Não vou mentir a qualquer um que leia estas linhas sobre a última feliz temporada do país na F1, mas muito do que conheci sobre a categoria antes de me conhecer por gente foi bem depois. Por exemplo: as imagens do que vivemos em 1991 só fui ver, pela primeira vez de fato, já nos dias que Senna estava a sete palmos do chão, três anos depois.
E como tudo que se há para descobrir nesse interim, 1991 foi uma daquelas temporadas que fascinavam a cada reportagem lida e imagem vista. Aquele hiato de carros de corrida ainda desconhecidos foi sendo preenchido na cuca, inclusive nomes lembrados em uma equipe e ocupando assentos em outras pouco cotadas, como o caso de Nelson Piquet, ainda mandando lenha em dois anos na Benetton.
Sempre tive um lado mais Piquet do que Senna, embora as patacoadas atuais do tricampeão sobre o distinto mandatário deste país me fizeram abaixar um pouco o tom e focar mais no que ele fez em pista do que ele é como pessoa (embora previsível, como empresário que é).
Mas de 1991, um dos pontos que poucos lembram é que, igualmente como hoje recordamos felizes os 40 anos do primeiro de seus três tentos, também lembramos que foi a três décadas atrás que ele dava suas últimas braçadas na pista. Era sua segunda temporada de renascimento pelo time da marca de camisas. Em 1990, ela tinha significado um turning point de uma carreira descendente depois de dois anos dando murro em ponta de faca na caída Lotus.
Só que o renascimento de 1990, que lhe permitiu bisar o terceiro lugar do campeonato, se foi há tempo. O B191 parecia mesmo ter chegado ao limite do limite, bem como a paciência do tricampeão. E cá para nós, três pódios (contando a vitória derradeira, no Canadá) e os 26,5 pontos do ano eram bem pouco para uma equipe que beirou a estagnação durante o ano. Isto sem contar a demissão polêmica do amigão de infância de Nelson, Roberto “baixo” Moreno, que deu lugar a um ascendente Michael Schumacher, o então novo líder da turma amarela e verde.
Assim, ao chegar na encharcada Adelaide, mesmo sem dar pistas do que ia aprontar em 1992, Nelson vivia seus últimos momentos num grid de F1. O quarto lugar no dilúvio, rodando e tudo, foi um prêmio de consolação discreto para quem lembrava que, há 10 anos atrás, estava com uma coroa de louros na cabeça e berrando fundo para extravasar uma temporada puxada, equilibrada e vitoriosa.
Era uma saída pela porta dos fundos, discreta e sem foguetes, como foi a maioria de suas passagens. Uma página de 30 anos atrás que nos faz lembrar de dias com cinco títulos brasileiros na pista, mas que significavam, pelo alto, o fim de uma era de F1 em moda.
O resto, é história.