Algum fidalgo disse certa feita que se você faz o que gosta, não é mais trabalho, é diversão. E não poderia estar mais certo… Alguns gostam de escrever, como eu, outros gostam de jogar bola e, por isto, são grandes jogadores de futebol ou destes que levantam a poeira nos campos de várzea. Outros são políticos, e muitos deles estão fazendo o que gostam nos roubando a crença num país melhor dia a dia…
Agora, tem quem goste, simplesmente, do ofício simples. Tem quem goste de ser apenas um vendedor de picolés. E que mal há nisso? Por alguns trocados você refresca-se com uma delícia gelada que não tem o mesmo gourmet de uma paleta, mas é tão gostosa e simples quanto.
E neste mundão de Deus, não é preciso ser um gigante para fazer história ou ficar marcado numa comunidade. Tem quem, com a modéstia que lhe é característica, consegue deixar seu vulto impresso na memória de muita gente. Tão bem impresso que, quando se vai para outro lugar, sente-se muito mais que saudade, mas sim uma impressão nostálgica de um personagem de sua infância ou juventude.
Eu, um destes transeuntes que observam a vida rolar no glorioso Reino do Garcia tenho um bom exemplo. Tinha por nome de registro Wilson Seiler, um brasileiro igual a você independente da posição, mas que encontrou na vida felicidade ao cruzar ruas acompanhado de uma caixa de isopor a tiracolo e chamando a todos para comprar os picolés que trazia.
E todo picolezeiro que se preze, tem sua forma de chamar atenção. Alguns usam aquelas flautinhas coloridas, tipicas do litoral do Vale, outros simplesmente passam pela rua esperando a atenção de alguém. Mas o velho Wilson não se vexava. Onde estivesse todos sabiam que ele estava vindo quando, a plenos pulmões, soltava um óia o picole! ouvido claramente a distância.
Pelas histórias resgatadas pelo mestre Adalberto Day, que o conhecia desde os tempos da EIG, Wilson vem de uma família trabalhadora, tradicional do bairro, e escolheu nos picolés o seu motivador pessoal de todo o dia. Gostava de futebol e demonstrava bem o time que era defensor também durante as vezes, ostentando uma camisa um tanto envelhecida do amado Fluminense.
Confesso aos amigos que, o que escrevo é muito mais resultado de observação e contos dos amigos e colegas do bairro, que o conheciam não como Wilson, mas como Mirelo. Todo mundo falava dele, lembrava dele ou já comprou picolé dele. Dele, que eu digo, do Mirelo, embora Wilson detestasse o apelido folclórico, mesmo ele sendo usado até em campanha de seguradora, há pouco tempo.
Colocando em contas frias, são quase (ou mais de) 50 anos vendendo picolé. E engana-se o cidadão que acha que um picolezeiro não tem história e nem amigos neste tempo todo. O que é uma figura famosa ou pública também é um picolezeiro trabalhador e amigo dos desconhecidos, pura e simplesmente. Chuva ou sol, rua a rua, casa a casa, pessoa a pessoa, e tudo isso neste tempo cativando cada um com um simples picolé. Só, nada mais.
E lembra do que falei sobre entrar na história independente da posição onde se está ou do que faz? O picolé o levou a um lugar da memória de muita gente, e isto é entrar na história, queira você pense o contrário ou não. Por este Brasil, alguns dos mais emblemáticos personagens são os simpáticos vendedores de guloseimas que fazem a alegria da criança e a saudade dos adultos. E Mirelo era o nosso figurão das guloseimas, o cara que passou de picolezeiro a ministro da economia do glorioso, magnânimo, invencível… Reino do Garcia.
Mirelo de todos os picolés e gritos, e dos amigos que fez em seis décadas. Orgulhosamente, sorria a cada um por ter conseguido sua aposentadoria. Se fosse parar ou não de vender suas delícias geladas, ninguém sabia, mas na história e na memória de muita gente ele não sairia mais. Mas, do convívio da comunidade, ninguém esperava que ele sairia tão cedo: Foi na tarde de um sábado de sol (28/10), que a maldita imprudência no trânsito fez o simpático picolezeiro como vitima.
Nas ruas, não se houve mas o grito, não se vê mais o sujeito tricolor e sua caixa de isopor com suas delícias geladas ao encontro dos amigos. Mirelo foi, definitivamente, para um canto da memória reservado a aqueles que, honestamente, escrevem uma grande história, grande demais para ficar restrita a uma caixa cheia de picolés. A prova maior de que você se diverte trabalhando, e de que o trabalho que diverte também te permite ser lembrado – e bem lembrado – por ele.
E se você ouvir, lá num vazio de uma rua do Reino, um óia o picolé! perdido na brisa, não se assuste. Foi apenas um flash de sua memória de quem, agora, vai vender picolés em nossas lembranças. É assim, nada mais.
Mirelo,
Grande amigo desde minha infância dos tempos de aula, da rua Emilio Tallmann na época conhecido como Beco Tallmann. De uma família tradicional, trabalhadeira , ordeira, amiga de todos. Todo cidadão de nosso Reino do Garcia e do outro lado também já ouviram falar de Mirelo que se tornou conhecido por cada estudante do bairro principalmente que o admiravam. E Nós que quando crianças convivíamos temos a certeza que ele foi em emblemático,cativante, bondoso, de coração simples e grande e era capaz de dar um picolé se a criança não tinha dinheiro. Não é só de personagens ditas saudáveis e que mitas vezes não condiziam a dignidade do Mirelo que merecem nomes de ruas, isso ou aquilo. Apesar dele não gostar que o chamassem de Mirelo, mas este é o nome que ficará eternamente gravado em nossos corações por muitas gerações, e a este “apelido” carinhoso deve-se colocar o nome dele em algo que fique eternizado seu nome. Pude ainda em vida prestar=lhe ou melhor ele me deu essa oportunidade, de escrever a seu respeito no Jornal o Garcia, Livro Almanaque Bela Vida, Blog e entregar-lhe em mãos.
Ontem 28 de 10 aos 60 anos Mirelo vende seu último picolé e o Reino do Garcia perde uma figura espetacular que deu exemplo a todos nós pela luta de seu trabalho.
Vá com DEUS e siga em paz para a eternidade!
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.
Mirelo !!!
Não tive o privilégio de tê-lo conhecido … Mas as manifestações de carinho e amor que recebes, são a prova sublime de que fostes um grande homem, amado por muitos … Fama, dinheiro e pompa, não chegam a um fio de cabelo, de quanto vale um ser humano de verdade … Descanse em paz, grande homem … Receba aqui, o abraço e o carinho, de mais um fã que conquistastes, mesmo sem conhece-lo … Descanse em paz !!!
Murilo o meu grande picolezeiro já mais será esquecido por minha família ,adorava as crianças sempre dizia são anjos que sempre estão do nosso lado .a falta e imensurável a dor de não ouvir mais ele ,vai passar mais nunca será esquecido .fica nos braços do senhor descanse em paz .pois vc deu a volta ao mundo andando não importando sol ou chuva .sempre disse e repito se alguém fosse contar o quanto ele andou .eu digo que ele deu a volta ao mundo andando….