Uma canção icônica ou que está em alta nas paradas sempre roda com méritos nas frequências de grandes emissoras de rádio pelo mundo. Mesmo com os inovadores sites de streaming e divulgação do trabalho virtual, o ciclo comercial de um artista obrigatoriamente passa ainda pelas ondas das rádios, seja elas transmitidas pela internet ou pelos aparelhos radiofônicos que estão a nossa volta, no carro, em casa, no trabalho, onde for.
Estas músicas estão rolando pelas ondas de rádios em todo o mundo. Estarão ainda por algum tempo e, futuramente, poderão ser parte de um flashback destes tempos. No entanto, cabe uma curiosidade, muitos desses sons acabam mexendo com a curiosidade de quem os ouve, prendendo a audiência e quase que obrigando a sagrada pergunta à emissora: “que musica é aquela que tocou no tal horário?”
É o jogo das atuais emissoras de rádio de programação automática, que não tem locutores ao vivo e que, por charme, raramente ou nunca divulgam o nome das músicas que rodam. Truque para segurar audiência que acontece em emissoras de todo o mundo e, no Brasil, não é diferente. Esta forma de apresentar canções ao público ocultando o nome dos interpretes já vem desde os anos 70, quando a pioneira Eldorado FM Stereo (Eldopop para os saudosos), deixava os cariocas alucinados com a programação musical que sumia com o nome dos autores.
Na Eldopop – Um charme com bom argumento
A emissora, nascida do Sistema Globo de Rádio em 1971, foi uma das primeiras a transmitir no país em Frequência Modulada, ou FM. Som puro, sem chiados, pouca interferência e só musica boa. A programação da Eldopop era totalmente voltada ao Rock, especialmente o progressivo. Fruto da biblioteca e das loucas ideias do saudoso Newton Alvarenga Duarte, o Big Boy, que dava mais um passo na sua revolução cultural nas ondas do rádio, iniciado pelas ondas da Radio Mundial no fim dos anos 60.
Mas o charme da rádio não era só a programação fabulosa, recheada de clássicos do experimentalismo musical e de bandas como Kraftwerk, Deep Purple e outros tantos, Numa geração acostumada a ouvir o nome dos interpretes ao início ou fim de cada música, a Eldopop resolveu se calar entre uma música e outra. A exceção das entrevistas e de programas especiais, a emissora não dava o nome das músicas. Nem mesmo para quem ligava para a estação recebia o nome de tal faixa rodada na programação. E não adiantava espernear!
Se lhe soa uma grosseria, saiba que este recurso tem fundamento e um bom fundamento: Ele estimula a pesquisa entre os apreciadores de música, sem contar que, naquele tempo, era um incentivo comercial tremendo. Não tinha quem não corresse a uma loja de discos para garimpar preciosidades quase ocultas nas prateleiras. Isto fora que o recurso cria um público cativo, fiel, que não deixa de ouvir a emissora na expectativa de voltar a escutar as canções favoritas.
Hoje, a procura em lojas de disco deu lugar as procuras na internet e as musicas sem nome não passam incólumes a aplicativos como o Shazam. Quase 90% das músicas que você procura através do aplicativo são encontradas. Um miráculo, mas é nada além de mais uma ferramenta para esta procura. No entanto, antigamente, era na base da curiosidade mesmo que você corria atrás da música preferida que você não sabia o nome. E este escriba pode dizer isso de boca cheia. afinal cansei de mandar e-mails e telefonar para outra adepta deste charme: A Antena1.
O melhor do mundo no seu rádio
Depois de rodear explicando a origem desta prática de ocultar nome de cantor e música no Brasil, agora sim vamos contar um pouco desta emissora que mora na lembrança de muita gente. Criada em São Paulo em setembro de 1975, a emissora investiu numa programação totalmente própria, uma inovação para a época, e trouxe ao dial paulistano sucessos do Pop/Rock jovem que encantavam os ouvintes e a tornaram, num curto período de tempo, uma das mais ouvidas entre os paulistas.
Ao fim da década de 80, a Antena1 iniciou a construção de uma rede de emissoras, a primeira no FM, e sua programação passou a chegar a vários rincões do pais. Seu público-alvo também mudou com o passar do tempo, acrescendo ao Pop/Rock o som contemporâneo em busca de um ouvinte mais adulto. A programação musical passou a ser intercalada com boletins jornalísticos entre os intervalos, todos eles gravados pelos seus locutores, já que, como outras tantas emissoras neste estilo, não há locutor. A programação do dia roda em ciclo e não é raro que uma musica tocada em um dia toque o mesmo horário no dia seguinte.
A emissora pousou em Blumenau em meados da década de 90, utilizando-se da frequência da Radio União FM – 96.5 – que passava ao status de estação integrante da cadeia de rádios. Era uma alternativa soft entre o Pop/Rock juvenil da Atlântida e o popularesco da Menina FM e arrebanhou uma ótima audiência no Vale e região. Em consultórios médicos, escritórios, carros em pleno trânsito e bairros sofisticados era a estação favorita de muita gente. Hoje, esta lacuna neste segmento radiofônico é preenchida na cidade pela 90FM Lite Hits, emissora do grupo A Força do Rádio (que inclui as rádios Nereu Ramos e Clube de Blumenau) e que segue os mesmos moldes de programação da Antena1.
