Depois da manchete, este tal desconhecido Carlos Roberto de Oliveira perdeu seu nome de batismo e papel passado.
Foi um tento de fora da área, diante da difícil zaga do colorado de Porto Alegre, que a primeira explosão aconteceu. Era 1971.
Quatro anos depois, o narrador da TV contava os segundos para mais um tiro. Cena de filme: ao bradar “fogo, Roberto!”, foi caixa! O popular “petardo” inapelável no ângulo esquerdo de Renato. Mais uma vitória no bolso contra os urubus.
Eram tempos de futebol renhido, esquadrões impiedosos, times com um ou dois grandes seres legendários trocando bola entre eles. Um líder no campo era como ter um completo capitão na nau de cada peleja.
Vascaíno, teoricamente, não joga bola. Enfrenta várias guerras, toma tiro mas atira igual e não se entrega. E, se possível, usa Dinamite pra estourar as defesas e chegar com a bala do canhão de pés atirada sem dó dentro do filó.
Exemplo disso? Menos de 15 segundos pra fechar o jogo e o Botafogo não facilitava. Foi num cruzamento desajeitado de Zanata encontra o Dinamite a postos. Livra um magistralmente, prepara o canhão, Wendell não viu ou fingiu que viu.. caixa! Estamos salvos.
Em vezes, um dia desses de batalha campal parecia um passeio no parque. Que diga a turma de Itaquera que parecia não ter jogado contra um time mas com um homem apenas. Uma saraivada de um só contra 11, 5 pra conta de vida, mas um bicho gordo no fim da noite.
Meu avô, entre urubus a espreita, era o único valente que empunhava uma cruz-de-malta na família. Provavelmente, viu algumas e outras tantas histórias que o Dinamite atrevido fazia em campo. Adorava futebol no fim de semana pela TV, e a euforia aumentava quando era o gigante em campo.
Quando chegou a minha vez de escolher o lado, contrariei as estatísticas, passei longe do rubro-negro, vesti a mesma cruz-de-malta que ele usava e herdei uma velha toalha de banho. Nela, impressa, a caricatura do garoto-dinamite, quase como uma estátua lembrando quem era o cara que deixou um pouco dele em cada vascaíno.
E cada vascaíno tem um pouco de Dinamite: agarra-se na sua cruz no peito e chora quando a derrota vem, mas grita e abre um sorriso sem tamanho nem fim quando o gol sai, em meio a lágrimas de alegria, palavrões descontrolados e exaltação ao clube da colina.
O garoto fazia a mesmíssima coisa, de bocão aberto, gritando alto, braços abertos, o misto de alegria ou alivio pelo tento suado, e quantos foram…
E o garoto sabia dos limites entre amizade e rivalidade. Comentava com o irmão Douglas Sardo sobre um vídeo do Museu da Pelada mostrando um encontro que esquenta corações sedentos de história: o garoto encontra o Deus da Raça, num abraço amigo, um beijo no rosto e aquelas risadas largas de momentos dentro do gramado.
Rivalidade? O garoto a lia bem, mas estendia a mão aos que dividiram bola com eles quando o momento era de confraternizar ou despedir do campo de batalhas dominicais.
Você, amigo rubro-negro, imaginaria ver Zico e Junior envergando a cruz-de-malta? Pois sim, aconteceu…
O garoto, um senhor, um presidente de clube, um cidadão que incorporou o time a qual dedicou 99% da vida profissional nas quatro linhas. Ídolo, artilheiro maior nacional, exemplo para continuadores da obra – vascaínos ou rivais – o Dinamite explodiu e continua explodindo no coração do amante do futebol, cruzmaltino ou não.
A reverencia ao dono das chaves de São Januário. Que seja um bom ano para o Vasco, com a cara de um Dinamite explodindo em campo.
Valeu, Roberto!