Você anda bebendo vinho ultimamente?
Que gosto que ele tem? De uva? Ah, não diga!
Os taninos, o aroma, o bouquet, como lhe parecem? Agradáveis?
Enquanto eu falava isso, você esvaziava a última taça, imerso no prazer que ele lhe trouxe por momento.
Que delícia! Realmente, entender de vinhos é algo magnífico! Sabe escolher o bom rótulo, o tipo de uva, se ele lhe agrada como tinto, branco, seco ou rosé; até mesmo o Paulo Alexandre tem sua preferencia, o tal “vinho verde que é do meu Portugal”.
Eu nunca entendi bulhufas de vinho. Essas coisas de comprar por tipo, aroma frutado, tanino, eu admito que não dou um níquel para tanto. E, talvez um dia, eu revisite este escrito mordendo a minha língua depois de tudo que disse.
Não entendo de vinho, entendo de gente. Não sou político, sou um jornalista, e antes de ser jornalista, sou ser humano, como qualquer outro que tem garantidos seus direitos como ser humano segundo a declaração dos direitos humanos da ONU.
O vinho, elemento parte do rito cristão da eucaristia, não deveria ser colhido por mãos martirizadas e segregadas nos parreirais da escravidão. A elite que faz suas caretas e trejeitos ao manipular taças não sabia, e por tempos alimentou este parreiral com a mesma indiferença com que se faz de cega a atrocidade.
Você, cristão cidadão de bem que toma um dos três rótulos envolvidos nesse mar de lama, você sabia disso? Não, não sabia que eu sei. Você é mais um que põe a culpa no “assistencialismo” para justificar o injustificável. Uma pútrida, nefasta, ignorante e bestial figura que prefere mais um gole a olhar pra fora de sua gaiola de ouro.
E sim, para as vinícolas dentro desta ciranda, o “assistencialismo” foi o culpado de tudo. Os “criadores de vagabundos”, como adoram vociferar cuspindo vinho no seu perdigoto, só não era assim no tempo que lhe convinha.
O reflexo? Na fala de um vereador, o homem de bem público, cidadão correto e honesto que bebe o mesmo vinho que vem destas máquinas de desumanidade travestidas de vinícolas.
A vindima não vai ser mais a mesma, não mesmo! Você vai saber se o seu vinho não tem mãos calejadas, maltratadas e segregadas de um parreiral destes? Só se, realmente, você é da turma que se preocupa alucinantemente com o seu nariz e sua próxima garrafa de vinho.
É mais um retrato do pútrido cenário elitista e xenófobo do sul, o pior deles. E que a justiça seja feita, se é que ela existe entre as taças de vinho
Nessas horas, até a inocência de um Sangue de Boi é mais correta do que a nobreza falsa destes moedores de gente em suas orgias de Baco.
Chega! Justiça seja feita, e que esse vinho que trazes contigo vindo de lá te dê uma dor de barriga.
Sem mais.