O majestoso
A definição guardada em uma palavra apenas no texto de Morgana Holetz Aguiar, publicado pelo pesquisador Adalberto Day resume perfeitamente o que simbolizada a belíssima construção que tinha lugar na esquina famosa da Alameda com a Rua XV. Nela, por quase 60 anos, esteve instalada umas das mais belas construções de Blumenau, bem como um dos estabelecimentos comerciais mais populares do tempo de ouro de nossa cidade. Famoso pelo bom atendimento, pelas histórias e inovações que trouxera, este era o Hotel Holetz, cuja história dele e do sucessor – o Grande Hotel – passamos agora a rememorar.
Tudo, na verdade, começou bem antes do magnífico prédio que marcou época. Em 1854, quatro anos depois da fundação de Blumenau, chegava a pacata colônia o imigrante Moritz Holetz, que começou a oferecer naquela região serviço de hospedagem aos viajantes que passavam pela vila. A família prosperou na hotelaria, ainda primitiva na época, mas constantemente evoluindo. Do pequeno casebre onde funcionava a hospedaria, começou a brotar o hotel, que seria aberto ao funcionamento em 1 de setembro de 1902.
O prédio, de linhas clássicas e imponente, tinha frente para a Rua XV e era uma das marcas da cidade de Blumenau por muitos anos, sendo filmado várias vezes em um antigo filme sobre o centenário da cidade, em 1950. A satisfação dos hospedes era garantida, assim como o deslumbre das pessoas que contemplavam a bela construção.
Além disto, o Holetz tinha uma localização estratégica, ficava bem próximo ao antigo porto da cidade, nas imediações da Praça Hercílio Luz (Biergarten) e do Clube Náutico América, onde muitos viajantes e comerciantes desembarcavam e aproveitaram uma parada no hotel para hospedar-se ou até fazer refeições. A publicidade também ajudava – e muito – na boa imagem do hotel, muitas vezes sendo referido, como o próprio Beto Day assinalou, como majestoso. E não era para menos.
De salão a sala de cinema – O Cine Busch
Ao lado do hotel, havia também o Salão Holetz, que virou palco das primeiras e tantas exibições cinematográficas que movimentavam a cidade, especialmente nos fins de semana. E isto muito antes de muita cidade grande neste estado e no país. Em 1907, o salão passa as mãos do empresário e idealista nato Frederico Guilherme Busch Sr., que instala ali, oficialmente em 1919, o cinema que levava o nome da família e, igualmente, marcaria história: O Cine Busch.
O lugar passa a ser um verdadeiro point da cidade, convidando os blumenauenses a assistir as projeções de películas, na grande maioria, produzidas na Europa. Na década de 30, o cinema muda de lugar, ocupando provisoriamente o antigo salão do Clube Náutico América. No seu lugar, um novo prédio brotaria, mais moderno e espaçoso para um publico que cada vez mais aumentava. A inauguração foi em 29 de junho de 1940, com o filme Allianz – Adolescência de Uma Rainha. A sala passou a ter 740 poltronas, além de um balcão com mais 440 lugares.
A majestade e classicismo do Cine Busch foram irretocáveis até o dia derradeiro, em 1993, quando o cinema de rua mais antigo da cidade sucumbiu as dificuldades e a competitividade com o jovem VHS e veio a fechar as portas para sempre, permanecendo apenas no imaginário de uma cidade nostálgica. Certamente, num futuro próximo, A BOINA vai contar muito mais sobre o velho Cine Busch. Aguardem!
Desaparece o Holetz, levanta-se o Grande Hotel
Os anos passaram, o Holetz continuava sólido no mesmo lugar, parecendo um gigante imbatível. Mas os tempos mudaram, a concorrência também e muita coisa ia fazendo o jeito de trabalhar com hotelaria se modificar. O Hotel Rex, inaugurado em 1950 como um presente pelo centenário, impôs uma dura competição ao velho hotel. Além disto, outros fatores prováveis, como escassez de recursos e investimentos na estrutura e modernização para atender a um público ainda mais exigente e um certo desinteresse em tocar o negócio foram complicando ainda mais a situação.
Sem rumos a tomar, a estrutura foi impiedosamente colocada abaixo em 1959, para iniciarem as obras de outra estrutura tão majestosa quanto a original, apesar de mais fria nas linhas. Tres anos depois, em 1962, imperaria na mesma esquina o Grande Hotel Blumenau, um marco da engenharia da cidade, que colocava o prédio como o mais alto do estado por alguns anos. A estrutura ainda abrigava no mesmo lugar a sede blumenauense do antigo Banco Inco (hoje, Bradesco) e a clássica Confeitaria Aquarium, um dos tantos sinônimos de doces finos na cidade.