Mesmo tendo deixado a cidade-jardim há alguns anos, a Antena1 ainda pode ser ouvida via internet, e quem procura um som de qualidade não pestaneja ao correr para o site da emissora, que hoje dispõe de todas as bossas para satisfazer o bom ouvinte. Fora as playlists com as 10 mais nas paradas de vários países ou entre estilos musicais, a emissora entrega também nome de música e do intérprete. Coisa que não fazia no ar há muito tempo. A transmissão via satélite inclui até as informações da faixa, o que permite que quem ouve a emissora por meio digital possa ter também o nome da música e do cantor em tempo real.
Perguntar não custa nada
Mas deixemos as modernidades de lado. Como disse lá no começo deste SnaB, o que mais chamava a atenção eram as canções que ouvíamos, nos encantávamos e não sabíamos quem cantava ou qual era o nome da faixa. No entanto, diferente da Eldopop, a Antena1 ainda facilitava para os ouvintes e entregava estes dados a quem ligasse ou mandasse e-mail. Recordo da primeira canção que perguntei a eles sobre o nome e o intérprete: Era Little Jeannie, de autoria do super Elton John, e que numa bela manhã rodou na programação, pegando este escriba de surpresa depois de procura-la por tanto tempo.
Na mesma ligação, as funcionárias da emissora me contaram que eu não era o único a fazê-lo e recomendaram-me que, na eventualidade de outras consultas, pudesse mandar e-mail com a hora aproximada que a canção foi ao ar e algumas características da faixa, para facilitar a identificação. E pode parecer loucura, mas a partir de um contato comecei a montar uma playlist de mais de 80 músicas, todas elas garimpadas, direta ou indiretamente, via Antena1.
E é na intenção de provocar aquela nostalgia nos saudosos e de matar a curiosidade de quem se matar para saber o nome de tal musica (talvez por não conhecer o Shazam ainda) que o SnaB de hoje traz uma seleção de 20 músicas que você certamente ouviu na Antena1 (e, por que não, na 90FM, atualmente) e fica se mordendo de curioso para saber o nome da faixa e quem a interpreta.
Sendo assim, história contada, vamos a lista. Divirtam-se porque só tem boa música aqui!
Little Jeannie – Elton John (a primeira que achei via Antena1. Quanto ao cantor, dispensa apresentações)
Ride Like The Wind – Christopher Cross (Baita som do texano das camisas de hóquei)
Believe or Not – Joey Scarbury (Trilha do antigo seriado Super-Herói Americano)
High – Lighthouse Family (uma dupla de barmans que alçou o sucesso com verdadeiras poesias no soul. Esta é uma delas)
What a Woman – Vaya Con Dios (Quem diria! Sucesso oitentista made in Bélgica)
You’re the Sun, You’re The Rain – Lionel Richie (Outro que dispensa apresentações, o ex-líder do Commodores no auge da carreira)
When I See You Again – The Three Degrees (Realmente, o soul era presença constante na Antena1, fora que as garotas que representavam o estilo eram verdadeiros corais)
Kiss On My List – Hall & Oates (clássico da dupla dos anos 80)
Special Lady – Ray, Goodman & Brown (Mais um soul, agora um trio masculino, característico do estilo, com estas combinações de vozes)
He’s So Shy – The Pointer Sisters (Som popular no inicio dos anos 80, quando o mundo estava largando a era Disco)
A Lover’s Holiday – Change (Outro exemplo de som como o da faixa anterior)
Him – Rupert Holmes (grande sucesso deste artista multifunção britânico. Cantor, compositor, escritor e novelista)
All Wanna Do – Sheryl Crow (Dizia eu sempre que mulheres de violão me viram o olho. Sheryl não é exceção, uma agradável canção com notas de country e hip-hop)
I Can Dream About You – Dan Hartman (Um baita som dos anos 80 deste “Ovelha” americano. Nos deixou cedo, morreu em 1994)
Duel – Propaganda (Icônica canção de synthpop – gênero que mistura o sintetizador ao Pop – produzida com o selo alemão de qualidade)
True – Spandau Ballet (Arriscaria dizer que é um clássico dos anos 90, mesmo tendo sido lançada em 1983. Uma das favoritas dos sampleadores)
Lotta Love – Nicollete Larson (outra beldade e talento feminino que navegou entre o Pop e o Country. Nicollete foi uma das grandes vozes americanas dos anos 70. Foi nos tirada muito cedo, em 1997)
Crying in The Rain – A-ha (Magnífica versão dos garotos noruegueses de um clássico do The Everly Brothers. Vale a pena escutar pensando em alguém especial)
If Ever You’re In My Arms Again – Peabo Bryson (perfeita para ouvir a noite. Outro baita som vindo do soul de um intérprete muito conhecido pela Disney, especialmente pelos duetos com Regina Belle (Aladdin) e Celine Dion (A Bela e a Fera))
Stars – Simple Red (um dos tantos sucessos desta banda britânica, presença constante nas paradas dos anos 80 e 90)
Enfim, se você matou a curiosidade, muito bem! Se faltou alguma música, deixe ai nos comentários – no Facebook ou aqui mesmo – ou, se ainda não achou a música que você procura, talvez posso lhe ajudar. Assim como a Antena1 fez a mim há algum tempo atrás…
Um bom fim de semana e até o próximo SnaB!
Grande André!
Baita show de músicas.
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau