Som n’A BOINA #50: Levando a Vida (Milionário & José Rico)

Sim! Você não leu errado e, aqui no SnaB, a gente se permite a ser flexivel em nossas viagens musicais, passando até pelo gosto mais pessoal deste escriba, que escolheu um bolero com cara de modão para dar seu “zum” num dia como este.

Por estes dias, meu querido irmão em amizade e som Léo Vieira fez questão de lembrar dos oito anos da perda de uma das vozes populares mais marcantes de nossa música: pernambucano da pacata São José do Belmonte, o extravagante José Alves dos Santos talvez o fosse apenas no ostensivo uso do ouro em seus acessórios, mas na voz não havia exageros, era na medida da eloquência de sua vontade de militar pela música vinda das veredas do campo.

Este era o José Rico, que ganhou o “Rico” graças a sua vivência de infância na pequenina Terra Rica, no Paraná. Ele trombou com o cidadão Romeu Januário de Matos durante o período das vacas magras, quando o cantor foi acolhido por ele em seu casebre no Jaçanã. Era dali que essa trajetória enorme, que reverbera até hoje, teve um começo.

Mas, aqui não cabe a gente revisitar por completo a biografia dos dois. Talvez o amigo seria desrespeitoso comigo se dissesse que, numa efeméride como esta dos 50 posts do SnaB, merecia-se um som “melhor”. E seria deselegante mesmo, pois de histórias é que vivemos entre todos estes parâmetros que apuramos por aqui.

E quem nós seriamos se colocássemos José Rico numa “vala comum” deste sertanejo atual perdido entre as baladas e as bebedeiras+farras? A potência vocal do garganta de ouro, combinada com a precisão em coro de Milionário, foram uma espécie de grito que praticamente tirou o sertanejo de uma certa “clandestinidade” musical. da relegação ao caipirismo aos grandes shows em massa.

Poderia ficar por momento aqui destacando sons dos gargantas de ouro, mas neste caso, meu ouvido para nesta faixa, título do disco de 1987, o 16° da dupla e um dos primeiros trabalhos gravados desde a inusitada viagem para a China, um ano antes. E bem na contramão do que talvez selecionaria como óbvio, “Levando a Vida” é um bolero, não o único gravado por eles, mas algo raro num repertório recheado de guarânias, rancheiras e temas em melodia mais normal.

Alias, “Levando a Vida” é quase um hino de vida meu. Talvez não caberia para tanto por ser algo quase que espelho da construção natural de uma família, mas se é o que mentalizo como um amor sólido para vida, dentro dos preceitos modernos e livres do machismo e misoginia atuais, por que não dizer isto? Além de ser uma melodia alegre, que não traz o peso de uma sofrência, de uma desilusão, quase uma resenha de vida na mesa de bar.

Enfim, falei demais. Que venham mais 50, 100 revisites musicais, de todas as formas e estilos, e com o “zum” de cada momento desta vida pautada por notas melódicas, letras e momentos. Enquanto isso, Léo nos conta do som e o velho José Rico dá o seu “zum”, naquela resenha do fim da noite com sua chefe.

E, daqui, vamos levando a vida…

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