os ponteiros. No entanto, a surpresa maior foi ver ninguém menos que… Antônio Giovinazzi na ponta! O italiano da Alfa Romeo foi o primeiro do seu país a liderar uma prova desde 2009, quando Giancarlo Fisichella o fez quando piloto da Force Índia. Restou um pontinho de consolação com o décimo lugar, mas valeu o passeio para quem precisa mostrar serviço para não ficar a pé.


DO BAÚ:
A ultima Alfa na liderança de um GP

No entanto, mais impressionante do que Giovinazzi na ponta foi ver a Alfa Romeo liderando uma corrida. É claro que não é uma Alfa 100% Alfa já que o engenho do carro deste ano é puro Ferrari, mas não deixa de ser um marco para o time que voltou a investir na F1 buscando as velhas glórias do tempo que fora a primeira campeã do mundo.

De Cesaris lidera as primeiras voltas na volta de Spa à F1, em 1983. Era a última vez que um Alfa Romeo ponteava uma corrida e foi assim por 20 voltas naquele GP (Reprodução)

E você faz ideia de quando foi a última vez que um Alfa ponteou uma corrida? Distantes 36 longos anos! Foi no GP da Bélgica de 1983, nas mãos do louco Andrea De Cesaris, que partiu como um foguete da terceira posição do grid para a ponta logo na largada. Ele resistiu na ponta até a volta 20, quando uma parada desastrosa no box lhe tirou todas as possibilidades. Ele abandonaria na volta 25 com problemas de injeção do V8 turbo de Turim.

Era a terceira temporada de De Cesaris pela Alfa. O italiano estreara na F1 pela equipe de Turim em 1980 como um dos substitutos de Patrick Depailler, morto no meio da temporada. Em 1982 chegou a fazer uma pole em Long Beach e liderava com tranquilidade quando se acidentou (como era de praxe). Na Bélgica, De Cesaris costumava se sair bem, teve um terceiro lugar em 1987, com a Brabham, e passou perto de um pódio com a Jordan, em 1991, mas acabou abandonando com um raro problema no motor Ford do seu carro.

Era a terceira temporada de De Cesaris pela Alfa, equipe que estreou na F1 em 1980 e que obtera o seu melhor resultado: uma pole no GP de Long Beach, em 1982. Na corrida de Spa, em 1983 (foto), liderou por 20 voltas e acabou abandonando com problemas no motor (Reprodução)

Depois de um pouco de história, fica o convite para o próximo encontro da categoria em 2019: o complexo olímpico de Sochi, para o GP da Rússia que, esperamos, traga surpresas, a julgar o marasmo russo dos últimos anos…

Até lá, amigos!

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