FRANCIELE BACK: A força do centrão

Esquerda, direita, centro isso e daquilo. Essas são algumas denominações para identificar ideologias dos partidos ou entender que existem alguns que não possuem sequer uma. Agora, provavelmente você já deve ter ouvido falar do ‘Centrão’, não é?

Quando se ouve falar do ‘Centrão’ na política a palavra corrupção já vem na cabeça de muitas pessoas. Os sinônimos como sujeira, roubalheira ou negociata também aparecem como uma forma explicativa para traduzir esse termo.

O termo foi usado pela primeira vez para identificar os parlamentares que formavam a maioria na Assembleia Constituinte, que tinha como objetivo moldar a constituição de 1988. De uns anos pra cá esse nome voltou ao foco, mas agora com um significado bem diferente.

Em 2014, o nome voltou a ganhar protagonismo na mídia quando o então deputado federal Eduardo Cunha (MDB-RJ), foi candidato à presidente da câmara. Os deputados do MDB, PP, PTB, PR e Solidariedade, por exemplo, atuaram para elegê-lo. Após o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), o ‘Centrão’ ganhou ainda mais corpo.

Bloco informal

O ‘Centrão’ é um bloco informal, que não está oficialmente registrado na Câmara dos Deputados. Por isso, não se sabe um número exato de quantos políticos compõe essa união, mas a estimativa é de que aproximadamente 170 a 220 parlamentares de diferentes siglas aderiram ao bloco e, por este motivo, eles tem grande influência nas votações que acontecem no Congresso Nacional.

Há quem entenda que o ‘Centrão’ é composto por parlamentares que desejam apenas conciliar os lados, tanto a esquerda, quanto a direita e que buscam a harmonia entre os poderes. Outros dizem que é um bloco de partidos políticos que negociam votos em troca de cargos e emendas parlamentares e que não tem nenhuma preocupação com a população brasileira, apenas se unem e se encorpam para defender interesses próprios.

Em algumas entrevistas o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), diz que o grupo é “uma grande maioria de parlamentares, de diversos partidos, que convergem em ideias centrais”, mas que são um centro agregador de convergências políticas.

A verdade é que o ‘Centrão’ está aí e arrisco a dizer que ele tem também a responsabilidade de garantir a governabilidade do Executivo Federal, principalmente a de promover reformas impopulares, mesmo que pra isso eles precisem negociar ou garimpar cargos da Administração.

(Reprodução)

Toma-lá-dá-cá atual

Nas últimas semanas, por conta da aproximação com o governo de Jair Bolsonaro o ‘Centrão’ voltou aos holofotes. Sem uma base formal no Congresso, Bolsonaro teve que negociar com o bloco em troca de apoio para aprovação de projetos e para diminuir as ameaças de um processo de impeachment.

Recentemente um vídeo do presidente dizendo que “sempre foi centrão” começou a circular na mídia. Muito diferente das falas dele durante a campanha eleitoral, onde ele dizia que não faria a política do “toma-lá-dá-cá” e que isso era visto como a “velha política” da qual não fazia parte.

A verdade é que Bolsonaro sempre soube que é preciso dialogar com o Congresso. Ele esteve lá por muitos anos e teve tempo de sobra para aprender e ensinar os filhos. Faltou articulação. Agora, o balaio dos gatos está cheio e, pior, virado. O ‘Centrão’ virou uma doença na política brasileira.

O que, na história da redemocratização, parecia ter peso a favor do povo, hoje, é pautado por decisões individuais, interesses próprios e negociações. Afinal, é mesmo inevitável estar longe do ‘Centrão’? 🌻🌻

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