Nos 11 andares do Grande Hotel, distribuíam-se 88 quartos, sendo 12 deles suítes de luxo. Haviam ainda um completo restaurante e um moderno centro de convenções com três auditórios, responsáveis por colocar a cidade na rota de vários congressos, simpósios e encontros de caráter nacional. O herdeiro da história do Holetz parecia estar cumprindo o papel com louvor, e estava mesmo. Era um dos mais concorridos hotéis da cidade, fazendo frente em igualdade de condições com o Rex, o Himmelblau, o Gloria e o Baviera, entre outros.
O gigante desaparece e decai, a história fica
Mas, assim como o Holetz, a majestade do Grande Hotel também teria um fim melancólico. Envolto em uma dívida de R$ 20 milhões, o tradicional ponto acabou tendo a falência decretada pela justiça em novembro de 2014, depois de não pagar nem parte da dívida. Sequentes reclamações e a falta de outra fonte de incremento da receita acabaram por minar de vez o agora velho hotel. A Confeitaria Aquarium, fechada há alguns anos, tinha dado lugar ao luxuoso Restaurante The Grove, que também sucumbiu aos problemas financeiros alguns anos antes.
O desaparecimento do Grande Hotel Blumenau foi um baque sem precedentes para a industria hoteleria da cidade-jardim. Isto porque um ano antes o município perdia também o tradicional Viena Park Hotel, no Garcia, também envolto em uma divida gigantesca. Mas, ao contrario do Viena, que voltou há algum tempo as funções de hotel , o Grande Hotel permanece sob administração judicial dos bens pelo advogado André Jenichen e o último leilão acabou num festival de confusões sobre a origem do comprador. Decadente, pichado e lar de andarilhos e usuários de drogas, o fim do Grande Hotel parece ainda durar por muitos anos sem previsão de melhora.
O mesmo diz respeito também ao antigo prédio do Cine Busch, onde chegou-se a ser feito planos para uma abertura de um centro de convenções por parte dos administradores do Moinho do Vale há alguns anos. Felizmente, a imponente estrutura da Alameda Rio Branco teve um novo destino: é um polo do sistema COC de ensino e ainda passa por melhorias para a nova função.
Dois pontos da cidade-jardim que muita história guardaram e ainda guardam, especialmente para aqueles que lembram bem de um tempo distante. Tempo de classicismo e diversões. De um cinema badalado e de um simpático hotel que primeiro foi o identificador de Blumenau pra o estado e para o país. O majestoso Holetz, assim como o imponente Grande Hotel, caíram. A história, não. E fica a torcida para que, ao menos desta vez, elas tenham um final feliz.
André, simplesmente fantástico!
Cada dia o amigo se torna um pesquisador e memorialista de nossa Blumenau. Seu trabalho de pesquisa é notável.
O Hotel Holetz se conservado e existisse no local, seria o edifício mais notável e mais fotografado de Blumenau. De 1902 até março de 1959 o Hotel Holetz foi imponente, era o cartão postal de nossa cidade. Chegou o “Progresso” e como não existia uma forte campanha de tombamentos na cidade, o Hotel Holettz veio abaixo em março de 1959, dando lugar ao Grande Hotel inaugurado em 16 de dezembro de 1962, que hoje se encontra em situação deplorável, Mas o Grande Hotel representou também o maior empreendimento hoteleiro do estado de SC. Eu era “pia” mas acompanhei todo processo de construção do Grande Hotel.
Como diz o amigo Zé Pfau.
Em 1962 quando foi inaugurado. Embora “destruímos” uma edificação maravilhosa, a cidade nos anos 60 – o nosso Banco Inco – fez o Grande Hotel Blumenau – que foi no seu lançamento uma referencia internacional em Hotelaria (José Geraldo Reis Pfau).
Adalberto Day cientista social e pesquisador da história em Blumenau.
Incrível! Recebi umas fotos que meu avô queria descartar e no meio encontrei duas fotografias que retratam vários homens em frente a uma casa mais simples, diferente das fotos do hotel com uma placa singela onde está escrito Hotel Holetz também, fiquei curiosa pra saber se trata-se do mesmo hotel mas em um começo talvez, se do interesse posso enviar essas fotos, parabéns pela matéria