Mulher: contra a pequenez do “gostosa”

“Gostosa”…

Talvez minha terapeuta nunca entenda isto, talvez tantos amigos nunca entendam isto, mas comigo nunca colou cair nesta pequenez. Sob minha ótica, esta expressão direcionada ao corpo feminino soa-me vulgar, nefasta, tão diminuta e ofensiva quanto.

Há quem discorde, quem me diga que “tem hora para usa-la” mas ainda hoje minha língua trava para tanto, não se arrisca a dizer além dos elogios padrão a beleza da mulher. “Gostosa” é uma redução tão covarde e rasa, tamanha audácia de homens como eu que não se pode conceber que o conceito de uma bela mulher se resuma a ela.

O “gostosa” pipoca em nosso meio: musicas, conversas corriqueiras, olhares atrevidos. Por que desta teimosa obsessão de ver a mulher apenas como um mero e descartável pedaço de carne? Ainda somos machistas viscerais e tampouco reconhecemos, damos de ombros aos tempos de reavaliações, passa-se reto diante das necessárias discussões sobre o papel feminino que vai além da pele e do prazer.

A mulher, muito mais do que o “reboco” que tanto fala-se, é um ser de força e garra tão grandes que impossível fica de se medir ante as barreiras impostas pela constante falácia da incapacidade propalada pela incapacitancia do homem atual (e de sempre). Tantos espaços já ocupados, outros ainda em conquista e tantos de meus pares a colocando, simplesmente, como um ser frágil e de pura serventia para fantasias e libido que cobram por “estar pronto” a todo tempo.

Basta! Eu não engulo a pequenez que a cerca como um nada. A mulher é consciente do seu espaço ilimitado no mundo e a ela cabem todos os lugares, desafios e conquistas que elas tem a buscar nesta trajetória. De todas as formas, pensamentos, origens e escolhas, elas são muito além do que a casca externa. Entre os braços, os músculos que levantam peso e gesticulam, as pernas que a levam daqui ao infinito, a boca que não se cala diante a nefastidão que ainda a cerca em crimes, violência e mortes.

E quanto a nós, camaradas? Aos que ainda tem a sanidade de pensar como eu, cabe sempre a reflexão e o compreender que estamos diante de seres que transcendem a pura expressão da beleza física, mas o fascinante pensamento de desafiar, lutar e vencer. E os que a diminuem para o próprio prazer, que sejam solenemente ignorados pelo silêncio que diz muito, sobre as ignorâncias que ainda são insistência em dizer e cometer sob a égide crua do machismo.

Não se deem “parabéns” ou flores em um dia apenas. Que se dê respeito, igualdade, empoderamento, força e coragem, em 365 dias e contando, sobretudo aquela lá que você aponta o dedo, tacha de “gostosa” e mal sabe: é a mulher, que está onde ela quer e quiser.

Vão!

Deixe uma resposta